Nosso tipo de jogo é o livro de estreia de Johanna Copeland, autora estadunidense que tece uma intrincada narrativa a partir do olhar feminino no audacioso thriller recém lançado pela Editora Suma. Na obra, a autora explora o desequilíbrio de poder entre gêneros e os fortes laços da maternidade.
Elaboramos algumas perguntas para a autora sobre a sua relação com o suspense e o terror, seu processo criativo e outras curiosidades.
Confira a entrevista completa:
Blog da Companhia: Qual é a sua relação com as histórias de horror e suspense? Tem algum livro favorito nos gêneros?
Johanna Copeland: Como muitos autores, eu era uma leitora voraz quando criança e rapidamente descobri a sensação maravilhosa de ler histórias de mistério como os da série Nancy Drew e tudo escrito por Roald Dahl. A partir disso eu logo progredi para O jardim dos esquecidos e a saga Os Filhos da Terra. Eu amava como era impossível parar de ler esses livros.
Agora os meus suspenses favoritos combinam um enredo que me faz ler sem parar e personagens bem desenvolvidos com umas belas frases de efeito que permanecem comigo por muito tempo depois de terminar o livro. Me pedir para escolher um favorito é como pedir para eu escolher um filho favorito — como escolher só um?! Contudo, alguns dos meus favoritos de todos os tempos são O talentoso Ripley, de Patricia Highsmith, Garota exemplar, de Gillian Flynn, qualquer livro de Emily St. John Mandel, O iluminado, de Stephen King e a série Millennium, de Stieg Larsson.
BC: Como foi a sua experiência escrevendo o seu primeiro livro como um suspense? Pretende escrever mais história no gênero?
JC: Escrever suspense é uma relação de amor e ódio para mim. O enredo é crucial, o que implica muitas noites sem dormir e longas caminhadas tentando descobrir como um arco de personagem específico ou ponto da trama se encaixa no quebra-cabeça geral. Em primeiro lugar, meu objetivo é satisfazer o leitor, o que exige que a estrutura geral seja surpreendente e criativa. Essa é uma maneira longa de dizer que, embora o processo de chegar ao produto final seja muitas vezes uma luta, é tão gratificante que não consigo me imaginar escrevendo outra coisa.
BC: Antes de escrever o seu romance você já havia tido contato com outras histórias de suspense que discutem questões femininas e feministas? Para você, qual é a importância de escrever protagonistas e personagens femininas que dominam as narrativas de suas histórias?
JC: Há cerca de dez anos, percebi que lia muitos autores homens brancos e decidi conscientemente ler mais autores diversos. A partir daí foi uma jornada curta para começar a ler autoras feministas, seja livros de não ficção, concentrados em questões femininas, ou livros de ficção, com personagens femininas que dominam a narrativa. Em um nível pessoal, sou uma mulher que domina a narrativa de minha própria vida, então não seria autêntico escrever personagens femininas que não assumem o controle de sua própria história.
BC: Durante o seu processo de escrita houve alguma pesquisa inusitada que você precisou realizar?
JC: Sim! Sempre que estou pesquisando fico preocupada de estar disparando algum tipo de alarme na internet. Para esse livro, eu passei MUITO tempo entendendo como o botulismo afeta o corpo (isso é muito spoiler?), como é um relatório de autópsia comum e calculando a valorização do ouro nos últimos trinta anos. Também precisei entender como e quando os telefones podem ser rastreados com o modo avião ligado e desligado, o que foi como perseguir um alvo em movimento, porque a tecnologia do iPhone evolui muito mais rápido do que o mercado editorial!
BC: Existe algum(a) autor(a) que a inspira em sua escrita?
JC: Novamente, muitos! Sempre que fico com muita coisa na cabeça ou frustrada com algo em que estou trabalhando, tento ler outros gêneros. Particularmente gosto de ficção literária, porque me obriga a desacelerar e pensar sobre desenvolvimento de personagem. Quem eu leio em um dado momento realmente depende do meu humor. Às vezes volto para clássicos, como Jane Austen, outras vezes recorro a autores modernos que me inspiram, como Kazuo Ishiguro. Também sou uma grande fã de Lauren Groff e Ottessa Moshfegh.
BC: Nós somos a editora responsável pela publicação da obra de Stephen King aqui no Brasil, então gostaríamos de saber: você já teve contato com algum livro do autor?
JC: Deixei Stephen King de fora da minha resposta anterior sobre livros de suspense e terror, mas ele foi uma GRANDE influência. Não sei por que uma criança de nove anos teve permissão para retirar Carrie da biblioteca local, mas ninguém me impediu. Depois que terminei, fiquei viciada e foi uma liberdade enorme. Li tudo que a biblioteca tinha disponível. Claro, os livros me deram pesadelos terríveis, que mantive em segredo, porque estava mais preocupada com a censura das minhas leituras do que com meus pesadelos no meio da noite. Ainda sou uma grande fã de Stephen King e sempre fico feliz em passar um fim de semana com um de seus livros.
Perguntas e respostas rápidas
BC: Uma fruta favorita?
JC: Framboesas frescas, completamente viciada.
BC: Último filme que assistiu no cinema?
JC: Barbie, há um ano! Claramente sou um pouco responsável pela instabilidade dos cinemas.
BC: Uma música que te deixa feliz?
JC: “You Make Me Feel Like Dancing”, de Leo Sayer (é impossível ouvir essa música sem sorrir).
BC: Uma série de TV que te fez chorar?
JC: “Eu Nunca...”, da Netflix (eu sei, eu sei, é uma comédia adolescente, mas também é tão comovente. Estou tão envolvida na vida da Devi!).
BC: A sua obsessão mais recente?
JC: Hot Yoga, óleo de alecrim e aprender espanhol.
BC: Uma curiosidade que ninguém sabe sobre você?
JC: As pessoas sempre têm dificuldade para pronunciar meu nome, mas ele vem de uma música do Bob Dylan chamada “Visions of Johanna”. Quando criança, eu realmente achava que Bob Dylan tinha escrito a música para mim e fiquei com o coração partido quando percebi que não era o caso.
A seguir, você confere um pouco mais sobre a autora de Nosso tipo de jogo:
Johanna Copeland nasceu no Oregon, Estados Unidos, em 1971, e trabalhou como advogada corporativa, atuando principalmente na cidade de Nova York. Já publicou textos em jornais e revistas como Washington Post, XoJane, Soapbox Journal, Stonecoast Review e Literary Mama. Atualmente, mora em McLean, Virgínia, e visita os filhos universitários o máximo que eles permitem. Ainda tem um filho que mora com ela e gosta de fazer caminhadas, jogar bola e dormir no sofá enquanto Johanna escreve.