Em entrevista no início de janeiro de 2021, a médica Rosana Richtmann, que atua na diretoria do instituto Emílio Ribas, afirmou que a maioria das pessoas envolvidas em “carregar o piano” da pesquisa da vacina do Butantan contra a covid-19 eram mulheres. Porém, no evento em que a vacina foi apresentada, ela era a única mulher “no palco”.
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A participação das mulheres na ciência tem aumentado, mas suas narrativas ainda aparecem pouco. E, apesar do avanço, a ONU aponta que a ciência ainda não evolui tanto quanto poderia por conta dessa “lacuna de gênero”.
De acordo com dados de 2020 da ONU Mulheres, meninas e meninos têm bom desempenho em ciências e matemática, porém, apesar disso:
* menos de 30% dos pesquisadores no mundo são mulheres
* apenas cerca de 30% das estudantes optam por carreiras de ciências, tecnologia, engenharia e matemática (STEM, na sigla em inglês) no ensino superior.
Isso acontece por conta do preconceito de gênero e da desigualdade no acesso à educação. Além disso, a história das mulheres cientistas é pouco celebrada e difundida até hoje.
Como forma de incentivar uma participação feminina mais plena e igualitária nessas áreas, foi lançado em 2015 o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na ciência, que se comemora em 11 de fevereiro.
Na literatura infantil e infantojuvenil, há esforços para quebrar estereótipos de gênero relacionados a esse tema, especialmente em livros que são, pelo menos em parte, informativos.
Um exemplo é o livro Extraordinárias: mulheres que mudaram o Brasil (Seguinte), de Aryane Cararo e Duda Porto de Souza, que resgata histórias de brasileiras que foram pioneiras e disruptivas em seus campos. O título traz os perfis da psicanalista Nise da Silveira, da botânica Graziela Maciel Barroso, da arqueóloga Niède Guidon e da bióloga Bertha Lutz.
"Se várias gerações crescem sem saber quem são as mulheres que fizeram nossa história, que lugar no país e no mundo somos preparadas para ocupar?"
(Aryane Cararo e Duda Porto de Souza)
Então, para comemorar essa data tão importante e inspirar muitas futuras pesquisadoras das ciências, selecionamos aqui quatro meninas e mulheres cientistas, ficcionais e reais - de livros que foram escritos por mulheres:
1) Ruby - programadora
Ilustração de Linda Liukas para o livro Olá, Ruby
Em Olá, Ruby: uma aventura pela programação, de Linda Liukas, a personagem principal é uma menina muito criativa, organizada e determinada. Para resolver um desafio proposto pelo pai, ela se aventura com seus novos amigos pelas características e formas de funcionamento de alguns dos principais navegadores e sistemas operacionais, de maneira lúdica.
A história de Ruby é ficcional, mas o livro tem muitas informações e referências sobre programação, além de trazer atividades divertidas para quem quiser começar a pensar com as suas linguagens.
A autora do livro é uma programadora finlandesa, Linda Liukas, que percebe pouca diversidade entre os criadores de softwares. Para tentar amenizar a situação, ela fundou uma organização que ensina princípios básicos de programação a mulheres de todas as idades ao redor do mundo. Já passaram pelas oficinas da fundação mais de 10 mil alunas em cerca de 250 cidades.
2) Sofia e Violeta - biólogas
Ilustração de Ecologia até na sopa
Ecologia até na sopa, de Mariela Kogan e Ileana Lotersztain (duas biólogas argentinas), apresenta Sofia e Violeta, que são sobrinhas de uma bióloga. A tia encoraja nas meninas a curiosidade e a busca por respostas - inatas às crianças -, por meio da investigação do lugar onde elas vivem, a começar pela casa.
Ela faz perguntas instigantes sobre elementos cotidianos da vida das meninas, como: do que são feitas todas as coisas? Ou quantos tipos de animais existem na pracinha perto de casa? Por que é importante economizar água? A história é toda pontuada por conceitos de biologia e informações para levar uma vida mais sustentável e também divertida.
3) Florence Bascom - geóloga
Florence Bascom por Janaína Tokitaka em ABCDElas
Uma das primeiras geólogas, Florence estudou a composição dos Montes Apalaches e sempre foi uma defensora implacável das mulheres nas ciências. Diante de uma discussão de duas alunas que tinham feito um trabalho brilhante e queriam mais destaque para serem especiais e únicas como ela, Florence disse:
— Se tem uma coisa que a vida me ensinou é que não adianta ser única ou especial. Meu trabalho é tão importante quanto o de vocês. Eu me orgulho mais de ter participado da formação de novas cientistas do que de qualquer descoberta de pedra que leva o meu nome.
A história dela aparece no livro ABCDElas, de Janaína Tokitaka, que é um abecedário ilustrado de profissões, e cada letra apresenta uma mulher que se destacou em seu campo de atuação. As profissionais têm uma pequena biografia e uma história sobre sua vida profissional.
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4) Hedy Lamarr - criadora do Wi-Fi
Hedy Lamarr por Janaína Tokitaka em ABCDElas
Outra biografada do livro ABCDElas, Hedy Lamrr era vienense, mas se mudou para os Estados Unidos, fugindo de um casamento infeliz. Lá, virou atriz de Hollywood e foi a inspiração para a fisionomia de Branca de Neve no desenho da Disney (!).
Mas, além disso, Hedy Lamarr teve a ideia para a tecnologia que possibilitou o sistema de internet sem fio num momento em que tocava piano com o compositor George Antheil. Ela e o amigo desenvolveram um código para enviar mensagens em várias partes em vez de uma só, e ele foi usado pelo governo americano na Segunda Guerra.
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