UM PALPITE CERTEIRO Eu devia ter uns cinco anos quando ouvi pela primeira vez meu pai dizer: "Essa menina vai ser psicóloga". Eu não tinha a menor idéia do que aquilo significava, mas ele dizia com tanta satisfação que realmente parecia legal ser isso um dia. Hoje entendo um pouco melhor por que meu pai imaginou que eu fosse ter essa profissão. Na pré-escola, por ser muito carinhosa com as crianças, eu costumava ser chamada pelos professores quando algum colega de classe começava a chorar. Isso às vezes acontecia no recreio, ou porque um puxava o cabelo do outro, ou simplesmente porque alguém se sentia sozinho vendo os outros brincarem. Numa dessas vezes, minha colega Alice estava chorando num canto do pátio. Eu cheguei perto, passei a mão no cabelo dela e propus algumas brincadeiras. E não sei bem como, mas ela foi se distraindo, esqueceu o motivo do choro e deu um sorriso gostoso. Não pense que eu tinha uma bondade assim tão grande. É que eu gostava de brincar de professora, e os amigos tristonhos eram uma boa oportunidade para praticar. Eu também gostava de ver que a tristeza era passageira e a alegria podia voltar. Isso bastou para que eu ganhasse fama de boa amiga na escola e - como dizia meu pai - futura psicóloga. Mas será que ser psicólogo é isso? Consolar a tristeza das pessoas? Quase quarenta anos depois das cenas na escola, e já como psicóloga formada há vinte e cinco anos, posso dizer que a tarefa de um psicólogo não é consolar nem fazer brincadeiras para alegrar os outros, ainda que isso possa acontecer de vez em quando no nosso trabalho. Mas quem sabe eu já tivesse, aos cinco anos de idade, o que hoje acredito ser muito importante para minha profissão: interesse e afeto pelas pessoas. Também conta muito ser curioso sobre o comportamento humano, e sensível em relação aos problemas que todos enfrentam em suas vidas. Resumindo: gostar de gente é a primeira condição para alguém ser psicólogo. O resto se aprende.