Romance de estreia, esta narrativa impactante e irônica alterna a história de uma família que mantém um cadáver na sala de jantar com a descrição de mortes em cidades do interior de Minas Gerais. Uma reflexão inusitada sobre a morte e o ato de narrar.
Romance de estreia, esta narrativa impactante e irônica alterna a história de uma família que mantém um cadáver na sala de jantar com a descrição de mortes em cidades do interior de Minas Gerais. Uma reflexão inusitada sobre a morte e o ato de narrar.
Construído de forma original, com 156 capítulos curtos, A passagem tensa dos corpos trata de um tema consagrado, a morte, com uma abordagem e ambientação surpreendentes.
O narrador-personagem, figura indefinível e incorpórea, não é visto nem percebido por ninguém. Sua principal ocupação é percorrer cidades e registrar as mortes que encontra pelo caminho. Numa dessas localidades, há um morto insepulto, cuja família não parece disposta a velar ou enterrar. Como se nada tivesse acontecido, o cadáver é mantido amarrado à cadeira na mesa da sala, a esposa e a filha se ocupam dos preparativos para o casamento da menina, e o filho do morto permanece trancado no quarto.
Se a civilização se ergue sobre uma pilha de cadáveres soterrados, também a vida de cada um precisa da morte para se constituir. Diante da situação surreal testemunhada na casa, o narrador aos poucos se dá conta de que para existir de fato, necessita, ele mesmo, se apropriar de um dos corpos que registra.
Carlos de Brito e Mello lança mão de uma linguagem fragmentada e precisa para imprimir ao romance um andamento trepidante e acelerado. Ironia e humor negro bem medido também compõem esta narrativa sobre a morte e sua relação com a memória, a linguagem e o ofício de narrar.