Se tudo é mesmo semente, o artista plástico Carlos Matuck ajudou a “germinar” também o sonho da Companhia das Letrinhas. Ele, que era capista e ilustrador de jornais e revistas, embarcou nessa ideia, no começo dos anos 1990, fazendo algo que nunca tinha feito: livros infantis. O ano era 1993 e Carlos ilustrou Um jogo perigoso, de Beatriz Fonseca, e Tudo é semente, junto com seu irmão, Rubens Matuck.
A Companhia das Letrinhas mudou a qualidade da produção de livros.
(Carlos Matuck)
Em Um jogo perigoso, seus traços fortes e modernos ajudam a contar uma história de aventura sobre os perigos de brincar com as palavras. Tudo é semente é uma obra diferente, composta por três histórias, que se conectam por meio da figura intrigante de um personagem conhecido no Brasil e no mundo: o aviador Santos Dumont. “Um jogo Perigoso foi uma experiência pioneira para mim, que era capista e ilustrador de jornais e revistas. Tive que aprender a ilustrar uma história inteira, desenhar personagens e gostei muito. Em Tudo é semente, trabalhei mais os textos, mas era um sonho de criança, então, me empenhei como nunca antes”, contou Matuck, em uma conversa exclusiva com o Blog da Letrinhas. Confira:
*Para comemorar os 30 anos da Companhia das Letrinhas (em 2022) e o Mês das Crianças, durante outubro você confere uma série de entrevistas exclusivas com grandes autores e ilustradores brasileiros que fazem parte dessa história, sejam nossos primeiros parceiros, sejam aqueles que ganharam os maiores prêmios de literatura infantil. Acompanhe tudo no Blog da Letrinhas, no site criado especialmente para essa festa e nas nossas redes sociais.
Como começou a sua relação com a Companhia das Letrinhas? Como foi fazer o primeiro livro e o que mais te marcou nesse processo?
Comecei a trabalhar como capista com Luiz [Schwarcz, fundador da Companhia das Letras com a esposa, Lilia Schwarcz] na Editora Brasiliense, no início dos anos 1980. De alguma forma, participei da criação da Companhia das Letras porque éramos amigos quando Luiz decidiu fundar a editora. Ilustrei Um jogo perigoso, de Beatriz Fonseca, e, com meu irmão, Rubens, Tudo é semente, os dois em 1993. Um jogo perigoso foi uma experiência pioneira para mim, que era capista e ilustrador de jornais e revistas. Tive que aprender a ilustrar uma história inteira, desenhar personagens e gostei muito. Em Tudo é semente, trabalhei mais os textos, mas era um sonho de criança, então, me empenhei como nunca antes. O que marcou foi a liberdade com que a Lili nos deixou trabalhar, principalmente num livro como o Tudo é semente, que sabíamos não ter um grande apelo comercial, apesar de Santos Dumont.
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A Companhia das Letrinhas está completando 30 anos. Nessas três décadas, qual foi a transformação mais importante na literatura infantil, tanto em termos de texto como ilustração e produção gráfica, na sua avaliação, e por quê?
Não sou especialista e trabalhei pouco na área para dar uma resposta competente, mas, se tivesse que falar algo, diria que a revolução digital e o acúmulo absurdo de opções da internet é o maior desafio para os livros infantis. Acho que teremos que lutar muito pela atenção das crianças em relação à leitura e à educação visual para que não sejam tragadas pelo tudo que é nada da internet.
Como você vê/avalia a participação da Companhia das Letrinhas no mercado editorial e na própria história da produção literária para a criança?
Só posso dizer que acho que a Companhia das Letrinhas teve um papel parecido com o da 'Letronas': fez com que o mercado editorial deixasse a adolescência para trás e ingressasse na fase adulta. Mudou a qualidade da produção de livros, mudou a qualidade da relação com os autores, mudou a qualidade da relação com o mercado livreiro.
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