Como o Raskolnikov de Dostoiévski, o Homem de gris sabe que tem uma culpa - mas, diferentemente do herói de Crime e castigo, não sabe que crime cometeu. Sabe que fez alguma coisa terrível. O que terá feito? Onde? Contra quem?
Como o Raskolnikov de Dostoiévski, o Homem de gris sabe que tem uma culpa - mas, diferentemente do herói de Crime e castigo, não sabe que crime cometeu. Sabe que fez alguma coisa terrível. O que terá feito? Onde? Contra quem?
A novela Noite é única na obra de Erico Verissimo. Isenta do caráter épico de O tempo e o vento, não pratica a crônica de costumes dos romances do "ciclo de Porto Alegre", não busca o realismo e não tem o tom de crítica e sátira política de O senhor embaixador e Incidente em Antares.
Noite é uma viagem ao interior da culpa. O personagem central, o "Desconhecido", ou "Homem de gris", perambula pelas ruas de uma cidade submersa no anonimato sem reconhecê-las. Não sabe quem é, nem de onde veio, nem aonde dirigir seus passos. Atormenta-o uma culpa inenarrável. Sabe que cometeu um crime, mas não sabe como fazer para descobrir qual foi esse crime - e qual é sua identidade.
Usando os cenários conhecidos, Erico compôs o painel social de uma sociedade que se perdeu em seus labirintos, tomada pelo anseio de modernidade, e ao mesmo tempo presa a suas raízes do passado. A novela fala de seres neutralizados pelo anonimato que caracteriza a modernidade: por isso todos os personagens flutuam no espaço intermediário das almas condenadas ao eterno purgatório.