Trecho do livro HOMENS EM TEMPOS SOMBRIOS

SOBRE A HUMANIDADE EM TEMPOS SOMBRIOS: REFLEXÕES SOBRE LESSING I A distinção conferida por uma cidade livre e um prêmio que traz o nome de Lessing constituem uma grande homenagem. Reconheço que não sei como vim a recebê-la e, ainda, não me foi inteiramente fácil chegar a um acordo sobre ela. Ao dizê-lo, posso ignorar totalmente a delicada questão de mérito. Quanto a isso, as homenagens nos dão uma convincente lição de modéstia, pois pressupõem que não nos cabe julgar nossos próprios méritos da mesma forma como julgamos os méritos e realizações de outras pessoas. Em relação a prêmios, o mundo fala abertamente, e se aceitamos o prêmio e expressamos nossos agradecimentos, só podemos fazê-lo ignorando-nos a nós mesmos e agindo totalmente dentro do quadro de nossa atitude em relação ao mundo, em relação a um mundo e a um público a quem devemos o espaço onde falamos e somos ouvidos. Mas a homenagem não só nos lembra enfaticamente a gratidão que devemos ao mundo; também nos obriga a isso num grau altíssimo. Visto sempre podermos recusar a homenagem, ao aceitá-la não só nos fortalecemos em nossa posição no mundo, como também aceitamos uma espécie de compromisso em relação a ele. O fato de uma pessoa aparecer em público, e ser por ele recebida e confirmada, não é em absoluto assente. Apenas o gênio é levado à vida pública por seus dons pessoais e é dispensado desse tipo de decisão. É somente em seu caso que as homenagens continuam a concordar com o mundo, a ressoar uma harmonia existente em pleno domínio público, surgida in dependentemente de quaisquer considerações e decisões, independentemente também de quaisquer obrigações, como se fosse um fenômeno natural a irromper na sociedade humana. De fato, podemos aplicar a esse fenômeno o que Lessing certa vez disse sobre o homem de gênio, em dois dos seus mais belos versos: Was ihn bewegt, bewegt. Was ihn gefällt, gefällt. Sein glücklicher Geschmack ist der Geschmack der Welt. [O que o move, move. O que o agrada, agrada. Seu gosto acertado é o gosto do mundo.] Em nossa época, parece-me, nada é mais dúbio do que nossa atitude em relação ao mundo, nada menos assente que a concordância com o que aparece em público, imposta a nós pela homenagem, a qual confirma sua existência. Em nosso século, mesmo o gênio só pôde se desenvolver em conflito com o mundo e o âmbito público, embora, como sempre, encontre naturalmente sua concordância própria particular com sua platéia. Mas o mundo e as pessoas que nele habitam não são a mesma coisa. O mundo está entre as pessoas, e esse espaço intermediário - muito mais do que os homens, ou mesmo o homem (como geralmente se pensa) - é hoje o objeto de maior interesse e revolta de mais evidência em quase todos os países do planeta. Mesmo onde o mundo está, ou é mantido, mais ou menos em ordem, o âmbito público perdeu o poder iluminador que originalmente fazia parte de sua natureza. Um número cada vez maior de pessoas nos países do mundo ocidental, o qual encarou desde o declínio do mundo antigo a liberdade em relação à política como uma das liberdades básicas, utiliza tal liberdade e se retira do mundo e de suas obrigações junto a ele. Essa retirada do mundo não prejudica necessariamente o indivíduo; ele pode inclusive cultivar grandes talentos ao ponto da genialidade e assim, através de um rodeio, ser novamente útil ao mundo. Mas, a cada uma dessas retiradas, ocorre uma perda quase demonstrável para o mundo; o que se perde é o espaço intermediário específico e geralmente insubstituível que teria se formado entre esse indivíduo e seus companheiros homens. Assim, quando consideramos o significado real de homenagens e prêmios públicos sob as atuais condições, podemos julgar que o Senado de Hamburgo, ao decidir vincular o prêmio da cidade ao nome de Lessing, encontrou uma solução para o problema, uma espécie de ovo de Colombo. Já que Lessing nunca se sentiu à vontade, e provavelmente nunca o quis, no mundo tal como então existia, e mesmo assim sempre se manteve comprometido com ele à sua própria maneira. Circunstâncias únicas e especiais regeram essa relação. O público alemão não estava preparado para ele e, pelo que sei, nunca o homenageou em vida. Segundo sua própria opinião, não contava com aquela concordância natural e feliz com o mundo, combinação de mérito e boa sorte, que considerava, juntamente com Goethe, a marca do gênio. Lessing acreditava dever à crítica algo que "se aproxima muito do gênio", porém sem nunca alcançar plenamente aquela harmonização natural com o mundo, onde a Fortuna sorri ao surgir a Virtude. Tudo isso pode ter sido muito importante, mas não decisivo. É quase como se, em algum momento, ele tivesse decidido render homenagem ao gênio, ao homem de "gosto acertado", e seguir aqueles a quem uma vez chamou, um tanto ironicamente, de "os homens sábios", que "fazem tremer os pilares das verdades mais bem conhecidas, onde quer que pousem os olhos". Sua atitude em relação ao mundo não era positiva nem negativa, mas radicalmente crítica e, quanto ao âmbito público de sua época, totalmente revolucionária. Mas era também uma atitude que permanecia em dívida para com o mundo, sem nunca abandonar o sólido terreno do mundo, e jamais chegar ao extremo do utopismo sentimental. Em Lessing, a têmpera revolucionária se associava a uma espécie curiosa de parcialidade que se apegava a detalhes concretos com um zelo exagerado, quase pedante, e fazia surgir muitos mal-entendidos. Um componente da grandeza de Lessing foi o fato de nunca permitir que a suposta objetividade o levasse a perder de vista a relação real com o mundo e o estatuto real das coisas ou homens no mundo que atacava ou elogiava. Isso não o ajudou a ter maior crédito na Alemanha, país onde a verdadeira natureza da crítica é menos entendida do que em qualquer outro lugar. Para os alemães, era difícil perceber que a justiça pouco tem a ver com a objetividade em sentido habitual. Lessing nunca se reconciliou com o mundo em que viveu. Comprazia-se em "desafiar preconceitos" e "contar a verdade aos apaniguados da corte". Por mais caro que pagasse por esses prazeres, eram literalmente prazeres. Uma vez, quando tentava explicar a si mesmo a fonte do "prazer trágico", disse que "todas as paixões, mesmo as mais desagradáveis, são, como paixões, agradáveis", pois "nos tornam [...] mais conscientes de nossa existência, fazem-nos sentir mais reais". Essa frase lembra extraordinariamente a doutrina grega das paixões, que incluía a cólera, por exemplo, entre as emoções agradáveis, mas situava a esperança, juntamente com o medo, entre os males. Essa avaliação, exatamente como em Lessing, baseia-se em diferenças de realidade; não, porém, no sentido de que a realidade é medida pela força com que a paixão afeta a alma, mas antes pelo tanto de realidade que a paixão a ela transmite. Na esperança, a alma ultrapassa a realidade, tal como no medo ela se encolhe e recua. Mas a cólera, e sobretudo o tipo de cólera de Lessing, revela e expõe o mundo, tal como o tipo de riso de Lessing em Minna von Barnhelm tenta realizar a reconciliação com o mundo. Tal riso ajuda a pessoa a encontrar um lugar no mundo, mas ironicamente, isto é, sem vender a alma a ele. O prazer, que é basicamente a consciência intensificada da realidade, surge de uma abertura apaixonada ao mundo e do amor por ele. Nem mesmo o conhecimento de que o homem pode ser destruído pelo mundo diminui o "prazer trágico". Se a estética de Lessing, em contraste com a de Aristóteles, considera até o medo como uma variante da piedade, a piedade que sentimos por nós mesmos, isso talvez ocorra porque Lessing está tentando despir o medo do seu aspecto escapista, a fim de salvá-lo como paixão, isto é, como uma afecção em que somos afetados por nós mesmos, tal como somos comumente afetados no mundo por outras pessoas. Intimamente ligado a isso está o fato de que, para Lessing, a essência da poesia era a ação e não, como para Herder, uma força - "a força mágica que afeta minha alma" -, nem, como para Goethe, a natureza dotada de forma. Lessing não estava minimamente preocupado com "a perfeição da obra de arte em si", coisa que Goethe considerava "o requisito eterno, indispensável". Antes - e aqui está de acordo com Aristóteles - preocupava-se com o efeito sobre o espectador que, por assim dizer, representa o mundo, ou melhor, aquele espaço mundano que surgiu entre o artista ou o escritor e seus companheiros humanos, como um mundo comum a eles. Lessing experimentou o mundo em cólera e em riso, e a cólera e o riso são, por natureza, tendenciosos. Portanto, ele não podia ou não queria julgar uma obra de arte "em si", independente de seus efeitos no mundo, e assim podia partir para o ataque ou a defesa em suas discussões, conforme o assunto em questão estivesse sendo julgado pelo público, de modo totalmente independente do seu grau de verdade ou de falsidade. Não era apenas uma forma de gentileza dizer que iria "deixar em paz aqueles que todos vêm atacando"; era também uma preocupação, que se tornara instintiva nele, pela correção relativa de opiniões que, por boas razões, levam a pior. Assim, mesmo na polêmica sobre o cristianismo, ele não assumiu uma posição definida. Antes, como disse uma vez com um autoconhecimento magnífico, por instinto passava a duvidar do cristianismo "quanto mais convincentemente algumas pessoas tentavam prová-lo para mim", e por instinto tentava "preservá-lo no [seu] coração" quanto mais "injustificada e triunfantemente outros tentavam espezinhá-lo sob os pés". Mas isso significa que, onde qualquer outra pessoa debatesse sobre a "verdade" do cristianismo, ele defendia principalmente sua posição no mundo, ora receando que o cristianismo pudesse novamente impor suas pretensões de domínio, ora temendo que pudesse desaparecer por completo. Lessing mostrou uma notável visão de longo alcance ao dizer que a teologia esclarecida de sua época, "sob o pretexto de nos tornar cristãos racionais, está nos tornando filósofos extremamente irracionais". Essa percepção não derivava apenas de um partidarismo a favor da razão. A preocupação fundamental de Lessing em todo esse debate era a liberdade, muito mais ameaçada por aqueles que pretendiam "obrigar à fé por demonstrações" do que por aqueles que viam a fé como um presente da graça divina. Mas havia, ademais, sua preocupação pelo mundo, onde achava que deveriam caber, em lugares separados, tanto a religião como a filosofia, de modo que, após a "partilha [...] cada uma possa seguir seu próprio caminho, sem atrapalhar a outra". A crítica, na acepção de Lessing, sempre toma partido em prol da segurança do mundo, entendendo e julgando tudo em termos de sua posição no mundo num determinado momento. Tal mentalidade nunca pode dar origem a uma visão definida do mundo que, uma vez assumida, seja imune a experiências posteriores no mundo, por se agarrar solidamente a uma perspectiva possível. Precisamos muitíssimo de Lessing para nos ensinar esse estado mental, e o que nos dificulta tanto aprendê-lo não é nossa desconfiança em relação ao Iluminismo ou à crença do século XVIII na humanidade. Entre Lessing e nós está, não o século XVIII, mas o século XIX. A obsessão do século XIX com a história e o compromisso com a ideologia ainda se manifestam tão amplamente no pensamento político de nossos tempos que somos inclinados a considerar o pensamento inteiramente livre, não utilizando como muleta nem a história nem a lógica coercitiva, como desprovido de qualquer autoridade sobre nós. Certamente ainda somos conscientes de que o pensamento requer não só inteligência e profundidade, mas sobretudo coragem. Mas nos pasmamos que o partidarismo de Lessing pelo mundo chegue a tal ponto que possa sacrificar-lhe o axioma da não-contradição, a pretensão de coerência própria, que assumimos como obrigatórios para todos os que escrevem e falam. Pois ele declarou com toda a seriedade: "Não tenho a obrigação de resolver as dificuldades que crio. Talvez minhas idéias sejam sempre um tanto díspares, ou até pareçam se contradizer entre si, basta que sejam idéias onde os leitores encontrem material que os incite a pensar por eles mesmos". Ele não só desejava não ser coagido por ninguém, como também desejava não coagir ninguém, pela força ou por demonstrações. Considerava a tirania dos que tentam dominar o pensamento pelo raciocínio e sofismas, obrigando à argumentação, como algo mais perigoso para a liberdade do que a ortodoxia. Ele sobretudo não coagia a si próprio e, ao invés de definir sua identidade na história com um sistema perfeitamente coerente, disseminou pelo mundo, como ele mesmo sabia, "nada além de fermenta cognitionis". Assim, o famoso Selbstdenken - pensamento independente para a própria pessoa - não é de forma alguma uma atividade pertencente a um indivíduo fechado, integrado, organicamente crescido e cultivado que então, por assim dizer, olha em torno para ver onde se encontra no mundo o lugar mais favorável para seu desenvolvimento, a fim de se encontrar em harmonia com o mundo, através do rodeio pelo pensamento. Para Lessing, o pensamento não brota do indivíduo e não é a manifestação de um eu. Antes, o indivíduo - que Lessing diria criado para a ação, não para o raciocínio - escolhe tal pensamento porque descobre no pensar um outro modo de se mover em liberdade no mundo. De todas as liberdades específicas que podem ocorrer em nossas mentes quando ouvimos a palavra "liberdade", a liberdade de movimento é historicamente a mais antiga e também a mais elementar. Sermos capazes de partir para onde quisermos é o sinal prototípico de sermos livres, assim como a limitação da liberdade de movimento, desde tempos imemoriais, tem sido a pré-condição da escravização. A liberdade de movimento é também a condição indispensável para a ação, e é na ação que os homens primeiramente experimentam a liberdade no mundo. Quando os homens são privados do espaço público - que é constituído pela ação conjunta e a seguir se preenche, de acordo consigo mesmo, com os acontecimentos e estórias que se desenvolvem em história -, recolhem-se para sua liberdade de pensamento. Evidentemente, esta é uma experiência muito antiga. E um pouco desse recolhimento parece ter sido imposto a Lessing. Quando ouvimos sobre esse recuo da escravização no mundo para a liberdade de pensamento, naturalmente lembramos o modelo estóico, pois foi historicamente o mais efetivo. Mas, para sermos precisos, o estoicismo representa não tanto uma retirada da ação para o pensamento, mas uma fuga do mundo para o eu que, espera-se, será capaz de se manter em soberana independência em relação ao mundo exterior. Nada disso havia no caso de Lessing. Lessing recolheu-se no pensamento, mas de forma alguma em seu próprio eu; e se para ele existia um elo secreto entre ação e pensamento (eu acredito que sim, embora não possa prová-lo por citações), o elo consistia no fato de que tanto a ação como o pensamento ocorrem em forma de movimento e, portanto, a liberdade subjaz a ambos: a liberdade de movimento. Lessing provavelmente nunca acreditou que o agir pudesse ser substituído pelo pensar, ou que a liberdade de pensamento pudesse ser um substituto para a liberdade inerente à ação. Ele sabia muito bem que vivia no que então era o "país mais despótico da Europa", embora lhe fosse permitido "oferecer ao público tantas tolices contra a religião" quanto quisesse. Pois era impossível levantar "uma voz pelos direitos de vassalos [...] contra a extorsão e o despotismo", em outras palavras, impossível agir. A relação secreta entre seu "autopensar" e a ação estava em nunca vincular seu pensamento a resultados. De fato, ele renunciou explicitamente ao desejo de resultados, na medida em que podiam significar a solução final de problemas que seu pensamento se colocara; seu pensar não era uma busca da verdade, visto que toda verdade que resulta de um processo de pensamento necessariamente põe um fim ao movimento do pensar. Os fermenta cognitionis que Lessing disseminou pelo mundo não pretendiam comunicar conclusões, mas estimular outras pessoas ao pensamento independente, e isso sem nenhum outro propósito senão o de suscitar um discurso entre pensadores. O pensamento de Lessing não é o diálogo silencioso (platônico) entre mim e mim mesmo, mas um diálogo antecipado com outros, e é essa a razão de ser essencialmente polêmico. Mas mesmo que tivesse conseguido realizar seu discurso com outros pensadores independentes e assim escapar a uma solidão que, para ele em particular, paralisava todas as faculdades, dificilmente se persuadiria de que isso resolvia tudo. Pois o que estava errado, e que nenhum diálogo nem pensamento independente jamais poderia resolver, era o mundo - a saber, a coisa que surge entre as pessoas e na qual tudo o que os indivíduos trazem inatamente consigo pode se tornar visível e audível. Nos duzentos anos que nos separam da vida de Lessing, muita coisa mudou a esse respeito, mas pouco mudou para melhor. Os "pilares das verdades mais bem conhecidas" (para manter sua metáfora), que naquela época tremiam, hoje estão despedaçados; não mais precisamos da crítica nem de homens sábios que as façam tremer. Precisamos apenas olhar em torno para ver que nos encontramos em meio a um verdadeiro monte de entulhos daqueles pilares. Agora, num certo sentido, isso poderia ser uma vantagem, promovendo um novo tipo de pensamento que não necessita de pilares ou arrimos, padrões ou tradições, para se mover livre e sem muletas por terrenos desconhecidos. Mas com o mundo tal como está fica difícil aproveitar essa vantagem. Pois há muito tempo se tornou evidente que os pilares das verdades também eram os pilares da ordem política, e que o mundo (em oposição às pessoas que nele habitam e se movem livremente) precisa de tais pilares para garantir a continuidade e permanência, sem as quais não pode oferecer aos homens mortais o lar relativamente seguro, relativamente imperecível de que necessitam. Certamente, a própria humanidade do homem perde sua vitalidade na medida em que ele se abstém de pensar e deposita sua confiança em velhas ou mesmo novas verdades, lançando-as como se fossem moedas com que se avaliassem todas as experiências. E, no entanto, se isso é verdadeiro para o homem, não é verdadeiro para o mundo. O mundo se torna inumano, inóspito para as necessidades humanas - que são as necessidades de mortais -, quando violentamente lançado num movimento onde não existe mais nenhuma espécie de permanência. É por isso que, desde o grande fracasso da Revolução Francesa, as pessoas repetidamente vêm reerguendo os velhos pilares que haviam sido então derrubados, apenas para novamente vê-los de início oscilar e a seguir ruir outra vez mais. Os erros mais terríveis substituíram as "verdades mais bem conhecidas", e o erro dessas doutrinas não constitui nenhuma prova, nenhum novo pilar para as velhas verdades. No âmbito político, a restauração nunca é um substituto para uma nova fundação, mas será, no máximo, uma medida de emergência que se torna inevitável quando o ato de fundação, chamado revolução, fracassa. Mas é igualmente inevitável que, numa tal constelação, principalmente quando se estende por períodos tão longos de tempo, a desconfiança das pessoas em relação ao mundo e a todos os aspectos do âmbito público deva crescer constantemente. Pois a fragilidade desses esteios repetidamente restaurados da ordem pública está fadada a se tornar cada vez mais evidente após cada colapso, de modo que, ao final, a ordem pública se baseia na sustentação pelas pessoas da auto-evidência justamente daquelas "verdades mais bem conhecidas" em que, intimamente, quase ninguém mais acredita. [...]