OUTRA RECEITA Da linguagem, o que flutua ao contrário do feijão à João é o que se quer aqui, escrevível: o conserto das palavras, não só o resultado final da oficina mas o ruído discreto e breve o rumor de rosca, a relojoaria do dia e do sentido se fazendo sem hora para acabar, interminável sem acalmar a mesa, sem o clic final, onde se admite tudo - o eco, o feno, a palha, o leve - até para efeito de contraste para fazer do peso - pesadelo. E em vez de pedra quebra-dente para manter a atenção de quem lê como isca, como risco, a ameaça do que está no ar, iminente. ESPELHO E CEGO A cabeça não passa o corpo a limpo. Passa em revista, apalpando-se apalpando-me, pois revisão implica em revolver o sintoma, auto-operar-se sem a lâmina estética da anestesia. Em atacar, ao se reter, no espelho de repetição e se reler, por dentro, a fundo - rever com a aparente outra mão, os irremediáveis pontos tortos das linhas costuradas na urgência. Impossível sair ileso ou iludido, depois de explorar o plano, de repente o íngreme frágil os relevos gritantes do dia em diagrama: perdeu! O pensamento se move cego para o ladrão - corre, escoa, desaparece longe, logo, ladeira precipitada no escuro sem saber onde parar, onde o ponto final do interruptor na velocidade da parede só tato até topar com a máquina quebrada da pedra.