Vira-e-mexe você ouve por aí que determinado livro ganhou o prêmio
FNLIJ ou o selo
Altamente Recomendável. Na livraria, você pega uma obra e -- pá -- lá na capa tem um selinho indicando que se trata de um selecionada como
Acervo Básico.
Já leu uma obra assinada por um vencedor do
Hans Christian Andersen?
Todos esses nomes são premiações importantes do universo dos livros para crianças e jovens leitores.
Diversidade de ilustrações e temas, traços bem trabalhados, originalidade: o que faz uma obra de arte?. Imagem: Girafas, de Jean-Claude Alphen
Mas será que são importantes para a gente, mães, pais e não-especialistas, na hora de escolher livros? Você sabe o que cada um valoriza e como esses "selos de qualidade" podem ajudar você a escolher obras para os pequenos?
Esse post pode
ajudar você a ampliar seus critérios de escolha, facilitando na hora de selecionar o que quer apresentar para as crianças aí na sua casa.
Olha só sobre o que vamos tratar nele:
- Quais são os principais prêmios e seleções que a FNLIJ realiza;
- Alguns critérios de avaliação;
- Como esse tipo de premiação pode ajudar você a escolher uma obra;
- Que outros critérios você deve levar em conta;
- Exemplos super bacanas de livros e autores premiados em cada um desses prêmios que você precisa conhecer.
Vamos nessa?
Prêmios e selos FNLIJ
A Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ) foi criada em 1968 como uma seção da organização internacional IBBY, sigla para
International Board on Books for Young People ou, em tradução livre, Conselho Internacional de Literatura para Crianças e Jovens.
Mundialmente, a IBBY atua para a promoção da leitura de literatura na infância e juventude. Realiza feiras para especialistas, seleções, premiações, apoia a criação de bibliotecas, entre outras ações.
No Brasil,
a FNLIJ realiza uma premiação em duas fases e também faz uma seleção para orientar as escolhas de escolas e bibliotecas.
Realiza salões de livros para o público final, procurando aproximar leitor de obra literária ;-)
Ela também é responsável por
escolher as obras que vão representar o Brasil na Feira do Livro de Bolonha,
indica autores nacionais para o prêmio Hans Christian Andersen -- considerado o mais importante prêmio para autores da literatura para a infância, como se fosse um "nobel" -- e escolhe também os artistas que vão para algumas bienais do segmento ao redor do mundo.
Originalidade de texto e ilustração são critérios que a FNLIJ leva em conta ao escolher os melhores do ano. Imagem: Mustafá, de Marie-Louise Gay
Altamente recomendável e Prêmio FNLIJ
Vamos falar das premiações e seleções nacionais? Você já deve ter visto alguns desses selos nos livros por aí:
Prêmio FNLIJ,
Altamente recomendável e
Acervo básico.
São chancelas e premiações anuais, que funcionam assim:
A FNLIJ recebe das editoras os livros publicados que a editora desejar mandar para a premiação. A premiação do ano avalia a produção do ano anterior.
Ou seja, os livros premiados em 2020 foram os enviados pelas editoras em 2019 -- produzidos também nesse ano.
Dessas obras, entre todas as editoras que mandaram os livros, a FNLIJ
escolhe as melhores em 18 categorias.
As categorias são: Criança; Imagem; Informativo; Jovem; Literatura em Língua Portuguesa; Livro Brinquedo; Melhor Ilustração; Poesia; Projeto Editorial; Reconto; Teatro; Teórico; Tradução / adaptação (criança / jovem / informativo / reconto); Escritor Revelação; Ilustrador Revelação.
Todas essas obras
recebem o selo Altamente recomendável e seguem
concorrendo ao Prêmio FNLIJ, que vai escolher a melhor por categoria.
Quem escolhe e com quais critérios
As obras são avaliadas por especialistas escolhidos pela FNLIJ. Esses especialistas são chamados de "leitor-votante". São professores, pesquisadores, profissionais do livro, jornalistas especializados.
Uma das leitoras-votante, por exemplo, é Fabíola Farias, mestre e doutora em Ciência da Informação pela Universidade Federal de Minas Gerais, que coordenou a rede de bibliotecas públicas de Belo Horizonte (MG) e que
foi articulista aqui do Blog da Brinque.
Neste caso da seleção dos livros considerados
Altamente recomendáveis, alguns dos critérios dos leitores-votantes da FNLIJ -- aqueles que vão votar na escolha dos melhores livros -- são:
- a originalidade do texto,
- a originalidade da ilustrac?a?o,
- o uso arti?stico e competente da li?ngua e do trac?o,
- a qualidade das traduc?o?es,
- o objeto- livro, que inclui o projeto editorial e gra?fico.
O que aprender com os critérios dos especialistas
Esses critérios podem servir de parâmetros para a nossa escolha como mães, pais, adultos mediadores de leitura, certo? Olhando para cada um deles com cuidado, a gente pode pensar algumas coisas.
Por exemplo:
1- Textos literários
Quando a gente fala em texto bem trabalhado e original, estamos falando em
estética literária, em obras de arte.
São essas características que vão
ajudar o leitor a ganhar fluência literária, ampliar repertório e conhecimento, aumentar o vocabulário.
Além disso, é essa experiência artística que é capaz de
ampliar nossa sensibilidade, nos permitir
sentir e elaborar sensações, entrar num mergulho dentro e fora de nós ao mesmo tempo, como todo boa obra de arte.
A originalidade pode significar também
diversidade de temas e experiências, o que é essencial na formação leitora.
São critérios que podem orientar sua escolha nas livrarias, bibliotecas, feiras de troca... ou em qualquer ambiente em que você exercite a escolha das obras para seus filhos.
2- Galeria de arte
Qualidade das ilustrações é essencial, porque enriquece a experiência estética e vai inserindo o leitor no mundo das artes visuais. Quanto mais diversidade visual, melhor!
Não à toa, a ilustradora tcheca Kveta Pacovska, ganhadora do
Hans Christian Andersen, disse o seguinte:
---"
Um livro ilustrado é a primeira galeria de arte que uma criança visita
"---
Essa frase dela ficou super famosa, justamente porque resume bem o tipo de experiência que uma ilustração de qualidade pode proporcionar às crianças.
3- O livro como objeto
A gente não pode esquecer também de avaliar o objeto-livro. O que significa isso? Envolve toda a experiência sensorial e visual com a obra, para além da ilustração.
Que tipo de papel é usado; se a capa é dura ou não; qual é o formato da obra e como isso facilita a leitura e a fruição; que tipo de recursos gráficos foram usados para contar a história; o projeto gráfico, o tipo de letra...
Tudo conta na experiência leitora. Mesmo sem a gente perceber isso claramente, tem livros que são mais confortáveis e de ler, de pegar.. Isso tudo tem a ver com a harmonia de um projeto gráfico bem pensado.
Outros critérios para escolher
Se os prêmios podem nos ajudar a fazer escolhas seguras, porque, afinal, um especialista já leu e já chancelou as qualidades de determinada obra, também é verdade que essas não são as únicas formas de reconhecer uma obra que precisa morar na nossa estante.
Fabíola Faria, leitora-votante da FNLIJ, que já mencionamos alguns parágrafos acima, escreveu um artigo para o blog em que fala justamente da importância de refinarmos nosso olhar para ficarmos cada vez mais sabidos e sabidas nas nossas escolhas, para além dos prêmios, listas, seleções.
Diz ela, no artigo:
"Uma visita a uma livraria ou a uma biblioteca pública pode ser uma boa oportunidade para conhecer autorias e experimentações estéticas distintas, gêneros textuais diversos, produções de momentos anteriores e também os livros destacados pelas listas de melhores do ano".
Leia o artigo na íntegra aqui:
https://blog.brinquebook.com.br/papo-brinque-book/artigo-quem-escolhe-os-livros-para-as-criancas-por-fabiola-farias/
O que faz bater seu coração? Que livro te emociona? Do que seus filhos gostam, pelo quê se interessam? Esses são também bons critérios.
No ano passado, o portal especializado em infância
Lunetas publicou uma conversa com duas especialistas sobre esse tema da escolha de obras.
Elas elencaram alguns critérios que você pode observar na hora de escolher. Você pode ler o texto todo aqui embaixo:
https://lunetas.com.br/como-escolher-livros-infantis-de-qualidade/
Mas trouxemos algumas dicas para cá. As especialistas ouvidas pela reportagem são Ana Leme, do site / perfil
Movimento Literário e Ana Paula Campos, do
Estúdio Voador, que
já entrevistamos aqui no blog.
- Este livro prima pela qualidade da linguagem?
- Posso olhar para este livro como um objeto cultural?
- As ilustrações e o texto dialogam? Ou as imagens são meramente redundâncias do texto? Houve uma preocupação com o estético?
- As ilustrações ajudam a entender e acrescentam algo que não está nos textos?
- Há variedade de tipos de ilustração? Por exemplo, imagens mais poéticas e outras mais explicativas?
5 livros altamente recomendáveis em 2020
Quer ideias de livros que já foram selecionados pela FNLIJ?
Do
Grupo Brinque-Book foram escolhidas nada menos que cinco obras para levar o selo
Altamente recomendáveis, ou seja, títulos que estão entre
os melhores produzidos em 2019.
Conheça essas obras a partir de agora.
Autor e ilustrador: Jean-Claude
Temas: Números / Relacionamento familiar / Cores / Humor / Animais / Brincadeiras / Diversão / Matemática / Imaginação
Faixa Etária: A partir de 2 anos (leitura compartilhada) ou 6 anos (leitura independente)
O que mais diverte as crianças quando seus pais brincam com elas? Neste livro, um pequeno vive pedindo desenhos. O pai, brincalhão, coloca em um papel compriiiido suas melhores versões de girafas. Com seus pescoços looongos, os bichos tomam conta das páginas e vão se multiplicando, mostrando que nessa brincadeira de desenhar também há um tanto de matemática. Mas ora, onde foi parar a girafa número 10?
Detalhe:
a obra é inspirada na relação do autor com seu pai, que lhe fazia desenhos de girafa quando pequeno.
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Autora: Luciana Sandroni
Ilustradores: Guilherme Karsten e Natália Calamari
Temas: Biografia / Identidade / Criatividade / Infância / Cultura brasileira
Faixa Etária: A partir de 8 anos
Nesta obra, Luciana Sandroni (autora da
premiada série Ludi, que completou 30 anos em 2019!), nos conta pequenas biografias de 20 personalidades essenciais para o Brasil, mas, às vezes, ainda desconhecidas. São 10 mulheres e 10 homens, entre eles: Chiquinha Gonzaga, Antonieta de Barros, Djanira, Zumbi dos Palmares, Grande Othelo e Pixinguinha.
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Autor:Lalau
Ilustradora: Laurabeatriz
Temas: Poesia, rima, ritmo, humor, escrita criativa, natureza, cotidiano
Faixa Etária: A partir de 8 anos
Palavras miúdas e simples, como
Até,
Igual,
Talvez,
Quem e
Se são o ponto de partida para uma obra poética cheia de rimas e metáforas. Da dupla Lalau e Laurabeatriz, que já assinaram 50 livros juntos, todos os 24 poemas do livro falam das coisas simples, bonitas, profundas e complexas da vida. Do vaga-lume que brilha, sozinho, numa noite cheia de estrelas, à constatação ética e poética de que eu, tu, ele, nós, vós e eles somos iguais, afinal de contas.
O humor também aparece – se há mais mistério entre o céu e o telescópio, o que há entre o olhar e o caleidoscópio? E, como poesia boa deixa sempre aquele ponto de interrogação dentro da gente, aqui, a certeza fica em dúvida e nasce então um talvez!
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Autora / Ilustradora: Marie-Louise Gay
Tradutora: Gilda de Aquino
Temas: Solidariedade / Amizade / Empatia / Resiliência / Relacionamento Familiar / Imigração / Refugiados
Faixa Etária: A partir de 3 anos (leitura compartilhada) / A partir de 7 anos (leitura independente)
Mustafá conta a história de um garoto que teve de sair de seu país com a família e aos poucos descobre seu novo lar. A Lua, as estações, as flores, os insetos e a música desse lugar ora lhe lembram a sua antiga terra, ora o encantam pelo que têm de diferente do que ele já conhece.
Mesmo com esse mundo novo a descobrir, Mustafá sente-se invisível ali onde as pessoas falam uma língua que ele não entende. Mas, um dia, uma menina, com um gesto simples, irá mostrar a ele que a amizade, a gentileza e o afeto superam as fronteiras entre línguas e lugares.
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Autora:Beatriz Osés
Ilustrador: Jordi Sempere
Temas: imigração / refugiados / solidariedade /
convivência social / identidade / astúcia
Faixa Etária: A partir de 8 anos
Eu sou Omar e sou uma noz! Omar “cai” no quintal de uma advogada, vindo de um lugar longínquo, num barco-noz que naufragou. Sua tarefa: sobreviver e convencer um juiz de que, por ser uma noz, precisa ficar com Marinetti, uma advogada solitária e briguenta que deseja cuidar dele. Quando a realidade é absurda, um menino ser uma noz faz todo sentido.
O discurso do narrador, os depoimentos de Omar e da vizinhança onde ele “caiu” nos conduzem, com suas múltiplas vozes, nesse conto de renascimento e imaginação. Sobrevivendo, Omar trouxe vida a uma comunidade e revelou, não apenas suas origens, mas também a de todos nós: quem nunca teve asas de borboleta, voou feito passarinho ou se sentiu um pêssego ou, quem sabe, nasceu castanha sem saber?
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Acervo básico, Hans Christian Andersen e Bolonha
Lá no começo do post, contamos que a FNLIJ também concede o selo
Acervo básico, seleciona livros para a feira de Bolonha e indica autores nacionais para concorrer ao
Hans Christian Andersen, certo?
Vamos falar sobre cada um deles:
Selo Acervo Básico
Entre os outros livros enviados pelas editoras, mas que não levaram a premiação nem estão na seleção dos altamente recomendáveis, a FNLIJ escolhe os que, mesmo assim, tem
qualidade literária para estar no acervo das bibliotecas, escolas, secretarias de Educação.
Funciona como uma
indicação de bons livros para esses equipamentos públicos e mesmo privados. Estas obras recebem o selo
Acervo Básico.
Seleção Bolonha
Como seção oficial do IBBY no Brasil, é
a FNLIJ que seleciona as obras que vão representar nosso país na Feira do Livro de Bolonha, uma das principais do setor.
Neste ano, por exemplo, a FNLIJ levou na mala para a cidade italiana três títulos do nosso catálogo:
Girafas, de Jean-Claude Alphen;
A poesia pede a palavra, de Lalau (texto) e Laurabeatriz (ilustrações) e
Era uma vez 20, de Luciana Sandroni (texto), Natália Calamari e Guilherme Karsten (ilustrações).
Tem um texto explicando a ida à Bolonha direitinho aqui embaixo:
https://blog.brinquebook.com.br/ler-ler/livros-brinque-book-bolonha-2020/
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E
você? Que critérios usa para escolher?