6 livros para apresentar o universo indígena às crianças

24/08/2024

“Ser índio deixou de ser sinônimo de escondido no mato”, como já declarou Ailton Krenak. Os indígenas hoje podem viver em cidades, ter acesso às tecnologias, usar calça jeans - mais de 63% deles, aliás, vivem fora das terras indígenas no Brasil. O Censo de 2022 contabilizou 1,7 milhão de indígenas no país, o que corresponde a 0,83% da população total do país - a maior parte concentrada na região da Amazônia legal. 

Ilustração de 'Tuiupé e o maracá'

Com poesia, somos introduzidos ao universo da menina Tuiupé em Tuiupé e o maracá mágico (Companhia das Letrinhas, 2024)

Mas ser indígena não é só questão de origem. É comungar de uma cultura própria mas diversa. São muitos povos, muitas línguas diferentes, muitas tradições particulares. Em comum, há uma relação estreita com a natureza e uma lógica que contraria o eurocentrismo a que estamos acostumados. Podemos aprender com a cultura indígena uma nova forma de nos relacionarmos com o planeta, com outros seres e com nós mesmos. 


Nosso tempo é especialista em criar ausências: do sentido de viver em sociedade, do próprio sentido da experiência da vida. Isso gera uma intolerância muito grande com relação a quem ainda é capaz de experimentar o prazer de estar vivo, de dançar, de cantar. E está cheio de pequenas constelações de gente espalhada pelo mundo que dança, canta, faz chover. Ailton Krenak em ‘Ideias para adiar o fim do mundo’

 

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Conheça livros escritos por indígenas para apresentar esse universo tão rico - e tão necessário nos dias de hoje - às crianças

 

Kuján e os meninos sabidos (Companhia das Letrinhas, 2024), de Ailton Krenak e Rita Carelli

Capa de 'Kuján e os meninos sabidos'

Nesta história, o próprio criador decide descer à Terra para dar uma olhadinha em suas criaturas… Mas ele assume a forma de um tamanduá. Enquanto o povo da aldeia o alimenta, sonhando transformá-lo em jantar, dois meninos mais do que sabidos, Roti e Cati,  percebem quem o animal é na verdade. Uma bela forma de apresentar às crianças uma lógica diferente da que está presente nas narrativas eurocentradas. A história é frequente nas apresentações de Ailton Krenak, que concebeu o livro em parceria com Rita Carelli. 

 

Tuiupé e o maracá mágico (Companhia das Letrinhas, 2024), de Auritha Tabajara e Paola Tôrres com ilustrações de Tai

 Capa de 'Tuiupé e o macará mágico'

Em formato de cordel, com versos fluidos, conhecemos uma história que aconteceu há muito tempo, em uma época de bonança e alegria para os povos originários. Um tempo em que se colhiam frutos e plantas, se tomava banho de rio e a paz reinava.Nesse tempo, a menina Tuiupé, vivia com seu pai, o pajé Saracura. Como toda menina, Tuiupé sonhava. Porém, em um dia em que precisou escapar de uma grande chuva, algo impensável aconteceu… Este livro é parte da Coleção Canoa, que tem como objetivo levar literatura infantil de qualidade a preços acessíveis. E a autora, Auritha Tabajara, nascida no Ceará, é a primeira mulher indígena a publicar livros de cordel no Brasil. 

 

Sou indígena! (Companhia das Letrinhas, 2024), de Cláudia A. Flor D'Maria com ilustrações de Raquel Teixeira

Capa de 'Sou indígena!'

Que maravilha é poder se reconhecer indígena. Com orgulho e poesia, este poema-manifesto celebra as origens, a ancestralidade e a identidade dos povos originários. Uma obra para mostrar às crianças o que ser indígena representa - e poder celebrar os sabares, tradições e costumes próprios. Outro livro que faz parte da Coleção Canoa. 

 

Histórias de índio (Companhia das Letrinhas, 1996), de Daniel Munduruku com ilustrações de Laurabeatriz

Capa de 'Histórias de Índio'

Talvez este seja um dos primeiros livros que deu voz a um indígena para falar sobre a própria cultura. Na primeira parte, somos apresentados a Kaxim um “menino que não sabia sonhar". O pajé havia escolhido-o como seu sucessor, mas para que ele pudesse compartilhar dos segredos do ofício, era preciso aprender a sonhar - uma capacidade cada vez mais difícil de ser cultivada em meio a tanta racionalidade. Na segunda parte, o autor compartilha, com humor, suas experiências no mundo dos brancos.

 

Kabá Darebu (Brinque-Book, 2002), de Daniel Munduruku com ilustrações de Maté

Capa de 'Kabá Derabu'

É pelos olhos do menino Kabá que conhecemos um pouco mais sobre os Munduruku. "Nossos pais nos ensinam a fazer silêncio para ouvir os sons da natureza; nos ensinam a olhar, conversar e ouvir o que o rio tem para nos contar; nos ensinam a olhar os voos dos pássaros para ouvir notícias do céu; nos ensinam a contemplar a noite, a lua, as estrelas..."

 

Originárias, uma antologia feminina de literatura indígena (Companhia das Letrinhas,2023), organização de Trudruá Dorrico e Mauricio Negro e ilustrações de Mauricio Negro 

Capa de 'Originárias'

Esta antologia conta com a contribuição de 12 autoras indígenas contemporâneas: Auritha Tabajara, Bruna Karipuna, Chirley Maria Pankará, Eliane Potiguara, Glicéria Tupinambá, Lidiane Damaceno Krenak, Márcia Mura, Naine Terena, Simone Karajá, Telma Taurepang, Trudruá Dorrico e Vanessa Kaingang. A partir de sonhos, da ancestralidade, de vivências intensas e da observação da natureza, os contos e recontos que fazem parte dessa obra misturam ficção e não-ficção, costurando um universo próprio. Além de mostrarem a amplitude e a riqueza da cultura indígena, as histórias contadas ressaltam as tramas que nos conectam enquanto seres humanos: o amor, a amizade, as relações familiares. A obra conta com um glossário e é indicada para leitores a partir de 9 anos. 

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