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/ À vistaAlencastro demonstra que a colonização portuguesa criou um espaço econômico e social constituído por uma zona de produção escravista, no litoral americano, e uma zona de reprodução de escravos, centrada em Angola. Esse sistema bipolar ainda marca profundamente o Brasil contemporâneo.
Alencastro demonstra que a colonização portuguesa criou um espaço econômico e social constituído por uma zona de produção escravista, no litoral americano, e uma zona de reprodução de escravos, centrada em Angola. Esse sistema bipolar ainda marca profundamente o Brasil contemporâneo.
O padre Antônio Vieira escrevia: "Angola... de cujo triste sangue, negras e infelizes almas se nutre, anima, sustenta, serve e conserva o Brasil". Em O trato dos viventes, o historiador Luiz Felipe de Alencastro mostra que a colonização portuguesa, baseada no escravismo, deu lugar a um espaço econômico e social bipolar, englobando uma zona de produção escravista situada no litoral da América do Sul e uma zona de reprodução de escravos centrada em Angola. Surge então um espaço aterritorial, um arquipélago lusófono composto dos enclaves da América portuguesa e das feitorias de Angola. O autor mostra como essas duas partes unidas pelo oceano se completam num só sistema de exploração colonial cuja singularidade ainda marca profundamente o Brasil contemporâneo.
O Brasil colonial tem sido estudado da mesma maneira que a lua era observada antes dos vôos espaciais: do lado que reflete o sol, do lado de Portugal, da Europa. O trato dos viventes incorpora os eventos transcorridos em Angola à narrativa dos eventos brasileiros - é como descobrir o lado escondido da lua, a metade oculta da história do Brasil.