Leia um trecho exclusivo de "Um destino tatuado em sangue", romantasia inspirada na mitologia nórdica

26/02/2025 Recorte da capa de

A autora best-seller do New York Times, Danielle L. Jensen, está de volta com Um destino tatuado em sangue, uma romantasia repleta de magia, traições e um romance proibido. Com um universo inspirado na mitologia nórdica, o livro promete conquistar fãs de histórias como A ponte entre reinos e De sangue e cinzas. Jennifer L. Armentrout, autora também da série Covenant, definiu essa como "a leitura obrigatória de fantasia do ano".

Na trama, acompanhamos Freya, uma jovem com poderes extraordinários que pode decidir o destino de todo o reino de Skaland. Em meio a conspirações, alianças perigosas e uma paixão avassaladora, ela precisará lutar para não ser apenas uma peça no jogo de homens poderosos.

Se você ama fantasia com protagonistas fortes, mundos ricos em mitologia e uma boa dose de romance, Um destino tatuado em sangue é leitura obrigatória. Confira abaixo um trecho exclusivo do livro!

* * *

Minha mãe me ensinou muitas habilidades para garantir que eu me tornasse uma boa esposa para meu marido. Ela me ensinou a cozinhar e limpar. A tecer e costurar. Onde caçar e o que colher. Teria sido melhor se tivesse me ensinado o comedimento necessário para não esfaquear o dito marido quando ele se provasse um beberrão de pouca inteligência e língua ácida…

Pois meus nervos estavam sendo duramente testados hoje.

— O que você está fazendo? — perguntou Vragi, com o hálito fedendo a hidromel enquanto se debruçava sobre meu ombro.

— Exatamente o que pareço estar fazendo. — Passei a ponta da faca na barriga do peixe e as entranhas dele se esparramaram para fora. — Limpando peixe.

Soltando um suspiro aflito, Vragi arrancou a faca da minha mão, quase abrindo minha palma. Pegando outro peixe, ele abriu a barriga do animal e jogou as entranhas em uma pilha ensanguentada antes de enfiar a ponta da minha faca no bloco de madeira, usando uma técnica idêntica à minha.

— Tá vendo?

— Eu sei estripar um peixe — falei entredentes, cada partezinha minha desejando estripar ele. — Já estripei mil peixes.

— Não gosto do jeito que você estripa. — Os lábios dele se curvaram. — O jeito que você estripa é errado, as pessoas reclamam.

Isso era verdade, mas as reclamações não tinham nada a ver com as entranhas dos peixes.

Meu querido marido era um filho dos deuses, tendo recebido uma gota do sangue de Njord em sua concepção, o que lhe tinha garantido uma magia poderosa sobre as criaturas do mar. Só que em vez de usar isso para cuidar de nosso povo, ele usava a magia que havia sido concedida para impedir que outros pescadores conseguissem pescar, mesmo depois de ter enchido as próprias redes. Aí cobrava o dobro do que os peixes valiam das mesmas pessoas cujas redes mantinha vazia.

Todo mundo sabia disso. Mas ninguém ousava dizer uma palavra contra meu marido. Ele era Vragi, o Salvador, o homem que havia libertado Selvegr da fome quando as colheitas tinham fracassado dez anos atrás, atraindo peixes do Mar do Norte para encher barrigas, garantindo que ninguém passasse necessidade.

Um herói, era assim que todos o chamavam. E talvez um dia tivesse sido mesmo, mas a fama e a ganância haviam vencido a generosidade que tinha lhe valido o título, e agora as pessoas cuspiam em seu nome até quando o honravam com um banquete anual. Ninguém nunca ter enfiado uma faca em suas costas se devia principalmente ao fato de ele ter a proteção do jarl.

Mas não só por isso.

— É melhor que nós nunca nos esqueçamos de que podemos precisar da magia dele novamente, Freya — disse minha mãe me quando me queixei disso. — É melhor que você nunca se esqueça de que é ele quem traz riqueza para sua casa.

Riqueza.

Foi o motivo de meu pai ter concordado (apesar de meus protestos enfáticos) com o pedido de casamento de Vragi. No entanto, em vez de viver para contemplar o erro que cometeu, meu pai havia morrido na noite do meu casamento, deixando todo o povo murmurando sobre maus agouros e casamentos malfadados. Se tivesse mesmo sido uma mensagem dos deuses, eles nem precisariam ter se preocupado: desde o momento em que Vragi tinha enfiado a língua asquerosa em minha boca na frente de todos os convidados, eu soube que esse casamento seria uma maldição.

O ano anterior havia me fornecido provas diárias disso.

Só que era difícil reclamar dele usando palavras amargas no ouvido dos outros, pois Vragi era generoso com minha mãe, pagando por todas as necessidades dela enquanto meu irmão conquistava o próprio lugar no bando de guerra de nosso jarl.

Por minha família, farei isso, eu entoava em silêncio, da mesma forma que havia feito na noite em que me casei. Por minha família, vou suportá-lo. Em voz alta, eu disse:

— Pode deixar, vou fazer melhor. — E constatando que ele não parecia satisfeito, acrescentei: — Vou fazer do seu jeito, Vragi.

— Então me mostre. — A condescendência me fez apertar tanto os dentes que quase trincaram, mas obedeci, estripando rapidamente outro peixe.

Vragi bufou, depois cuspiu no chão ao meu lado.

— Minha mãe tinha razão, eu devia mesmo ter me casado com uma mulher feia cujo valor estivesse nas habilidades que tem. E não com uma bonita cuja única habilidade é a beleza. Beleza não estripa peixe. Beleza não cozinha comida. Beleza não faz bebês.

No que dizia respeito ao último item, minha beleza nunca faria mesmo.

Eu gastava quase todas as moedas que ele me dava comprando suco de limão e esponja dos comerciantes que vinham dos Mares do Sul, e se Vragi alguma vez ficou se perguntando por que o próprio pau tinha começado a cheirar a frutas cítricas depois que nos casamos, nunca me perguntou. Que a ignorância dele seja preservada.

— Um ano, mulher. Um ano inteiro de casamento e cópula e nada de filho.

Eu me inclinei sobre a tábua, estripando outro peixe para ocultar as lágrimas de raiva que ameaçavam cair. Eu nunca submeteria uma criança a este homem. Nunca.

— Vou fazer uma oferenda. — O que não era mentira. No início de cada ciclo, eu fazia um sacrifício à deusa com quem divido o nome, suplicando para que deixasse meu útero vazio. Até agora ela tinha sido misericordiosa.

Ou isso, ou tive sorte.

Como se ouvisse meus pensamentos, Vragi agarrou minha trança, colocando-me em pé.

— Eu não quero oferendas, Freya — resmungou ele. — Quero que você se esforce mais. Quero que faça as coisas direito. Quero que me dê o que eu quero.

Meu couro cabeludo ardia, apenas a firmeza de minha trança o impedindo de arrancar um punhado do meu cabelo, então eu explodi.

— Talvez seja você que não está fazendo direito, marido. É o que me parece, pelo menos.

O silêncio deixou o ar denso.

Uma mulher esperta se arrependeria dessas palavras, mas eu era claramente uma idiota de primeira ordem, pois tudo o que senti foi um lampejo de triunfo perverso quando a farpa atingiu o alvo devagar. O rosto de Vragi escureceu sob a barba grossa, uma veia em sua têmpora pulsando como um verme roxo. Então ele encostou a faca em meu rosto, o hálito rançoso enquanto suspirava.

— Talvez a chave seja deixá-la menos bonita, Freya. Aí terá que aprender outras habilidades.

O aço era frio e cruel. Serviu para afastar meu triunfo e o substituir por medo.

No entanto… eu não podia ceder. Não podia me permitir ser fraca, chorar ou suplicar, porque era isso que ele queria: me colocar para baixo. Em vez disso, olhei bem fundo nos olhos dele e retruquei:

— Vá em frente. Vá em frente, Vragi, e depois de me mutilar, vá até o vilarejo e veja se ainda vão oferecer um banquete a você e chamá-lo de herói quando souberem que cortou o rosto de sua esposa para ofender a beleza dela.

Ele curvou os lábios para baixo.

— Eles precisam de mim.

— Isso não significa que precisam honrar você. — E um narcisista como ele precisava daquela honra.

Fiquei observando as engrenagens da mente dele girarem; sem dúvida estava refletindo sobre até onde poderia me ferir sem consequências. Mas eu me recusava a desviar os olhos, apesar do suor frio que escorria por minhas palmas. Ele pressionou a lâmina com mais força junto ao meu rosto, cortando de leve[CO1] , e respirei fundo para controlar o pânico crescente.

Ele ouviu.

Vragi sorriu, minha minúscula demonstração de fraqueza o satisfazendo. Então soltou meu cabelo, abaixando a faca.

— Volte ao trabalho, mulher. Quando terminar, leve dois peixes para sua mãe. Talvez ela te ajude a lembrar de seus deveres. É culpa dela, e do seu pai — ele cuspiu —, você não saber quais são.

— Não fale mal do meu pai! — Empunhei minha faca, mas Vragi apenas olhou com desprezo para ela.

— Aí está a prova — falou. — Ele esqueceu que você era filha e a ensinou como seu irmão. Agora, em vez de uma esposa, tenho uma mulher adulta que brinca de ser guerreira como uma criança, sacudindo um graveto e imaginando que cada árvore é um inimigo.

Meu peito queimava, minhas bochechas ficando vermelhas. Porque ele não estava errado.

— Talvez eu tenha sido cúmplice — disse Vragi. — eixei que tivesse muito tempo ocioso, o que os deuses sabem que é a destruição de um bom caráter.

O único tempo ocioso ao qual eu era permitida eram as horas que dormia, mas não retruquei.

Vragi me deu as costas, indo direto para a beira d’água, o fiorde brilhando sob a luz do sol. Erguendo a mão, invocou o nome de Njord.

Por um longo momento nada aconteceu, e sussurrei uma prece silenciosa desejando que o deus do mar finalmente tivesse reconhecido a merda de filho que meu marido era e roubado sua magia.

Preces desperdiçadas, pois um segundo depois a água estremeceu. E os peixes começaram a pular.

Apenas alguns, a princípio, mas logo dúzias e mais dúzias se atiravam na praia, até mal dar para ver as pedras em meio à abundante massa de barbatanas e escamas.

— Isso deve manter você ocupada. — Vragi abriu um sorriso sarcástico. — Mande lembranças para sua mãe.

Minha lâmina ensanguentada estremeceu com raiva malcontida quando ele se virou e foi embora.

Fiquei olhando para os peixes que se debatiam na praia, desesperados para voltar à água. Era um desperdício, pois havia mais peixes do que podíamos vender antes de começarem a apodrecer. E não era a primeira vez que ele fazia isso.

Uma vez eu o tinha visto puxar uma baleia para a praia, mas em vez de acabar com a vida do animal de imediato, permitiu que ela voltasse para a água só para usar a própria magia e puxá-la de volta. Fez isso várias vezes, com todo o vilarejo assistindo, os olhos cheios de fascinação enquanto ele torturava um animal sem motivo para além do fato de que podia.

Só havia acabado quando meu irmão abrira caminho pela multidão e enfiara um machado no cérebro da baleia, encerrando o sofrimento dela e permitindo que o restante de nós iniciássemos o processo de desmembrar a carcaça, ninguém celebrando o que deveria ter sido um dia glorioso de banquete.

Eu me recusava a sentir o mesmo tipo de arrependimento novamente.

Levantando as saias, corri até onde os peixes se debatiam, pegando um deles e o jogando na água. Depois outro, e mais outro, alguns tão pesados que precisei de toda minha força para devolvê-los ao lugar de onde vieram.

Com movimentos rápidos no limite da linha d’água, devolvi ao mar a pesca de Vragi, o estômago revirando sempre que encontrava um peixe que havia sucumbido, tomando cada morte como um fracasso pessoal. Mas eram peixes demais.

Encontrando um peixe ainda vivo que tinha se jogado em um arbusto, eu o peguei e o atirei por cima do ombro na água.

Em vez de um respingo, um xingamento alto preencheu meus ouvidos; ao me virar, vi um homem em pé no fiorde, com água até a cintura, passando a mão no rosto. Que eu com certeza havia acertado com o peixe.

— O peixe se machucou? — perguntei, procurando por algum sinal da criatura, com medo de tê-la matado na tentativa de salvá-la. — Ou saiu nadando?

O homem parou de passar a mão no rosto e me olhou com incredulidade.

— E quanto a mim?

Parei de procurar o peixe e o olhei com mais atenção, sentindo meu rosto esquentar no mesmo instante. Mesmo com o rosto avermelhado pelo impacto, ele era extremamente atraente. Alto e de ombros largos, parecia ter apenas alguns anos a mais do que os meus vinte. Os cabelos pretos eram raspados nas laterais, o resto preso em um rabo de cavalo curto atrás da cabeça tatuada. Ele tinha maçãs do rosto salientes e traços esculpidos, e enquanto a maioria dos homens usava barba, apenas o rastro de alguns dias de ausência da navalha se fazia presente. Estava sem camisa, e água escorria de seu torso nu e musculoso. A pele escurecida pelo som era marcada por dezenas de tatuagens. Um guerreiro, sem dúvida, e mesmo sem arma, eu suspeitava que fosse uma ameaça significativa.

Percebendo que não tinha respondido, cruzei os braços.

— Que tipo de idiota nada no fiorde quando o gelo acabou de quebrar? Está querendo morrer congelado? — Para enfatizar meu argumento, apontei com o queixo para um pedaço grosso de gelo que passava boiando por ele.

— Isso não me pareceu um pedido de desculpas. — Ele ignorou o gelo e se moveu em direção à margem. — E parece que estou correndo mais risco com peixes voadores do que com um possível congelamento.

Dei um passo para trás, reconhecendo o leve sotaque do homem. Era raro que Nordeland atacasse tão no início da primavera, mas não impossível, e passei os olhos pelo fiorde à procura de drácares e homens, mas a água estava vazia. Olhando até o ponto mais distante do fiorde, avistei a densa floresta que se elevava ao lado da montanha.

Ali.

O movimento chamou minha atenção, e congelei procurando pela fonte. Mas o que quer que fosse, tinha desaparecido, provavelmente nada além de um pequeno animal.

— Não sou um invasor, se essa é a sua preocupação. — Ele parou com a água na altura dos joelhos, mostrando os dentes em um sorriso entretido. — Só um homem que precisa de um banho.

— Isso é o que você diz. — Xinguei a mim mesma por ter deixado minha faca na tábua de corte. — Poderia estar mentindo para mim. Me distraindo enquanto seus companheiros avançam até meu vilarejo para matar e saquear.

Ele recuou.

— Está bem, está bem. Você me pegou.

Fiquei tensa, pronta para gritar um alerta a quem pudesse ouvir, quando o homem acrescentou:

— Os membros do meu clã me disseram: “Você não é um guerreiro muito bom, mas é bem bonito, então sua tarefa vai ser atravessar o fiorde a nado para flertar com aquela linda mulher que está jogando peixes. Com ela distraída, estaremos livres para atacar”. — Ele suspirou. — Era minha única tarefa e acabei fracassando.

Meu rosto corou, mas ter crescido com um irmão mais velho significava que eu conseguia retribuir a provocação na mesma moeda.

— É claro que fracassou. Tem tão pouco talento para flertar quanto para lutar.

Ele inclinou a cabeça para trás e riu, o som grave e forte, e apesar de todas as minhas intenções de me manter cautelosa e com a guarda erguida, um sorriso surgiu em meus lábios. Deuses, ele era mesmo atraente… como se o próprio Baldur tivesse escapado de Hel, no submundo, e aparecido diante de mim.

— Você mira tão bem com as palavras quanto com peixes, mulher — respondeu ele, os ombros ainda tremendo por conta da risada enquanto saía da água, as calças ensopadas coladas nos músculos firmes de suas pernas e de sua bunda. — Estou tão ferido que devo permanecer deste lado do fiorde para sempre, pois meus companheiros nunca vão me aceitar de volta.

Tão perto como ele estava, pude ter noção do quanto era robusto, cabeça e ombros mais altos do que os meus e o dobro da minha largura, com gotas de suor rolando pela pele lisa. Eu deveria lhe dizer que fosse embora, partisse, pois eu era casada e estávamos na terra do meu marido, mas em vez disso o olhei de cima a baixo.

— O que faz você pensar que vou querer mantê-lo? Não sabe lutar. Não sabe flertar. E não consegue nem pegar peixes quando são jogados na sua direção.

Ele colocou a mão sobre os músculos firmes do abdômen, fingindo se dobrar quando disse:

— Um golpe mortal. — Caindo de joelhos diante de mim, levantou o olhar com um sorriso sarcástico, o sol iluminando os olhos de um tom de verde como as primeiras folhas da primavera. — Antes que acabe comigo, me deixe provar que não sou totalmente desprovido de habilidades.

Se alguém nos visse assim e contasse a Vragi, seria um Hel nos acuda. E talvez eu merecesse, pois era uma mulher casada. Casada com um homem que eu odiava com todas as minhas forças, mas do qual nunca me libertaria, independentemente do quanto desejasse. Então, falei:

— Qual habilidades você poderia ter que me interessariam? 

O brilho nos olhos dele se transformou em calor, e meus dedos se curvaram dentro dos sapatos quando ele disse:

— É melhor se eu mostrar. Acho que você não vai se decepcionar.

Meu coração acelerou dentro do peito. Isso era errado, profundamente errado, mas uma parte egoísta de mim não se preocupava. Queria apenas beijar esse estranho charmoso e atraente sem ligar para as consequências.

Só que eu não era assim.

Engoli em seco, afastando o desejo ávido e carente que exigia permissão para continuar. Em vez disso, estendi a mão, puxando-o para que ficasse em pé. Suas palmas eram calejadas e os dorsos tinham cicatrizes que contradiziam a afirmação anterior de que não era um guerreiro.

— Seja lá de onde você venha, as mulheres desse lugar devem ser desesperadas ou tolas para caírem em tamanha bobagem. Pode tomar seu rumo.

Eu me esforcei para não prender a respiração enquanto o esperava reagir a minha rejeição, pois poucos homens aceitavam isso bem, mas ele apenas inclinou a cabeça e disse:

— Parece que você não está desesperada e nem é tola, o que alguns diriam que é uma pena para mim. — Então levantou minha mão, não parecendo se importar com o cheiro de peixe, e beijou os nós dos meus dedos. — Eu digo que isso apenas significa que preciso me esforçar mais, pois você é uma mulher realmente notável.

O roçar dos lábios dele em minha pele lançaram arrepios por todo o meu corpo, e minha mente se perdeu nas profundezas daqueles olhos verdes. Soltando minha mão, ele esticou o braço para tocar em meu rosto, passando o polegar pela linha que a faca de Vragi tinha deixado em minha bochecha.

— Onde está seu marido?

— O que faz você pensar que sou casada? — perguntei, mas ele apenas se virou e subiu a encosta na direção de um cavalo que eu nem tinha percebido que estava amarrado a uma árvore.

Ele vestiu uma camisa antes de se voltar para mim.

— Sua aliança. Agora, onde posso encontrá-lo?

Instintivamente, escondi a mão, que ostentava um anel de prata simples, nas dobras da saia.

— Por que quer saber onde ele está?

— Porque vou matá-lo. Minha intenção é tornar você uma mulher livre para que possa ir para a cama comigo sem preocupações de propriedade — respondeu ele, apertando o cinturão antes de subir nas costas do animal alto. — Que outro motivo poderia haver?

Meu estômago afundou.

— Não pode fazer isso!

— Tenho certeza de que posso. — Ele deu a volta em mim com o cavalo. — Você estava certa ao dizer que sou tão talentoso flertando quanto lutando, linda. Vou ser rápido para poupar o pobre coitado, aí você vai ser livre para perseguir todos os seus desejos.

— Não faça isso! — Fiquei ofegante, apesar de a morte de Vragi ser um de meus desejos mais frequentes. — Eu proíbo.

— Ah. — Ele deu outra volta ao meu redor, e o cavalo ruão feio bufou alto. — Bom, então neste caso, vou esperar que ele seja vítima de um peixe voador. Haverá certa justiça nisso. — Abrindo um sorriso repleto de todo tipo de promessas, ele cavalgou pela praia.

— Aonde você está indo? — gritei, ainda sem saber ao certo se o homem estava brincando ou falando sério, e a chance real de que ele pudesse realmente ser um invasor perpassou minha cabeça. — Vai matar ele?

Olhando por sobre o ombro, ele sorriu.

— Mudou de ideia sobre a longevidade contínua dele?

Sim. Fechei as mãos em punho.

— É claro que não.

— Que pena.

Aquilo não era resposta, então ergui as saias, correndo atrás do cavalo.

— Aonde você está indo? O que veio fazer no vilarejo?

— Nada — respondeu ele. — Mas jarl Snorri sim, e ele deve estar se perguntando onde fui parar.

Paro de repente, cada parte de mim querendo afundar no chão, porque meu irmão era um dos guerreiros do jarl. Se ele soubesse que andei flertando com esse homem…

— Você está com o jarl?

Ele deu uma piscadela  na minha direção.

— Algo assim. — Então apertou os calcanhares nas laterais do cavalo, percorrendo a praia a galope, e me deixando lá, parada, contemplando seu rastro.

* * *

DANIELLE L. JENSEN nasceu e cresceu em Calgary, Canadá, onde mora atualmente com a família e seus porquinhos-da-índia. Além de Um destino tatuado em sangue, também é autora da série A Ponte entre Reinos. Seus romances já foram traduzidos para mais de quinze idiomas.

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