Fim da saga: tudo sobre o último livro do Capitão Cueca

11/05/2022

Mesmo quem nunca leu os livros do Capitão Cueca já ouviu falar nele e sabe do que se trata. É esse o tamanho do sucesso da saga do herói, que já virou filme (2017) e série de streaming e que, na história, é criado por dois meninos na escola, Jorge e Haroldo. Por trás deles está o autor e ilustrador norte-americano Dav Pilkey, criador também da série do Homem-Cão, do Clube do Pepezinho e do SuperBebê Fraldinha. Agora, com o lançamento do 12º e último volume, Capitão Cueca e a saga sensacional de Fedor, o grande, pela Companhia das Letrinhas, a saga engraçada e irreverente do herói cuequento chega ao fim. 

 

 

As histórias, que começaram lá em 1997, com o lançamento do volume 1, As aventuras do Capitão Cueca em cores!, já conquistaram mais de uma geração e a tendência é que sigam cativando mais e mais leitores, de diferentes idades - no Brasil, a Companhia das Letrinhas publica as aventuras do herói desde 2017. Jorge e Haroldo são vizinhos e colegas de sala. Eles não são grandes fãs do estudo e, sobretudo, dos adultos que comandam a escola. A partir daí, começam a criar histórias em quadrinhos para vender no recreio. Nelas, o diretor da escola, o ranzinza Sr. Krupp, ao som de um estalo de dedos, se transforma no Capitão Cueca, que salva o mundo de vários vilões. Quando é molhado, o herói volta a ser o Sr. Krupp. 

LEIA MAIS: Como estimular a leitura na pré-adolescência?

 

Capa do volume 12 do Capitão Cueca

 

Por que a saga é um sucesso entre adultos e crianças?

Para Antonio Castro, editor da versão em português do livro, grande parte do sucesso se deve à identificação que os leitores sentem diante dos personagens. “Ele guarda em si muitas coisas essenciais da infância, com as quais o adulto se identifica, porque lembra, e a criança se vê completamente ali”, diz ele. “É uma coleção para a vida toda. Daqui a vinte anos, Capitão Cueca vai estar sendo vendido porque os adultos de então, que começaram a ler hoje, como crianças, e cresceram, vão querer dar para os filhos, filhos de amigos, sobrinhos…", avalia.

Um desses leitores é Miguel, 8 anos, filho da psicanalista e educadora parental Elisama Santos. Em entrevista ao Blog da Letrinhas, ele conta que conheceu o Capitão Cueca aos 6, pela televisão. Quando começou a ler, não parou mais. Os personagens favoritos dele? Jorge e Haroldo, os meninos travessos, criadores dos quadrinhos que transformam o diretor da escola no super-herói que dá título à saga. 

Ilustração de Capitão Cueca 12

Miguel se identifica com a dupla porque ele também gosta de desenhar e diz que inventa, ele mesmo, muitas histórias em quadrinhos. “Essa semana criei a história do impostor amarelo. Invento histórias para dar de presente nos aniversários dos amigos”, explica. As histórias preferidas dele, dentro das aventuras do Capitão Cueca, são as que acontecem a partir do volume 8 [Capitão Cueca e a sina ridícula do povo do penico roxo - em cores!], “porque eles [Jorge e Haroldo] viajam no tempo e encontram as versões do mal deles mesmos, o mundo reverso deles mesmos”, explica. No entanto, para Miguel, que leu até o volume 9, a parte mais interessante ainda está por vir. “Acho que os melhores vão ser os que ainda não li”, conta, ansioso para saber como a história vai continuar.  

Os pais também percebem essa perpetuação das histórias entre crianças e adolescentes de várias idades. “Meus filhos gostam muito de livros. O Juan Carlos, que tem 16 anos, leu todos e passou agora para a Nicole, minha filha de 13, que adora. Eles são assim: um começa a ler, depois passa para o outro, vão indicando”, conta Renata Bastos, que é produtora de festas e mãe de três. 

 

E o que esperar do 12º volume?

Na aventura que encerra a saga, Jorge e Haroldo precisam lidar com o Sr. Edomal, o professor de educação física, que encontra uma maneira de transformar todas as crianças em zumbis obedientes e controlados, loucos para fazer a lição de casa e fazerem tudo o que os adultos pedem. Então, eles precisam impedi-lo de dominar o mundo, ao lado de suas cópias - que surgiram nas histórias anteriores e seguem fazendo parte da narrativa. “O encerramento amarra muito bem as histórias”, diz o editor, Antonio Castro. (ALERTA DE SPOILER!) “Quando eles terminam a última aventura, estalam os dedos e o Capitão Cueca não vem para o Sr. Krupp, ele não se transforma desta vez. Aí, eles começam a escrever a outra história em quadrinhos, que é o Homem-Cão. Então, deixam aberto para um futuro ali, para novas aventuras acontecerem”, explica. 

Ilustração do livro Capitão Cueca, volume 12

Os livros, aliás, podem ser lidos separadamente, já que cada um contém uma introdução que resume o que aconteceu nos capítulos anteriores. No entanto, para Antonio, fazem mais sentido quando lidos em sequência, justamente por conta desses elementos que vão sendo acrescentados ao longo das histórias, como as cópias de Jorge e Haroldo e o dinossauro, que é como se fosse um pet dos meninos, entre outros. “Funciona individualmente, mas traz muito a importância de ser uma história completa e é por isso que o 12º volume fecha com chave de ouro e dá uma sensação de ‘puxa, é isso!’, sabe? A aventura acaba aqui”, opina. 

 

O humor e a linguagem como ponto de identificação

Alguns críticos das histórias de Dav Pilkey citam o fato de os personagens serem politicamente incorretos, no sentido de que Jorge e Haroldo não são, exatamente, alunos exemplares na escola e usam vocabulário que inclui escatologias. Na introdução do 12º livro, o próprio Pilkey brinca com isso, ironizando. 

“Antes de começarmos, devo observar que não é educado usar a palavra porcaria. Estes livros já foram muito criticados pela linguagem inadequada, então vamos acabar com isso de uma vez por todas. De agora em diante, você não lerá mais palavras como porcaria, xixi, pum e piu-piu. Não, senhor! Esses termos são muito ofensivos a pessoas que não têm nada para fazer”, diz o texto. 

LEIA MAIS: Histórias de detetive e mistério: por que elas fascinam tanto as crianças?

Para Antonio, o vocabulário é um dos pontos altos de identificação com a criança. “O jeito que os personagens falam, as reações que eles têm, tudo isso faz com que a leitura se torne mais fluida, que fique mais fácil para uma criança pegar e ler o livro sozinha, por exemplo, sem a mediação de um adulto”, afirma. O grande desafio na adaptação, diz o editor, é manter o humor e a irreverência dos personagens, sem cair em estereótipos. “Sinto que, no Capitão Cueca, a gente conseguiu encontrar um caminho para não perder a graça e não tirar o significado do livro para o autor, porque acho que temos uma obra a zelar, cuidar, respeitar”, afirma. 

Ilustração do interior do livro Capitão Cueca 12

Livros para entretenimento

Há um debate também que divide os livros em histórias de puro entretenimento e histórias que, declaradamente, ensinam algo, têm um fundo moral. Capitão Cueca prima pelo entretenimento, por despertar o riso e o prazer na leitura ao se aproximar do universo infantil. E isso já é um ganho e tanto, lembrando ainda que o humor é uma ferramenta narrativa sofisticada, que leva a questionamentos e desperta o senso crítico. “É até uma coisa que o Dav Pilkey defende muito. Ele conta que, quando ele era criança e vinha com uma leitura não escolar para a sala de aula (e, não à toa, os professores são figuras muito controversas no Capitão Cueca), os professores dele reprimiam, não o deixavam ler e obrigavam a ler obras literárias de grande valor ou que pelo menos eles consideravam importantes para a educação, mas que ele (Pilkey) achava chatas, não gostava”, conta o editor. 

“Esses livros, que se pretendem apenas como entretenimento, são, muitas vezes, a porta de entrada para o universo da leitura, para o gosto pela leitura”, afirma Antonio. Tanto é, lembra ele, que todas as pessoas adultas que gostam muito de ler hoje têm aquele livro que as iniciou no amor à literatura, algum clássico infantil. “O Capitão Cueca tem muita coisa para ensinar, só que ele é, antes de tudo e principalmente, uma grande aventura, um desenho animado. São dois meninos brincalhões, levados, comuns, crianças que estão aprontando e, a partir disso, muita coisa acontece", defende o editor.

Existe uma valorização da criatividade, do lúdico, que é importante porque as crianças são as protagonistas do Capitão Cueca. Elas estão sempre contra os adultos, que são, por algum motivo, os ‘menos inteligentes’, que aprontam, dão problemas. Acho que, quando uma criança vê esse tipo de coisa, ela se sente valorizada, se identifica e isso faz parte do valor do Capitão Cueca. Isso o torna mesmo uma porta de entrada para o universo da leitura (Antonio Castro)

Prontos para encerrar a saga e rir pra valer? 

Compartilhe:

Veja também

Voltar ao blog