Silvana Salerno ainda hoje pede pro Negrinho do Pastoreio auxílio para encontrar seus objetos perdidos, já Heloisa Prieto recorda sempre que aprendeu sobre os Sacis com os boiadeiros na infância. A escuta atenta da roda de histórias, no silêncio das matas, provoca mil e uma possibilidades literárias para duas autoras paulistas, ambas dedicadas em traduzir a oralidade para escrita sem que se percam os mistérios das encantarias.
Guardiã da imaginação, Heloisa vê a literatura como necessidade de tradução para aproximar pessoas de culturas diversas. “A fala mágica é uma fala tradutória, de quem observa os cotidianos e transforma o que vê numa linguagem que encante”, explica a autora de Mata – Contos do folclore brasileiro. Silvana reconhece a mesma paixão pela tradição oral, levando a seus leitores essa memória fundamental sobre nossas origens, algo precioso para autoestima de um povo.
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Curiosamente, as duas se encontram na viagem pelo imaginário da etnia Ticuna: Heloisa por viver um período com esse povo, Silvana por contar suas histórias em Qual é seu norte? – Viagem pelo Brasil. As histórias da tradição oral proporcionam, segundo Silvana, um "conhecimento dos sentimentos", como a traição, o amor, a justiça, apresentados com clareza.
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Já em Viagem pelas histórias da América Latina, Silvana resgata a tradição oral de cada um dos países latinos e compõe um rico panorama cultural de seres fantásticos e lendas, como a gruta de Tupungato, do Chile, Tunshu-Palpa, do Peru, e a flor de lirolay, da Argentina.
Neste livro, Silvana Salerno resgata 22 histórias da tradição oral dos povos latinos,
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Nessa ciranda de contos cheios de encantamentos, as crianças podem até virar bruxa e não mais voltar, como a história recontada no livro Mata. Nas regras da tradição oral, não há negação dos perigos, medos e dilemas. “Há uma dramaticidade mítica, simbolicamente existe um risco”, diz Heloisa.
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Confira no vídeo a seguir o bate-papo das duas autoras sobre o tema.
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(Texto atualizado em 26/5/2022)