Em sete histórias do folclore mundial, os homens recebem o castigo de serem transformados em bichos - princesas são transformadas em sapa;, indiazinhas, em onças; príncipes, em lagartos; moças viram lobas; e mulheres, peixes que reinam sobre as águas.
Em sete histórias do folclore mundial, os homens recebem o castigo de serem transformados em bichos - princesas são transformadas em sapa;, indiazinhas, em onças; príncipes, em lagartos; moças viram lobas; e mulheres, peixes que reinam sobre as águas.
Pesquisas antropológicas recentes vêm insistindo na ideia de que os ameríndios possuiriam um estatuto original: entre eles não existiria uma diferenciação entre humanos e animais. É isso que conta a variada mitologia desses povos: haveria um estado de coisas em que os corpos, os nomes, as almas e as ações apareceriam misturadas desde o início dos tempos.
Bem, nós não costumamos partilhar dessa continuidade metafísica entre homens e animais - como lembra Ernani Ssó, na apresentação de Virou bicho!: "Para nós, os homens são homens e a natureza é natureza, com as árvores e os animais. Nós aqui e ela lá". No entanto, há inúmeros relatos do folclore mundial em que princesas e príncipes são transformados em bichos.
É verdade que isso aparece como uma maldição terrível, e em nossas histórias os mocinhos e mocinhas lutam loucamente para voltar a ser gente. De fato, entre nós a mistura não é tão tranquila, e os dilemas são outros. Quem sabe as sete histórias deste livro - assim como as várias outras do mesmo rol - não estejam nos dando uma dica: que aprendamos a lidar com a fera que há em nós e com a fera que há nos outros.