Como ficaria o cancioneiro de Chico Buarque visitado pela literatura? Alguns dos principais autores contemporâneos se inspiraram em canções clássicas do compositor para escrever narrativas surpreendentemente originais.
Como ficaria o cancioneiro de Chico Buarque visitado pela literatura? Alguns dos principais autores contemporâneos se inspiraram em canções clássicas do compositor para escrever narrativas surpreendentemente originais.
Em Essa história está diferente, dez autores de estilos diversos recriam em ficção o cancioneiro do compositor carioca Chico Buarque.
Na composição do time de autores, organizado pelo escritor e jornalista Ronaldo Bressane, a ideia foi universalizar o imaginário do autor de Budapeste e Leite derramado. Pelo caráter multifacetado, a obra do compositor de versos como "O meu pai era paulista/ Meu avô, pernambucano/ O meu bisavô, mineiro/ Meu tataravô, baiano/ Meu maestro soberano/ Foi Antonio Brasileiro" sintetiza o Brasil - e cada vez mais conquista o mundo. Os registros literários captados por esta antologia foram os mais díspares: alguns contos se baseiam fielmente nos "causos" musicados por Chico, outros os usam como trilha sonora, cenário, atmosfera, outros emprestam das canções a estrutura, e há aqueles que somente o utilizam como mote.
Entre os autores internacionais, o argentino Alan Pauls adaptou "Ela faz cinema" e a transformou na história de um pai zeloso que combina o ciúme pela mulher e pela filha com manias como ler num restaurante enquanto come; o mexicano Mario Bellatin inspirou-se em "Construção" para ambientar a narrativa de um homem que, numa consulta ao fisioterapeuta, escuta uma história bizarra envolvendo uma declamadora de versos e um papagaio; o moçambicano Mia Couto criou um conto romântico a partir de "Olhos nos olhos"; e o também argentino Rodrigo Fresán escolheu "Outros sonhos" para um conto-ensaio tecido sobre variações oníricas.
Entre os brasileiros, Carola Saavedra esmiúça em detalhes uma discussão de relacionamento em sua narrativa baseada em "Mil perdões"; André Sant'Anna preferiu "Brejo da cruz" para falar do presente e do futuro dos meninos de rua; Cadão Volpato parte de "Carioca" para tratar da história de amor entre um jovem intelectual e uma misteriosa garota que se hospeda em sua casa; João Gilberto Noll recriou "Vitrines" em registro de novela gótica, focando a relação obsessiva entre dois homens que se conhecem num shopping; Luis Fernando Verissimo cozinhou "Feijoada completa" em chave de comédia da vida privada; e, por fim, Xico Sá reescreveu "Folhetim" como um triângulo amoroso contado por um carioca desmemoriado que talvez tenha perdido a mulher numa Quarta-Feira de Cinzas.
Uma surpresa a cada virada de página. Com as canções de Chico na cabeça, o leitor vai se admirar com as inúmeras possibilidades narrativas que elas inspiram e com o inesgotável gênio criativo desses principais nomes da literatura contemporânea.