A maior parte de nós esqueceu que um dia já foi criança. Esqueceu o quanto adorava brincar, esconder-se, compartilhar e guardar segredos, brincar de super-herói, de casinha, de médico, de pega pega, de empinar pipa; de ficar à toa, rabiscar o mundo, sair disparados correndo ou dançando; o quanto cada um de nós curtia pintar, desenhar, sonhar.
A maior parte de nós esqueceu que um dia já foi criança
Aprendemos muito com nossos pais e avós e, mais tarde, com nossos vizinhos, primos e amigos da escola. Sentíamos receio de não sermos aceitos, de sermos rejeitados pela nossa turma, de levar bronca dos nossos pais e professores. Detestávamos quando éramos pressionados ou quando descobriam nossos segredos e planos – e, pior, quando acabavam com eles.
Claro que, como qualquer criança, sempre quisemos ser livres e fazer só aquilo de que gostávamos. Não sei se vocês se lembram que, antigamente, crianças tinham poucos direitos e muitas obrigações, raramente eram ouvidas ou podiam dar sua opinião ou mesmo dizer o que sentiam ou o que queriam. Quiçá, os que mais nos escutavam – e continuam a escutar as crianças – fossem os avós.
Hoje parece que os relógios correm mais rápido, e que o dia nunca é suficiente para as crianças terem brechas para brincar
Por outro lado, as crianças tinham muito tempo, brincavam e conviviam com outras de idades diferentes, tinham a rua e muitos espaços de natureza sempre perto para brincar.
Hoje parece que os relógios correm mais rápido, e que o dia nunca é suficiente para as crianças terem brechas para brincar. Hoje os tempos e corpos estão ‘tomados’ pelos celulares, videogames e conexões nas redes sociais.
Hoje o mercado lhes oferece muitas promessas de que brinquedos e outros itens de consumo vão levar até elas ‘alegria’ ou ‘felicidade’; sendo que o que de verdade elas almejam – mesmo que não tenham essa consciência - é viver plenamente os seus tempos de infância, descobrir e aventurar-se em diversas experiências e, com seus corpos e suas essências, conhecer o mundo, as pessoas e os territórios à sua volta.
Por conta de todas essas percepções de como a infância costumava ser nem há tanto tempo – aqui no Brasil e mundo afora -, por perceber como a infância é hoje e pela oportunidade de muitos pesquisadores, ativistas, educadores e profissionais das mais diversas áreas de conhecimento estarem contribuindo com muitas novas descobertas, evidências e experiências sobre as realidades e universos infantis, estamos todos aprendendo o quanto é importante ouvir as crianças e dar-lhes espaço e tempo para que possam se expressar, brincar, conviver, descobrir e viverem infâncias plenas.