10 livros que invertem a perspectiva - e quebram expectativas

10/10/2023

E se… o final feliz de uma princesa não tiver príncipe? E se o lobo mal deixar de ser o vilão e passar a ser vítima? E se nada for o que parece ser - ou for muito além do que aparenta? Ao longo da infância aprendemos a diferenciar opostos: bem e mal, claro e escuro, doce e salgado. Mas será que tudo se encaixa nessa visão maniqueísta? Que tudo cabe em dois lados polarizados - e antagônicos? 

Ilustração de Loba, de Loba (Pequena Zahar), escrito por Roberta Malta e ilustrado por Paula Schiavon

Nas histórias, essa dualidade nos ajuda a distinguir vilões de mocinhos. De um lado, personagens terríveis, de aparência medonha e aterrorizante, dedicados a fazer o mal. De outro, príncipes distintos e educados, guiados por altos valores morais, esbanjando coragem e bravura. Mas o que acontece quando o príncipe não é assim tão bem intencionado ou o vilão não é assim tão ruim?

Quando as histórias nos conduzem por caminhos diferentes do esperado, somos apresentados a novas perspectivas - que podem nos fazer rir, nos assustar e até ajudar a quebrar uma porção de paradigmas. A leitura ganha novas camadas produzindo significados inesperados. E essa experiência pode ajudar a nos mostrar que tudo é muito mais complexo do que aparenta ser - inclusive as pessoas. Somos feitos de muitas partes, afinal - as que queremos mostrar e as que queremos disfarçar; algumas boas e nobres, outras, mais sombrias e feias.

Personagens e narrativas inteiras podem também ser transformados em alegorias para tratar de temas mais complexos - como é o caso de Loba (Pequena Zahar), que faz alusão ao processo de passagem das meninas da infância para a vida adulta. Uma narrativa sensível que nos faz enxergar muito além do conto de fadas da menina que desobedeceu às orientações da mãe - e acabou sendo engolida pelo lobo.

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Novas perspectivas que revelam nossa própria complexidade

É importante que as histórias mostrem às crianças diferentes formas de ser - com toda a complexidade que possa estar envolvida. A professora aposentada da Ohio State University, Rudine Sims Bishop, criou o termo “janela espelhada” justamente para descrever a importância de personagens que representem as crianças, para que elas possam se reconhecer neles e identificar as semelhanças em suas experiências. Rudine também argumenta que é essencial que as crianças vejam personagens diferentes de suas personalidades para que possam desenvolver empatia e compreender a diversidade.

Para Philip Nel, professor de literatura infantil da Kansas State University, e Kathryn Mitchell Pierce, professora assistente de educação na University of Wisconsin, os livros – e por que não a literatura de maneira mais abrangente – têm o potencial de inverter a perspectiva tradicional, ajudando a desafiar estereótipos potencialmente prejudiciais. Essas histórias podem ajudar as crianças a se tornarem "agentes de mudança" em suas próprias vidas, promovendo a diversidade e instigando questionamentos críticos sobre o mundo ao redor. Para apresentar aos pequenos histórias com pontos de vista surpreendentes, selecionamos 10 obras que invertem as perspectivas usuais de diferentes maneiras.

 

Confira 10 livros que invertem a perspectiva - e surpreendem

1. Bela, a fera, Fernão, o belo

Capa de Bela, a fera, Fernão, o belo

Nesta versão moderninha do conto clássico, acontece uma inversão de papéis. Bela é do tipo que ri de piadas de pum e nem liga para as firulas típicas de princesa - ela gosta mesmo é de exibir sua força e coragem. Já o cozinheiro Fernão transforma seus pratos em arte e adora apreciar a beleza das coisas simples e pequeninas. Quando essas personalidades tão diferentes colidem, as paredes do palácio irão tremem – literalmente. Esse reconto inesperado escrito por Janaina Tokitaka e ilustrado por Flávia Borges faz parte da coleção Canoa, que oferece literatura infantil de qualidade por preços acessíveis.

Capa de O pequeno sereio

Mais um reconto da Coleção Canoa, a história da vez é de Gabriel, um sereio que ama se divertir, mas que guarda um segredo: é super tímido e sente vergonha de cantar na frente de outras pessoas como seus amigos fazem. De modo surpreendente, ele ganha um pequeno empurrãozinho para compor novas sinfonias. Com texto de Janaina Tokitaka e ilustrações de Flávia Borges.

Capa de Cinderel e o baile dela

Cinderela está tristinha. Além de ter que limpar a casa e cuidar da madrasta e das irmãs, ela não pode ir ao baile do príncipe. Mas como num passe de mágica, surge a Fada Madrinha e a chance de aproveitar a festa. Só que esse baile pode ser bem diferente do que ela imagina...  Mais uma obra da parceria entre Janaina Tokitaka e Flávia Borges para a Coleção Canoa.

Capa de O pedido da Fada Madrinha

Até a Fada Madrinha merece uma folguinha em mais um reconto de Janaina Tokitaka com ilustrações de Flávia Borges. A Fada, que trabalha sem parar para conseguir atender aos pedidos de todas as princesas dos contos de fadas, vai ter um dia diferente. É seu aniversário e ela também tem um desejo: não quer ser incomodada. Mas será que o reino encantado aguenta um dia inteirinho com a Fada Madrinha de folga?

Capa de Chapeuzinho Esfarrapado

 

Esta obra de Ethel Johnston Phelps vem para inverter a lógica dos contos de fadas que dizem que as mulheres são sempre delicadas e indefesas aguardando a salvação e a proteção do príncipe encantado. São 25 histórias do folclore mundial recontadas aos olhos do feminismo, provando que, sim, as mulheres podem – e devem! – ser as heroínas de suas próprias jornadas, vencendo desafios e decidindo o próprio destino.

 

Capa de Este é o Lobo

 

O Lobo Mau ocupa o papel de malvado que coloca medo em todo mundo e devora vovozinhas inocentes. Mas diferente de todas as histórias de lobos que já vimos, Alexandre Rampazo traz outra percepção sobre esse personagem tão temido. Intercalando Este Lobo com personagens como Chapeuzinho Vermelho e sua vovozinha, príncipes e princesas, porquinhos e o caçador, cria-se uma tensão. E é importante se atentar a cada aparição do lobo para compreender seu verdadeiro significado. No final, todo medo e o temor são substituídos por outro sentimento: a solidão.

7. Loba

Capa de Loba (Pequena Zahar), escrito por Roberta Malta e ilustrado por Paula Schiavon

E por falar em lobo, ou melhor, em loba... Nesta história escrita por Roberta Malta e ilustrada por Paula Chiavon, a jornada clássica de Chapeuzinho se torna uma metáfora para abordar um processo intenso: a transformação de meninas em mulheres, apresentando novas formas de pensar e representar o feminino. 

Capa de Olhe pela janela

Quando espiamos pela janela, acreditamos que deciframos a cena. Mas, calma lá, será que é isso mesmo? Assim que vemos o que está por trás das paredes, a coisa toda muda. Não era o Lobo Mau ameaçando a vovozinha? Que nada. Ele só veio fazer uma visita para o chá. Um livro da autora russa Katerina Gorelik, que brinca com as perspectivas e nos ensina a olhar o todo ao invés de acreditar apenas em uma parte.

 

Capa de Vozes no Parque de Anthony Browne

Quatro pessoas decidem passear no parque. Nada de novo, afinal todas estão fazendo o mesmo passeio, certo? Errado. Com a provocação de nos colocarmos no lugar do outro e nos atentarmos a pontos de vista divergentes, esta obra de Anthony Browne oferece ao leitor quatro perspectivas diferentes sobre uma mesma história aparentemente simples, mas que ganha profundidade na sobreposição de múltiplos olhares.

Capa de Uma velhinha de óculos, chinelo e vestido azul de bolinhas brancas

Quando um grupo de seis amigos se reúne e avista uma senhorinha simpática sair de casa, eles inventam um novo passatempo: brincar de adivinhação e dar palpites sobre que tipo de pessoa ela é. Cada um deles, a seu modo, arrisca afirmações sobre a velhinha que usa óculos, chinelos e um vestido azul de bolinhas brancas. E, apesar de possuírem pontos em comum, nenhuma história se repete, originando várias vidas diferentes para a mesma senhora - um livro divertido de Ricardo Azevedo, lançado em 1998.

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