As naus é considerado uns dos livros mais originais do premiado autor português. Mais uma obra que subverte as formas narrativas tradicionais, sobrepõe tempos e figuras históricas para narrar o retorno dos heróis e navegadores portugueses a Lisboa (na obra, denominada Lixboa), nos anos 1970, todos homens desiludidos com o fim da malfadada colonização africana. Pedro Álvares Cabral, Luís de Camões, Diogo Cão, Vasco da Gama - esses e outros nomes, inclusive estrangeiros, como Miguel de Cervantes - retornam a Portugal como pessoas comuns, com seus vícios e fraquezas, numa espécie de epopeia às avessas. Lobo Antunes reconta suas vidas na África, diferentes em todos os sentidos das versões consagradas, e os coloca, ao longo da narrativa, como jogadores de cartas, beberrões, aproveitadores. O autor explica que depois de escrever Fado Alexandrino - onde um grupo de ex-militares relembra sua vida e a Portugal de antes, durante e após a Revolução dos Cravos - a temática de sua literatura ficou um pouco menos autobiográfica, como é o caso de As naus: "Talvez os primeiros livros que as pessoas escrevem sejam sempre autobiográficos, ajustes de contas com o que a gente tem para trás, para depois poder começar realmente a escrever. A partir do Fado Alexandrino a agulha mudou, comecei a tentar falar de outras coisas". As desventuras trágicas, por vezes burlescas, que ilustram a narrativa de As naus, tem para o autor "qualquer coisa de oníricas - mas não tem nada a ver com o realismo mágico, do qual eu não gosto. Este foi o livro que me levou mais tempo para escrever; três anos. Nas primeiras versões era só uma história sobre os retornados, com nomes normais; só na terceira ou quarta versão é que me apareceu a ideia de aproveitar os navegadores e pô-los nos dias de hoje, para tentar dar uma multiplicidade de sentidos. Andei muito tempo à procura desta história".