"Levei oito longos anos para pesquisar e escrever o livro As barbas do Imperador. Já naquela época, de tanto pesquisar, acabei me sentido como uma amiga de Pedro II; quase uma parente próxima. Tanto que, quando minha família organizou uma festa surpresa para meu aniversário de 40 anos, na hora de soprar as velas recebi um bolo e nele uma mensagem assinada por Pedro II: 'Por razões históricas não posso comparecer nessa festa, mas saúdo a investigadora e amiga que tanto mexeu nas minhas barbas'. De lá para cá — e já faz mais de dez anos que o livro foi publicado pela primeira vez —, muita coisa aconteceu e muita barba cresceu. O livro conquistou o prêmio Jabuti nas categorias Biografia e Livro do Ano - Não ficção, vendeu mais de 75 000 cópias e eu me transformei numa espécie de 'd. Pedróloga de plantão', sendo chamada para ler cartas, reconhecer assinaturas ou atestar a presença do imperador nos mais diferentes lugares. Mas mal sabia eu que a melhor experiência estava por vir: transformar, ao lado do Spacca, uma biografia mais acadêmica num livro em quadrinhos, e sem perder o rigor da investigação. Mais ainda, tive a alegria de ver personagens, tantas vezes imaginados, serem transformados em  figuras (quase que) de carne e osso. Mas esta versão em quadrinhos não se limita a repetir o que já está no original. Na verdade, ela permitiu explorar, ainda mais, as potencialidades das imagens: introduzimos quadros, fotografias, gravuras, alegorias, esculturas e o resultado é uma publicação em franco diálogo e totalmente espelhada na cultura do Segundo Reinado brasileiro. Se d. Pedro tivesse o poder de prever o futuro, tenho certeza que gostaria de ver sua vida contada num  livro como este. Afinal, para um monarca que tomou tanto cuidado com a construção simbólica e visual de sua figura, nada como poder se ver refletido num novo espelho: em quadrinhos."
Lilia M. Schwarcz é professora titular no Departamento de Antropologia da USP. Seu livro  As barbas do imperador — D. Pedro II, um monarca nos trópicos ganhou o prêmio Jabuti, categoria Livro do Ano - Não ficção, em 1998.