MAIS E /OU MENOS Exegi monumentum Ergui pra mim, mais alto que o Empire State Building, menos biodegradável mesmo que o urânio, um monumento que, à chuva ácida ileso e imune à inversão térmica, não tem turnover nem sairá de moda nunca. Não morrerei de todo: cinqüenta ou mais por cento de meu ego hão de incólumes furtar-se à obsolescência programada e hei de estar no Quem É Quem enquanto Hollywood dê seus Oscars anuais ou supermodels desfilem mudas pelas mil e uma passarelas. Onde transborda infecto nosso Tietê, nas várzeas garoentas sempre cujos quatrocentões votavam antanho em Jânio Quadros, lembrar-se-ão de que fui quem adaptou primeiro em Sampa, ao berimbau tropicalista, Horácio. Credita-me tais méritos e põe durante este ano fiscal, Academia Sueca, em minha conta a grana do Nobel. Adivinhação p/ d. p. aos 70 O que é o que é que, quando se entrecruzam à beira do silêncio sintagma e paradigma, obriga a língua a dar com a linguagem nos dentes, deixa as palavras todas com a língua de fora? O que é o que é que, onde "o amor e, em sua ausência, o amor" ou "manchas solares confabulam", deixa a linguagem boqui- aberta, sem palavras, e obriga os linguarudos a engolirem a língua? O que é, o que é que edípico e antropófago bolina e morde, morde e bolina a própria língua materna até que doa com gosto? - É a poesia que o dolce software nuovo contém. Pois é: poesia.