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Lancei Extraordinárias: Mulheres que Revolucionaram o Brasil em novembro do ano passado, um livro que foi escrito em parceria com a também jornalista Aryane Cararo e pela editora Seguinte, selo jovem da Companhia das Letras.
É um projeto que continua proporcionando encontros, aprendizados e trocas inesquecíveis e, por isso, quero dividir com vocês um depoimento em particular.
Recentemente, fizemos uma apresentação para os alunos do 9º ano de um colégio particular. Ao chegar no evento, fomos avisadas de que o pai de uma aluna queria conversar com a gente. É sempre uma inspiração ouvir a Ary falando e eu ainda estou buscando apoio para não ficar nervosa na hora de falar em público. Perguntas. Possíveis respostas. A apresentação era só para os alunos, mas o pai estava presente na plateia.
Ele avisou: “Vim a convite da minha filha. Ela me apresentou o livro”. Sua profissão, ginecologista. Ao falar do livro, contou sobre seu impacto na vida de meninas pré-adolescentes, ressaltando sua diversidade de narrativas, e que ele o usaria em seu consultório para falar sobre liberdade de escolha.
Foram algumas das melhores lágrimas que já senti: estava resumido ali o impacto mais profundo que considero que o livro poderia ter.
Contar as histórias de Felipa de Souza e Indianara Siqueira no livro proporcionou uma oportunidade única de conexão com o universo feminino. Felipa, a primeira mulher das Américas a reconhecer publicamente sua homossexualidade, no século XVI, inspirou a criação de um prêmio homônimo concedido pela ong, o OutRight Action International. Indianara, a líder dos corpos transvestigeneres, é a idealizadora de projetos dedicados a pessoas em situação de vulnerabilidade como a Casa Nem, no Rio de Janeiro, com a qual você pode colaborar hoje.
Também fizemos um lançamento do livro por lá. Lembro de estar do lado de fora da Casa, localizada no centro do Rio de Janeiro, quando vi um sobradinho pegando fogo. A situação foi resolvida rapidamente com a desenvoltura de Indianara, que na mesma hora se tornou uma das líderes da rua e de outros corações que ali batiam. É sempre um privilégio presenciar a união de uma família.
“Não aceito modelos subtrativos de amor, apenas aditivos. E acredito que, da mesma forma que precisamos da diversidade de espécies para garantir que o planeta possa continuar, precisamos dessa diversidade de afeto e diversidade de família para fortalecer a ecosfera da gentileza”. As palavras são do americano Andrew Solomon, autor, entre outros, de Longe da árvore, um livro que recomendo para qualquer um que esteja procurando a definição do que é ser humano.
A minha vida não teria sido mais fácil se eu fosse hétero. E essa é a forma mais natural que eu tenho de colocar isso.
Mas, se de alguma forma ainda precisamos falar sobre isso, prepare-se. Seu universo pode se expandir.
Ao promover e dar acesso a uma discussão sobre liberdade de escolha, damos um passo fundamental para criarmos relações de empatia e afetividade.
A esse pai e a todas as pessoas que cuidam e educam, agradeço com carinho.
Aceitem o convite de todxs os seus filhos.
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Duda Porto de Souza.