Até o dia 28 de maio acontece a Semana Mundial do Brincar (SMB), organizada no Brasil pela Aliança pela Infância desde 2009, com apoio dos núcleos da instituição, parcerias públicas e privadas em espaços diversos: escolas, museus, ruas, praças, parques e outros.
A proposta é para todos e qualquer um pode participar promovendo ações ou prestigiando eventos em qualquer lugar, com apoio de material e divulgação da própria Aliança.
O Blog da Brinque, cumprindo sua missão e manifesto, apoia o brincar e o valoriza com uma das principais linguagens da infância.
Com este post, abrimos uma pequena série sobre o tema, que conta com a participação de especialistas e brincantes. Nesse primeiro texto, publicamos um artigo de Adriana Friedmann, educadora, mestre em Educação e doutora em Antropologia. Pesquisadora da infância, ela é coordenadora do Nepsid e do Mapa da Infância e co-fundadora da Aliança pela Infância.
Além disso, selecionamos também um PDF muito bacana elaborado pela psicóloga e pesquisadora do brincar Adriana Klisys, fundadora do Caleidoscópio. Acompanhado de um vídeo, pode ser baixado gratuitamente com sugestões de brincadeiras e experimentações.
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As camadas mais profundas do brincar*
Por Adriana Friedmann Aponto neste artigo algumas questões e provocações que me parecem absolutamente imprescindíveis para o debate atual sobre o brincar. Vamos dialogar? Breve histórico do brincar O universo do brincar tem passado por um processo de grande transformação e avanços nos últimos trinta anos no Brasil e no mundo; tanto no que se refere aos estudos, pesquisas, propostas de formação e publicações, quanto às realidades cotidianas infantis na família, na escola, no espaço público ou onde quer as crianças circulem. O que se transformou? Onde estamos hoje neste debate? Que perspectivas e desafios temos pela frente?Compreender que e como as crianças expressam através do brincar significa mergulhar nos significados das narrativas, tanto verbais quanto – e sobretudo – não verbais, simbólicas das crianças
As ‘camadas profundas’ do brincar Entendo que temos hoje o grande desafio de incursionar pelas camadas mais profundas do brincar: adentrar naqueles âmbitos ‘não visíveis’, não evidente ou imediatamente perceptíveis. Compreender que e como as crianças expressam através do brincar significa desvendar o que tem por trás e por baixo de uma atividade, atitude ou comportamento lúdico; significa mergulhar nos significados das narrativas, tanto verbais quanto – e sobretudo – não verbais, simbólicas das crianças. Escutar, observar e ler as mensagens que as crianças comunicam brincando, dançando, cantando, contando etc., constitui um dos grandes desafios que temos atualmente, se quisermos, verdadeiramente, adentrar e compreender a profundidade destas camadas. Quais são estas linguagens expressivas? Quais as pistas para desvendar seus significados? Quais as tramas das narrativas infantis? Como ler as crianças através da sua expressão corporal, seus gestos e movimentos? A relação entre as camadas profundas do brincar e o corpo/movimento das crianças. Importante é compreender que as crianças descobrem o mundo ao seu redor explorando de forma autônoma – sempre que deixadas livres para tal – objetos, espaços, pessoas, sobretudo nos primeiros anos e através dos seus sentidos. As crianças também apreendem o mundo imitando seus pares, os adultos ao seu redor ou cenas que elas presenciam. No início as crianças experimentam e repetem inúmeras vezes a brincadeira, a música, o traço ou o movimento aprendidos. Até incorporá-los e dominá-los. Mais tarde, quando se apropriam destas bases, as crianças ressignificam e reescrevem suas narrativas corporais, musicais, lúdicas, artísticas ou literárias de forma muito única e individual em um primeiro momento; e, muitas vezes, em pares ou pequenos grupos. Elas vivenciam tramas, cenas e personagens e vão perfazendo seu próprio repertório da vida. Muito além da técnica ou da sistematização - no caso do corpo, do movimento ou da dança por exemplo - a fantasia, a imaginação, a cultura e a autoria passam a fazer parte da compreensão única e autêntica de cada criança.As crianças se expressam de forma permanente, são autoras das suas vidas e atoras sociais. O grande desafio do mundo adulto é parar para escutar e compreender o que dizem
Vamos conhecer e reconhecer os temperamentos, atitudes e potências individuais? Reconhecer a multiculturalidade e contexto de cada criança?
Escutar as crianças e ler a profundidade das suas ‘falas’ – o papel do adulto
As crianças se expressam de forma permanente, são autoras das suas vidas e atoras sociais. O grande desafio do mundo adulto é parar para escutar e compreender o que dizem. Trata-se de uma mudança ética, atitudinal e metodológica. Trata-se de se conectar, ficar presente, silenciar, respeitar as singularidades, preferências, tempos próprios infantis; aceitar as limitações de cada criança – e as do adulto que com elas convivem. Trata-se de ‘pedir licença’ para adentrar os seus universos e aprender com elas e sobre elas. Trata-se do adulto ‘despir-se’ e ‘desapegar-se’ das suas verdades, teorias, pré julgamentos.
Precisamos dialogar com a criança, com seu entorno, com pensadores das mais diversas áreas. Compreender cada contexto no qual as crianças estão inseridas. E ter a coragem de olhar para nossas próprias emoções, reações e percepções.
Vamos revisitar algumas experiências que a atitude antropológica nos ensina? Que referenciais são necessários para compreender estas expressões infantis? E depois, como lidamos com estas informações?
*artigo escrito por ocasião de um evento organizado pelo Grupo Balangandança, em 2017, no qual Adriana Friedmann participou em uma das mesas.
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