Ludi brinca com a História e borra fronteiras entre passado, presente e fantasia

26/02/2018
Ludimila Manso é uma menina como tantas outras: vai à escola, sofre com a recuperação de Português, ama ir à praia e ver TV, reluta em arrumar a sala e guardar tênis e mochila. Tem dois irmãos, um pai professor de História e uma mãe jornalista. Leva umas broncas de vez em quando. Tem dois apelidos: Ludi e Marquesa dos Bigodes de Chocolate. [caption id="attachment_4129" align="alignleft" width="450"] "Ludi vai à praia" / Luciana Sandroni (texto) e Eduardo Albini (ilustrações)[/caption] Mas assim como tantas outras meninas, ela é muito mais do que isso: Ludi é divertida, irreverente e tem características, singularidades e particularidades que fazem dela a heroína perfeita para as histórias de Luciana Sandroni, autora de uma série sobre a garota e suas aventuras. Publicada anteriormente pela Editora Manati, que encerrou as atividades em 2016, os títulos foram relançados pela Escarlate, do Grupo Brinque-Book: dois deles em 2017 e outros dois recém-publicados em 2018. Ludi vai à praiaLudi na floresta da Tijuca acabam de sair e, como os títulos publicados anteriormente, têm a marca das histórias da menina carioca: misturar, fluidamente, passado, presente e fantasia, sem que haja uma ruptura narrativa clara. Assim como, por exemplo, nas histórias de Monteiro Lobato, em que Narizinho transita, num mesmo dia e cenário, entre uma soneca no sítio do Pica-Pau Amarelo e um casamento no Reino das Águas Claras. De forma parecida, Ludi, inspirada não por acaso na boneca Emilia, vai de uma passeio na praia à uma viagem ao fundo da Baía da Guanabara, onde conhece uma gama de personagens engraçados e críticos, como Dona Concha e Zé Polvo, que trazem a questão da poluição de forma divertida, mas contundente. Mesmo tendo sido publicado em 1989 -o livro Ludi vai à praia segue muito atual. Da mesma forma, Ludi na floresta da Tijuca leva a família Manso direto por uma passagem no tempo que os coloca na cena do reflorestamento da floresta, ainda no Brasil Império, depois de a área ter sido tomada por estrangeiros para plantação de café. A depredação do ecossistema, a exploração desenfreada dos recursos naturais e a mão-de-obra escravizada estão presentes neste livro, cujas aventuras se passam no século XIX. Mas poderiam estar acontecendo hoje, tamanhas semelhanças com questões que ainda enfrentamos.   Sandroni sabe como poucos amarrar bem esses elementos e ainda construir um livro divertido, de leitura fluida e texto bem trabalhado. Não à toa, já ganhou um Jabuti, vários prêmios e uma indicação para a lista de honra da IBBY - International Board on Books for Young People - organização internacional de literatura para crianças e jovens. Fazendo referências a clássicos da literatura e temperando tudo com fatos históricos e muita cultura brasileira - de poemas de Cecilia Meireles a musicas de Dorival Caymmi - a autora tem o cuidado de dar à Ludi aquele conjunto de qualidades que faz dela tão comum e tão extraordinária. --- Ludi vai à praia - a odisseia de uma marquesa Ludi na floresta da Tijuca Luciana Sandroni (texto) e Eduardo Albini (ilustrações) Escarlate 2018 88 páginas e 132 páginas, respectivamente Faixa etária: a partir de 8 anos  
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