Quando a literatura vem do berço

01/08/2017

 

Ler para bebês é uma ação que valoriza a capacidade da criança de estabelecer relação com a literatura desde cedo – ou desde o berço. Essa prática, além de uma opção acalentada de como compartilhar momentos com o bebê, vem se comprovando como importante aliada no nascimento de um futuro leitor.

A psicóloga Ana Lucia Bresciane, que ministrou o curso Além da fralda – Leitura para bebês, no Instituto Avisa Lá, atua com educação infantil e formação de educadores. Ela acredita que o tema do envolvimento de literatura com bebês tem sido ponto de atenção devido ao destaque que a primeira infância vem ganhando e sendo foco de interesse de muitas áreas, como psicologia, saúde e educação.

 

Ilustração Marcelo Tolentino

 

A vivência da literatura já nos primeiros meses de vida representa uma troca de afetos, que mais tarde a criança resgatará quando tiver contato sozinha com livros. Mas é preciso que o adulto esteja, claro, bem presente, abraçando o bebê e o livro. “Ou seja, não bastam somente os objetos para que a relação se estabeleça, a presença do outro afetivo que apresenta, que introduz a criança nessas práticas culturais é fundamental”, destaca a pesquisadora.

A especialista afirma que o contato com a literatura é uma experiência que prepara a criança para as futuras vivências e aprendizados. “É a partir das interações que o bebê estabelece com seu meio, assim como  das aprendizagens decorrentes de tais interações, que as conexões cerebrais vão se organizando e estruturando a base para as novas aprendizagens”, pontua Ana Lucia.

Nunca é cedo demais para envolver a criança com a literatura. Segundo a educadora, o momento mais apropriado é o agora. “Desde a gestação, o bebê pode ser beneficiado pelas leituras, pelas conversas, pela relação afetiva que o adulto estabelece com ele”, explica.

Quanto ao local mais apropriado, o principal requisito é ser um ambiente de liberdade para que a relação com os livros possa se construir a partir de curiosidades, descobertas, afetos, prazeres e sem obrigações, fórmulas ou limitações. “As narrativas são espaços abertos de interpretação, em que os leitores, sejam adultos, sejam crianças, podem imaginar livremente, viver através das experiências dos outros as suas próprias experiências. Por isso, não há um único jeito de ler e interpretar as histórias, não há o livro certo, a história certa para todos, mas há a experiência de cada sujeito com cada história”, relata.

Dedicar um espaço para os livros dos pequenos requer algumas atenções aos preparativos e a liberdade de escolha deve sempre ser uma prioridade. “Na escola é importante que haja um espaço físico mais apropriado, que convide os bebês a olhar, mexer e folhear os livros; ou seja, relacionar-se concretamente com esses objetos. É fundamental um espaço coerente com a forma de se movimentar do bebê, ou seja, não com mesas e cadeiras, mas com um grande tapete e almofadas que acolham variadas posições corporais, que seja aconchegante e confortável.”

Sobre a escolha dos títulos a compartilhar com os pequenos, ela enfatiza que  é imprescindível o adulto gostar do que vai ler. “Não tem como ler de forma prazerosa um livro do qual não se gosta.” Mas, claro, é impossível descartar a importância da qualidade literária. “Toda criança tem direito a ter acesso ao que é produzido de melhor em termos poéticos e estéticos.”

Ela ainda destaca que “muitos dos livros produzidos exclusivamente para a primeira infância desconsideram a inteligência e a capacidade das crianças de interpretar e construir significados, apelando para textos simplificados e imagens estereotipadas e de poética rasa”. Nesse balaio, a sugestão da especialista é redobrar a atenção com os livros brinquedos, que podem assumir ricas formas de interação, mas nem sempre são objetos com conteúdo narrativo interessante.

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