Bienal do Livro do Rio: mais vendidos retratam questões sociais e raciais

19/09/2023

 

A Bienal do Livro 2023, realizada no Rio de Janeiro, entra para a história como a maior de todos os tempos, com recorde de público e de vendas de livros. Segundo a organização, mais de 600 mil pessoas passaram pela feira e 5,5 milhões de livros foram vendidos. Mas os números astronômicos não foram o único destaque. Ao menos no estande dos selos infantis da Companhia das Letras – Companhia das Letrinhas, Brinque-Book, Pequena Zahar e Escarlate –, outra característica se fez presente: entre os livros mais vendidos da Bienal, despontam títulos que tratam de questões sociais, raciais e de diversidade.

Ilustração do livro Neguinha, sim, de Renato Gama

Em Neguinha, sim!, campeão de vendas na Bienal, Renato Gama canta a identidade e a ancestralidade negras

“Penso que tínhamos uma expectativa moderada de garantir um lugar entre os mais vendidos de títulos voltados para questões de representatividade, considerando a quantidade e a variedade que oferecemos em catálogo, mas acho que dois fatores foram fundamentais para que isso ocorresse”, analisa Ana Tavares, editora executiva do núcleo infantil da Companhia das Letras e editora da Pequena Zahar. “O primeiro diz respeito ao preço da coleção Canoa, que, além de ter um custo mais acessível, trouxe uma boa amostragem de títulos repletos de muita diversidade”, diz. Os livros da coleção – dez títulos no total, sendo seis lançamentos – são comercializados a R$ 9,90 cada.

“O segundo fator, acredito, tem a ver com a lista de obras sugeridas para adoção escolar elaborada pela Secretaria de Educação do município em sintonia com nosso departamento de educação. Na lista, estão os principais títulos com protagonismo negro em nosso catálogo e, não à toa, vários deles acabaram se tornando destaques no ranking de vendas”, explica.

 

Ilustração do livro Cinderela e o baile dela

Em Cinderela e o baile dela, a protagonista não quer saber de nenhum sapatinho para dançar

 

Os livros campeões de venda

Nosso campeão de vendas foi Neguinha, sim!, lançamento de Renato Gama, um poema-musical que já foi interpretado por diversos artistas, incluindo Izzy Gordon, e que foi publicado dentro da coleção Canoa. O segundo colocado foi Amoras, de Emicida, um sucesso de vendas do catálogo da Companhia das Letrinhas, que também é derivado de uma música de mesmo nome (presente no álbum Sobre Crianças, quadris, pesadelos e lições de casa). Ambos falam sobre o orgulho das identidades e características afro das protagonistas. O terceiro foi Cinderela e o baile dela, de Janaina Tokitaka, que, além de empoderar meninas, tem como protagonista uma Cinderela negra e está inserido na coleção Canoa.

 

Confira abaixo a lista completa dos livros mais vendidos na Bienal 2023

 

Intuitivamente, Ana Tavares acredita que essa lista possa ser uma tendência, reflexo dos anseios da sociedade por mais títulos que contemplem questões sociais, raciais e de narrativas diversas. “Nossos lançamentos têm sido pautados por esses anseios, mas sempre com um olhar para a literatura de qualidade. Isto é, as escolhas precisam não só assegurar uma quantidade de temas de interesse do público geral, mas também garantir que a qualidade literária e a artística sejam preservadas”, comenta.

 

1) Neguinha, sim!, de Renato Gama

Um dos grandes sucessos da Coleção Canoa, a obra, de autoria de Renato Gama, com ilustrações de Bárbara Quintino, traz à tona o orgulho de ser quem se é, vendo força e beleza em cada detalhe. Um livro inspirado em uma música que vibra ancestralidade - e nos faz ler quase cantando.

 

Capa do livro Amoras, de Emicida

O primeiro livro infantil de Emicida, com ilustrações de Aldo Fabrini, é ao mesmo tempo poesia e manifesto  Em uma visita despretensiosa ao pomar, a pequena Estela chega por si mesma a uma dedução incrível, como canta o rap: "Que a doçura das frutinhas sabor acalanto/ Fez a criança sozinha alcançar a conclusão”.

 

3) Cinderela e o baile dela, de Janaina Tokitaka

Capa de Cinderela e o baile dela

Escrito por Janaina Tokitaka e ilustrado por Flávia Borges para a Coleção Canoa, esta versão mais moderninha do clássico Cinderela muda tudo. A fada madrinha sai de dentro de uma abóbora - espalhando glitter! E o tão desejado baile acontece… mas não do jeito que nós - e ela - esperávamos.

 

4) E foi assim que eu e a escuridão ficamos amigas, de Emicida

Capa de E foi assimq que eu e a escuridão ficamos amigas

Nesta história, havia uma menina, que como tantas outras meninas, tinha medo da Escuridão. Mas uma noite, ela consegue ver além… e encontrou do outro lado algo surpreendente - o temor não pelo escuro, mas pela aurora. O segundo livro de Emicida, que repete a parceria com Aldo Fabrini nas ilustrações, mostra o outro lado do medo - e pode ajudar as crianças e desmistificarem seus próprios monstros.

 

Capa de O pedido da fada madrinha

Ninguém tem ideia do quanto pode ser cansativo para uma fada madrinha viver para atender todos os pedidos das princesas… mas no dia se seu próprio aniversário, ela avisa: não quer ser incomodada. Um dos livros escritos por Janaina Tokitaka e ilustrado por Flávia Borges para a Coleção Canoa. 

 

6) O pequeno sereio, de Janaina Tokitaka

Capa de O pequeno sereio

Nas histórias, o canto das sereias é famoso por encantar e até levar marinheiros à loucura. Mas, nesta história, o sereio Gabriel tem é vergonha de cantar. Um reconto sobre coragem e cantoria, escrito por Janaina Tokitaka e ilustrado por Flávia Borges para a coleção Canoa.

 

7) Aporofobia, de Blandina Franco e José Carlos Lollo

Capa de Aporofobia, de Blandina Franco e José Carlos Lollo

As pessoas em situação de rua não têm apenas negados os direitos a uma casa, a tomar um banho quente, a ter comida boa na mesa. Nesta história,  contada e ilustrada por Blandina Franco e José Carlos Lollo, com a participação do Padre Júlio Lancellotti, testemunhados os insultos despejados sobre uma família em situação de vulnerabilidade.. Um retrato da invisibilidade e da violência que pessoas pobres experimentam todos os dias - que, com sorte, seja capaz de despertar em nós a empatia.

 

8) Da minha janela de Otávio Júnior

Capa de Da minha janela

Quantas histórias contam uma paisagem? O que vemos ao olhar pela janela? No morro, são diferentes rostos que surgem nas janelas. Lá embiaxo, um campinho de futebol. O que você vê? Quando observamos os detalhes, e depois fechamos os olhos, muita coisa pode surgir. 

 

9) Tayó em quadrinhos, de Kiusam de Oliveira

Capa do livro Tayó em quadrinhos, que trata de ancestralidade, racismo, machismo e outras questões

Celebrar a ancestralidade. Valorizar quem se é. Demonstrar  Nas histórias em quadrinho, bem curtinhas, que compõem este livro, conhecemos Tayó, uma menina forte e emponderada, capaz de inspirar toda uma geração de meninas a serem como ela - mesmo que não usem uma coroa na cabeça. Uma obra de Kiusam de Oliveira, escritora e educadora com 30 anos de vivência na escola. 

 

10) Diário de Pilar na Amazônia: urgente, de Flávia Lins e Silva e Joanna Pena

Capa de O diáriod e Pilar na Amazônia: urgente

O cuidado com o nosso planeta é urgente. Esse é o apelo de Pilar, a corajosa aventureira que, desta vez, parte em uma jornada  que explora a Amazônia, junto com seu amigo Breno e o gato Samba. Lá, eles vão enfrentar um grupo de mateiros, se aventurar pelos rios da região em embarcações diversas e encontrar algumas entidades mitológicas.

 

11) De passinho em passinho, de Otávio Júnior

Capa do livro De passinho em passinho, que retrata esta mistura de ritmos do funk, capoeira, frevo e samba, do escritor Otávio Júnio

O premiado autor Otávio Júnior, conhecido como o livreiro do Alemão, retrata mais uma vez a comunidade ao fazer um livro sobre o passinho,  que nasceu no Rio e mistura ritmos do funk, capoeira, samba e frevo. 

 

12) Até as princesas soltam pum, de Ilan Brenman

Capa do livro Até as princesas soltam pum, de Ilan Brenman

Sucesso do autor Ilan Brenman de outras edições da Bienal do Livro, este livro acompanha a curiosidade de uma garotinha: as princesas soltam pum? Para solucionar esta dúvida, o pai dela recorre ao "livro secreto das princesas" e descobre que todos somos bastante iguais em momentos assim, e que os contos de fadas não foram tão bem contados e escondem alguns segredos.

 

13) O sapo bocarrão, de Keith Faulkner

Capa do livro O sapo bocarrão, sucesso no catálogo da Companhia das Letrinhas

Publicado no Brasil em 1996, este livro de Keith Faulkner está sempre entre os mais procurados do catálogo da Companhia das Letrinhas - e também foi sucesso na Bienal do Livro de São Paulo. O leitor acompanha as conversas de um sapo guloso com vários animais, perguntando a todos o que gosta de comer - até ouvir uma resposta da qual ele não gosta nem um pouquinho. A divertida história traz dobraduras-surpresa em todas as páginas.

 

14) As aventuras do Capitão Cueca - em cores, de Dav Pilkey

Capa do livro As aventuras do Capitão Cueca em cores

Este super-herói de uniforme bastante inusitado também costuma estar sempre entre os mais vendidos da Bienal. Fruto da criação dos alunos Jorge e Haroldo - e da mente divertida do autor Dav Pilkey - este volume abre a saga do Capitão Cueca, que tem 12 histórias e incontáveis motivos para dar risada. 

 

15) Uma carta para o pirata, de Mari Bigio

Capa do livro Uma carta para o pirata, de Mari Bigio, pela Coleção Canoa, de livros a preços acessíveis

Um dos primeiros livros integrantes da coleção Canoa, de livros a preços acessíveis, Uma carta para o pirata conta a divertida história de um pirata que não sabe nadar e que tem medo da mãe. Com versos rimados em cordel, o livro vai arrancar muitas gargalhadas da família inteira.

 

16) Os dengos na moringa de voinha, de Ana Fátima

Capa do livro Os dengos na moringa de voinha, de Ana Fátima

Quantas lembranças e afetos uma moringa pode guardar? Quais são os símbolos que nos remetem para a infância, a vivência em família, o cafuné de mainha, o abraço de voinho, a comida saborosa da tia? Neste livro cheio de memórias afetivas, acompanhamos a vida de uma família contada pela moringa de Voinha, simbolicamente como a guardiã da ancestralidade.

 

17) Bela, a fera, e Fernão, o belo, de Janaina Tokitaka

Capa do livro Bela, a fera e Fernão, o belo, de Janaina Tokitaka, da coleção Canoa, de preços acessíveis

O livro faz parte dos quatro títulos escritos por Janaina Tokitaka para a coleção Canoa, em que ela reconta os contos de fadas quebrando estereótipos. Aqui, Bela é forte, ri de piadas de pum e não tem paciência para ser uma princesinha delicada. Já Fernão tem uma sensibilidade bem aflorada para tudo aquilo que é belo e frágil. E este encontro vai dar no que falar!

 

18) Omo-oba: histórias de princesas e príncipes, de Kiusam de Oliveira

Capa do livro Omo-oba, histórias de princesas e príncipes, de Kiusam de Oliveira

Os mitos iorubás de princesas e príncipes africanos são recontados neste livro de Kiusam de Oliveira, feito para empoderar meninos e meninas ao mostrar a verdadeira ascendência da população negra no Brasil. 

 

19) Bruxa, bruxa, venha à minha festa, de Arden Druce

Capa do livro Bruxa, bruxa venha à minha festa

Com ilustrações enormes e de botar medo, as crianças acompanham uma garota a convidar seres assustadores para sua festa. A cada página virada, um ser assombrado impõe como condição que se chame outro e assim vão bruxa, gato, lobo, cobra, fantasma e até uma personagem aparentemente inofensiva: Chapeuzinho Vermelho. Para Halloween nenhum botar defeito!

 

20) A bruxa do breu, de Mari Bigio

Capa do livro A bruxa do breu, da coleção Canoa

Mais divertida que propriamente assustadora, esta bruxa aqui está mais preocupada em aparecer na televisão do que assustar as pessoas. Em versos rimados, Mari Bigio consegue fazer uma história divertida para toda a família. O volume é um dos quatro primeiros da coleção Canoa, de livros a preços acessíveis.

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