Sabe como nasceu o Gildo e a Socorro? Silvana Rando conta para a gente!

31/07/2020
Gildo faz 10 anos! Esse elefante - que como todo bom corajoso tem lá seus medos! - é uma das personagens mais amadas entre os leitores e tem muitos amigos e histórias para contar. Estamos comemorando muito esse aniversário! Com filme (sim, um curta do Gildo!), receitas, música, dicas para fazer um montão de coisas bacanas e muito mais!

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Silvana Rando, criadora do elefante, acaba de assinar uma parceria de exclusividade com o Grupo Brinque-Book e está lançando mais duas obras: O incrível livro do Gildo e Socorro em: uma vida nada fácil.

E se o Gildo criasse um livro, que história teria? Imagem: O incrível livro do Gildo, de Silvana Rando

  Ela conversou com a gente sobre inspirações, o Gildo e a barata Socorro (sabe como ela apareceu nessa história? Silvana conta!), medos, criação, consciência social e os livros em sala de aula. Abaixo, você confere os principais trechos. Brinque-Book: O Gildo completa nada menos que 10 anos! Nesse período, esse elefante tão corajoso fez muitos amigos e fãs, já foi indicado em jornais, revistas e até prêmios importantes ele ganhou - um Jabuti em 2010! Conta para a gente, Silvana, por favor: como o Gildo nasceu? Silvana Rando: Sempre tive facilidade para fazer personagens, é uma marca do meu estilo. As personagens das histórias que faço têm personalidade marcante, ganham vida para além das histórias. Na época em que estava pensando no Gildo, que ainda não era "o Gildo", queria uma personagem que fosse grande, um bicho grande. Desenhei um elefante, gostei dele. Gildo nasceu primeiro na minha cabeça, em desenho e personalidade. Só depois que ganhou uma história, ganhou vida. BB: Por que o Gildo é um elefante? Essa é uma pergunta de leitores ;-) Silvana: Quando estava ainda bolando a personagem, eu queria que fosse um animal grande, como elefante ou hipopótamo. Gosto muito dos dois! Desenhei o elefante e gostei dele. Depois, quando Gildo vai para a escola [no livro A carta do Gildo], ele tem um amigo que é um hipopótamo, a Verinha, e é uma personagem de quem as crianças gostam muito. Acabei colocando um hipopótamo também (risos). Às vezes, me perguntam por que bichos e não pessoas. Gosto de colocar os animais, porque assim a gente tira o foco das características físicas das pessoas. Se a personagem fosse alta, baixa, gorda, magra, menino ou menina iria gerar mais identificação com um grupo ou outro ou parecer que representa só esse ou aquele tipo. Com os bichos, não têm isso. BB: O Gildo é inspirado numa criança em particular ou nas crianças de um modo geral? Silvana: Não é inspirado em nenhuma criança em particular. Mas quando eu criei o Gildo, medo era um tema que estava rolando muito forte aqui em casa. Minha filha era pequena, estava naquela fase de ter medo do escuro, medo de ir sozinha ao banheiro...Achei que era um assunto bacana. E é engraçado que uma criatura tão grande quanto um elefante e tão corajoso como Gildo tenha medo de uma coisa tão frágil quanto um balão. Queria mostrar para as crianças que todos os medos devem ser respeitados. BB: As crianças se identificam muito com o Gildo, não é? Silvana: Sim, muito! Descobri, depois, que muitas crianças têm medo de balão. Medo do barulho do estouro, por exemplo. As crianças vivenciam esses temas e emoções enquanto leem. Vão vendo que tudo bem ter medo e que todo medo precisa ser respeitado! BB: Na escola, com as crianças, o Gildo dá margem pra muitas conversas. Como você imagina que o elefante possa "estar" nas escolas? Silvana: Um dos projetos de leitura mais bacanas que eu vi acontecer em escolas foi um em que as crianças desenhavam ou escreviam seus medos num papel e cada medo correspondia a um balão, que as crianças estouravam em sala. Achei legal isso de usar o balão e de estourar, como se estourasse o medo. Uma outra educadora leu o livro todo em sala, sem mostrar a obra, sem que as crianças soubessem que era um elefante. Depois, pediu que elas desenhassem o Gildo. Desenharam um menino, um idoso, mas ninguém desenhou um elefante. BB: De onde veio a ideia para O incrível livro do Gildo, que você lança neste ano? Silvana: Dei aula numa escola em que ensinava as crianças a fazerem um livro, cada um o seu. Elas queriam colocar de tudo no livro, para agradar os amigos, o pai, a mãe... Fiquei com muita vontade de narrar essa experiência, esse modo como as crianças foram construindo seus livros, essa "conversa" entre o que elas queriam contar e a vontade de agradar. E mostrar a importância de colocar as coisas do jeito que você gosta. Assim como as crianças, o Gildo [no novo livro] passa por algumas coisas que eu passo como escritora também. É difícil isolar o que os outros podem pensar, essa é uma questão que a gente enfrenta ao criar. Esse livro do Gildo fazendo seu próprio livro mostra que qualquer um pode escrever, pode desenhar suas histórias. Ele usa um caderno, lápis, material que tem em casa, fácil acesso. Eu quis deixar essa mensagem para os leitores. BB: Uma das melhores amigas do Gildo, a barata Socorro foi ganhando mais e mais fãs e importância nas histórias. Agora, neste ano, ganha até um livro! Silvana: O "nascimento" da Socorro é uma história curiosa. O Gildo estava pronto, prontinho. Fui almoçar e, no caminho, uma barata passou bem perto do meu pé. Conheço muitas pessoas que têm pavor de barata, lembrei de amigas, mães, sogras que não suportam nem estar perto desse inseto. Isso me deu um "clic": a Socorro nasceu em homenagem aos medos das mães dos leitores! Voltei para casa, criei a barata e fui colocando em todas as páginas; ela aparece no livro todinho. Daí em diante, ela vai ganhando importância nas histórias, até que pensamos em dar um livro para ela. BB: Neste novo livro, chamado Socorro em: uma vida nada fácil, a barata, adorada pelas crianças, vive aventuras no Hotel Chicz, onde mora com a mãe, camareira. Você faz brincadeiras e referências ao universo punk rock, movimento dos anos 70 e 80, com forte viés de denúncia social, e traz a questão da opressão de um jeito leve e divertido. Como você acha que a literatura contribui para a gente pensar e dialogar sobre o que ainda falta melhorar na sociedade? Silvana: É um universo que conheço bem, aqui em casa gostamos de rock, meu marido tinha banda, é um estilo musical presente. O punk rock tem como características a consciência social, um som mais barulhento - para questionar - e uma música estilo faça você mesmo. Quis trazer essa discussão das desigualdades, tanto pela banda quanto pela situação da mãe da Socorro no hotel. Levar esse questionamento. Botar para pensar de uma maneira divertida, leve, ninguém ali é amargurado. Mas tem consciência do que vivem e querem mostrar. BB: Você conta, no finalzinho do livro da Socorro, que adora bichos e protege até baratas. Você foi sempre assim? Conta pra gente alguma memória ou história legal com os bichos na sua vida! Silvana: Tenho essa ligação com bichos desde criança. Brincava com os tatus bola com cuidado, conversava com eles. Minha mãe sempre mostrou esse lado de respeito em relação aos animais. Até hoje ela coloca comida para vespas, frutas para os insetos comerem. Em casa, temos quatro bichos, inclusive o cachorro amarelo [do livro Os sete cachorros amarelos] e sou vegetariana. Mesmo as baratas, evito matar. Se posso, só tiro de casa sem machucar, né? Adoro insetos! BB: Agora você e a Brinque-Book estão mais próximas, com uma parceria exclusiva [Silvana Rando agora é autora exclusiva da casa]! Conte um pouco sobre esse momento, por favor. Silvana: Era uma vontade minha e da Brinque-Book essa parceria, a exclusividade. Olhando para trás, percebo que sempre fui da Brinque, no fundo sempre tive "a cara" da editora. O Gildo, que é um "filho" que ganhou vida própria, por exemplo, saiu pela casa. Parece que só oficializamos uma união que já acontecia de fato. O catálogo da Brinque eu adoro! O jeito que eu vejo a criança é parecido com o jeito que a Brinque-Book vê as crianças. Ou seja, de um jeito leve, divertido, gostoso e que valoriza a inteligência dos pequenos.
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