Pegar no colo ou deixar chorar? Dar colo em livre demanda? Ou dar colo "mima" a criança? Colo é carinho ou é manipulação do bebê? Colo é sempre um dos temas que gera mais dúvidas e controvérsias nas famílias. Por isso, vamos falar dele neste terceiro post da série
Livros e desenvolvimento infantil, em que conversamos com grandes especialistas para tratar de algumas fases do desenvolvimento das crianças.
Em paralelo, vamos contar com a ajuda dos livros ilustrados para transformar essas reflexões em momentos ainda mais fortes de afeto e leveza.
Para conversar com a gente, o pediatra, palestrante e escritor
Daniel Becker, pioneiro da pediatria integral no Brasil e autor do blog Pediatria Integral.
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"Colo de avó"/ Roseana Murray (texto) e Elisabeth Teixeira (ilustrações)[/caption]
Um carinho fundamental
Para o pediatra, colo é fundamental para crianças em qualquer idade. Para os bebês, explica ele, é ainda mais importante. Becker explica que dar colo, aconchegar o pequeno junto ao seio da mãe ou do peito do pai, por exemplo, é uma uma forma de acolhimento que remete à gestação.
Isso porque ouvir o batimento cardíaco e a respiração do adulto, sentir seu cheiro e seu calor, aconchegado, relembra instintivamente ao acolhimento e a proteção do útero materno. Não é à toa, portanto, que as crianças acalmam na hora em que são acolhidas no colo, especialmente se estão chorando, frustradas, cansadas, assustadas.
O colo é fundamental também para o desenvolvimento cerebral. Becker lembra que esse aconchego é essencial para ampliar as sinapses e desenvolver as áreas do cérebro ligadas ao afeto. "Se a gente for falar de desenvolvimento humano, em linguagem menos formal, colo é carinho, colo é amor, colo é afeto. Quem não precisa disso?"
Ele recomenda inclusive que os pais, sempre que possível, deem colo sem roupa, para facilitar ao bebê esse contato direto com a pele e ampliar ainda mais a sensação de aconchego.
Necessidade ancestral
Considerada uma necessidade ancestral do ser humano, o colo é essencial na formação da nossa psique, da autoestima, da capacidade de nós, adultos, darmos colo às crianças, a outros adultos e a nós mesmos. Mesmo os adultos precisam de colo, ainda que figurativamente. E não é à toa que usamos justamente a expressão "dar colo" quando queremos pedir ou dar acolhimento e apoio.
Negar colo, nessa perspectiva, não faz sentido e pode ser considerada uma negligência em relação às necessidades de desenvolvimento afetivo e emocional dos bebês, crianças e seres humanos.
Becker conta que a ideia absurda de que colo é prejudicial vem do Iluminismo alemão, século XIX, quando acreditavam que a educação das crianças tinha de ser militar, rígida e, de certa forma, violenta. "Prescrever não pegar no colo não faz nenhum sentido".
Apego não é superproteção
O pediatra, no entanto, faz uma ponderação: educar com apego - o que pressupõe acolher, dar colo à vontade, dialogar - não significa superproteger nem evitar a todo o custo que a criança chore e lide com seus desafios e frustrações por conta própria.
Acalmar a criança frustrada que pede colo para se consolar não é o mesmo que poupar esse bebê de frustrar-se. Quer dizer que amparar um bebê ou criança que chora é essencial, assim como deixar que a criança lide com as frustrações que causaram o choro e a necessidade de afeto extra sem distrair, poupar, acolher para evitar uma crise etc.
Assim como
o choro, o ideal é acolher, mas manter o limite que causou raiva, por exemplo e não distrair a criança com chupetas ou brinquedos. É preciso permitir que as crianças vivenciem suas emoções para aprender a lidar com elas autonomamente.