Novo livro de haicai para crianças junta os talentos de Roseana Murray e Walter Lara

03/08/2018

"no final da tarde as estrelas na coxia se vestem de luz"

  Com esse haicai, a escritora Roseana Murray abre seu novo livro, recém-lançado pela Brinque-Book. Três estrofes, com cinco, sete e novamente cinco sílabas, são as características desse tipo de poema, originário do Japão e geralmente com a natureza como tema. Roseana conta que começou a escrever poesia para crianças quase por acaso: poeta, fez uma coletânea para o filho pequeno. Na época, ele mostrou à professora, que foi a primeira a incentivar Roseana a transformar a coletânea em um livro, o primeiro, que ganhou ilustrações de Elvira Vigna, premiada escritora morta em 2017. Nesta nova obra, Roseana divide as delicadezas com o ilustrador Walter Lara, que dá cor e forma às ideias poéticas dela. Mineiro de Betim, o artista plástico desenhou desde criança. Para ele, desenho é história, história que precede as palavras, como na vida. Ambos conversaram com o Blog da Brinque e, a seguir, compartilham trajetórias, inspirações e um pouco de seus processos criativos. [caption id="attachment_4937" align="aligncenter" width="1734"] Ilustração de Walter Lara para "Suspiros de Luz", de Roseana Murray[/caption]

Walter Lara

  Brinque-Book: Quais foram suas principais inspirações para pintar esses poemas? Walter Lara: Me identifiquei com os poemas da Roseana Murray porque são muito visuais, repletos de animais, luminosidade e uma imensa gama de cores. Estou sempre observando os animais – eles habitam as minhas ilustrações - e com eles aprendo a perfeita escala de cores que neles foi desenvolvida pela natureza há milhares de anos. A Roseana me deu este presente de ilustrar um texto tão musical e perfumado. BB: Como é seu processo criativo, que técnicas prefere utilizar e como - e em que momento - define qual usar em cada projeto, em cada livro? Walter: Antes de começar os esboços, preciso de música. Só assim começo o meu trabalho. Uso a aquarela no papel 100% algodão, de textura lisa, para não interferir na ilustração. As primeiras camadas são mais finas e transparentes no papel umedecido e finalizo com a tinta mais seca, o que lembra a textura da pintura a óleo. Dos mestres holandeses de 1600 a 1800, estudo a técnica e neles encontro muito do que procuro. Ilustro no papel como se pintasse na tela. Trabalho sempre com a aquarela e a linguagem escolhida vai depender de cada texto, se infantil ou juvenil e essa escolha começa já nos esboços. BB: Que memórias tem do desenho e da leitura na sua infância? Walter: Eu gostava de observar as ilustrações e imaginava as histórias antes mesmo do texto do livro. As ilustrações me levavam ao texto. Guardo na memória o cheiro e as cores dos livros. Eu desenhava desde pequeno e desenhando me tornava plenamente feliz. Nunca me imaginei em outra profissão. Hoje, quando ilustro, me sinto responsável por estar ajudando no olhar e na percepção de muitas crianças. BB: Você pode, por favor, escolher uma ilustração do livro para a gente e explicar um pouco seu processo nela? Walter: Gosto de desenhar árvores e admiro a “personalidade” de cada uma. Dentre tantas outras que esbocei, optei por essa, iluminada por vagalumes numa noite azul  

Roseana Murray

  BB: Você contou certa vez que começou a escrever poesia com quase 30 anos e, para crianças, começou a escrever "de brincadeira" para seu filho. Pode nos contar essa história e como aconteceu de você escrever poesia para crianças e o que te anima em escrever poemas para os pequenos? Roseana Murray: Escrevia poemas e meu filho pedia para ler. Mas eram poemas que falavam das minhas angústias, achava que não eram para ele. Então, de brincadeira, fiz uma coletânea de poemas para ele. Ele amou. Enviei para a sua professora qie me respondeu que eram lindos e deveria publicar. Por acaso conheci a Elvira Vigna que adorou os poemas, ilustrou os piemas e me ajudou a publicar o livro Fardo de Carinho. BB: O que inspira você e como é seu processo criativo? Roseana: Estou sempre escrevendo e adoro trabalhar com temas. Tudo me inspira. A vida. BB: Como foi escrever um livro de haicais, esses poemas japoneses com tema e estrutura tão particular? Pode nos contar um pouco desse processo e das particularidades - alegrias e desafios - desse tipo de construção? Roseana: Adoro fazer haicais. É o terceiro livro de haicais que publico. É um grande desafio construir um poema numa estrutura tão pequena. Adoro desafios.
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