Por que a aula hoje é na rua?

15/05/2019

 

 

Hoje a aula é na rua! É o que nos contam educadores e estudantes, organizados em sindicatos, coletivos, grêmios, centros acadêmicos, diretórios de instituições de ensino, públicas e particulares, que convocaram uma paralisação geral na educação nesta quarta-feira, 15 de maio – 15M. Há manifestações em todo o país, uma resposta aos cortes orçamentários das universidades federais e aos bloqueios das bolsas de pesquisa, declarados pelo ministro da Educação Abraham Weintraub.

A redução dos recursos, no entanto, atinge diferentes ciclos, da Educação Infantil ao Ensino Superior, em um corte de R$ 7,4 bilhões, abrangendo verbas para a construção de escolas e transporte escolar, por exemplo. No Ensino Superior, os cortes são em torno de R$ 2 bilhões e comprometem o funcionamento das instituições públicas federais.

Conversamos com educadores e estudantes para saber qual a importância de se mobilizar em momentos como este. Nossa pergunta foi: além de se manifestar contra os drásticos cortes da educação, por que é importante hoje ir para a rua? Confira as respostas a seguir!

 

#DesignAtivista

 

"Escola pública de qualidade é uma promessa de todo os governos. E sabemos que não é nada fácil atingir esse patamar de excelência. São muitos atores envolvidos: professores, pais, alunos, comunidade. Já se afirmou que para educar uma criança é preciso uma aldeia inteira. Estamos num momento bastante delicado. Aliado à dificuldade de se chegar a uma excelência por tantos e diversos motivos, temos pela primeira vez na história de nosso país um governo que ataca a educação ao invés de preservá-la, que coloca em dúvida a relação de conhecimento e paixão pelo ato de ensinar. Ir às ruas com toda a sociedade no dia 15 é demonstrar nosso compromisso pela escola pública, contra-atacar com paixão e responsabilidade o ataque de ódio e desconhecimento brutal com os quais estamos, todos nós educadores, sendo alvo permanente."

* Celinha Nascimento, Mestre em Literatura Brasileira, formadora de professores e contadora de histórias

 

"É importante ir à rua no dia 15 de maio não só para reivindicarmos o corte exacerbado nas verbas que deveriam ser destinadas à educação, mas também para valorizarmos o direito de cidadãos que é nos dado: o de expormos nossa opinião e de nos unirmos em um momento tão decisivo para o futuro brasileiro. A medida do atual governo fará com que o ensino se precarize e restringirá (ainda mais) a formação de excelência dos estudantes. Portanto, o ato de hoje é necessário para exercermos nosso papel como cidadãos e lutarmos por nossa educação pública."

* Giovana Pavoni Hipólito, estudante de Psicologia da UFMS

 

"Ir à rua é importante porque se trata de uma questão de posicionamento e construção de um corpo fortalecido para o que ainda nos aguarda. Ir à rua é fazer política ao invés de falar de política."

* Geruza Zelnys, escritora, pesquisadora, professora e crítica literária.

 

"O principal motivo que me faz querer estar presente no ato do dia 15 é saber que corremos riscos. E não, não são a apenas os 30% a menos no orçamento de institutos e universidades ou as 3 mil bolsas da Capes cortadas. São riscos à um direito básico universal: a educação. Vou para rua lutar para mostrar que, assim como milhares de brasileiros, eu não acordo com o atual governo, estruturado de ódio e desmontes. Vou à rua para lembrar ao atual governo que ele não está me representando! Sou estudante, é meu dever lutar pelos meus direitos."

* Marina Lourenço de Souza, estudante de jornalismo na Faculdade Cásper Líbero e presidenta do Centro Acadêmico Vladimir Herzog


 

Assembleia na Faculdade Cásper Líbero organizada pelo CAVH; Foto de Matheus Ahmad Bakr 

 

"É importante ir à rua no 15 de maio justamente para mostrar a força que nós, estudantes, docentes, pesquisadores e trabalhadores da educação, temos neste país e o quão dispostos nós estamos em garantir o futuro da educação pública de qualidade, além do desenvolvimento científico-tecnológico em nosso país. Ir às ruas significa mostrar que não vamos nos calar diante de tanto congelamento na área da educação, que encaminha o país para um retrocesso imenso."

* Pedro Ticiane, estudante de Astronomia na USP e diretor de Política do Centro Acadêmico do IAG

 

"Infelizmente, são muitas questões, mas eu acho que o importante, para começo de conversa, é a gente reivindicar um plano de educação. Porque não tem. Quer dizer, já não tinha ano passado, na época de fazer um programa de governo. Aí o governo acabou colocando no Ministério da Educação não só um ministro, mas um grupo de pessoas que a gente também não entende qual é o propósito e, com a posse do segundo ministro, ficou mais evidente o que eles são contra do que o que são a favor na educação. Qual é o plano de educação? O governo está fazendo cortes, está criando medidas pequenas e confusas, como aquela questão de cantar o hino nas escolas, fica falando de ideologias... Então, a gente tem que ir para rua porque não pode ficar nesse mar de incertezas. As universidades são a nossa chama de conhecimento, a gente tem que cuidar delas para que sejam idôneas, para que as pesquisas atinjam democraticamente as pessoas, para que o conhecimento seja produzido por diferentes grupos. É por isso que a gente tem que lutar. Tudo o que a gente evoluiu eles tão querendo tirar e aí a gente vai para a rua para perguntar: "Tirando para quê? Por quê?" 

* Cristiane Rogerio, jornalista, coordenadora pedagógica e professora n’A Casa Tombada

 

"Estamos nas ruas para lutar pela educação pública de qualidade em nosso país. Mas essa reivindicação está intimamente relacionada à concepção de civilização e sociedade que a sustenta. Lutamos por uma sociedade plural, multicultural e democrática, cujos fundamentos se espelham nas práticas educativas que o atual governo procura destruir com suas medidas autoritárias e injustificadas. Somente essas práticas educativas, juntamente com a ação democrática, impedem que o fascismo repaginado, cinicamente denominado 'populismo', se instale definitivamente em nosso país."

* Henrique Pacini, professor de História no ensino médio e doutorando em Educação pela USP

 

"A educação é um poderoso mecanismo de transformação da sociedade, na medida em que suscita o pensamento crítico. Desse modo, os cortes do governo Bolsonaro no MEC, aliados a projetos que desvalorizam e censuram o professor, não ameaçam apenas a educação, mas a sociedade como um todo. Ao sucatear o ensino público e inibir a produção de conhecimento do país, o governo garante a manutenção da condição de subdesenvolvimento do mesmo. Portanto é essencial que a sociedade civil se una contra o desmantelamento da educação e lute pelos seus direitos."

* Grêmio Garrafa do Colégio Oswald de Andrade

 

Assembleia no Colégio Oswald de Andrade; Foto de Mariana Perpetuo

 

"Vamos para a rua não só pela educação em geral mas também pela mão de obra e pela força de trabalho do proletariado que vêm sendo sucateadas com as ações do atual governo, com isso são violados os direitos humanos de todo brasileiro."

* Grêmio Fernão Livre da Escola Estadual Fernão Dias Paes

 

"Nós sofremos o congelamento em saúde e educação com a PEC 95, durante o governo Temer. Isso aconteceu há dois anos e, embora tivéssemos nos mobilizado, não conseguimos barrar o projeto. Desde então, sofremos cortes nos investimentos nas áreas de saúde, educação… Esses cortes refletiram nas universidades públicas, que perderam recursos importantes em diversas áreas. Temos que reivindicar pelo fim dos cortes e também por políticas públicas que contribuam para o avanço social do país. Esses cortes significam uma violência contra a sociedade. Sair às ruas, portanto, significa levar para as ruas e, por consequência, à sociedade nossa discordância dessa política desastrosa de desmonte das universidades públicas e dos ensinos básico e fundamental."

* Maria José Menezes, Ativista e coordenadora do Núcleo de Consciência Negra (USP)

 

"A educação é pauta suficientemente forte para irmos às ruas amanhã. O corte do orçamento das universidades públicas se soma à uma onda de cortes que vem desde 2015, colocando o funcionamento do ensino superior público em xeque. O aperto também se dá na educação básica, diferentemente do que o governo colocou. Também há um histórico: no ano passado, por exemplo, houve tentativa de modificação da convenção coletiva dos professores de escolas privadas, na esteira da reforma trabalhista. País que não prioriza sua educação não prioriza seu futuro."

* Rodrigo Ratier, professor do curso de Jornalismo na Faculdade Cásper Líbero e blogueiro do UOL

 

 

"Ocupar as ruas no dia 15 de maio e reivindicar a recomposição do orçamento das instituições federais de ensino faz parte de um processo de lutas muito importante, um processo de lutas em defesa de um modelo de sociedade em que todos tenham direito à educação, à aposentadoria e ao trabalho digno, por exemplo. Sem medo, a juventude vai dar seu recado nas ruas: a educação não é mercadoria e não vamos deixar que nosso futuro seja destruído pela turma que ganhou a presidência à base de fake news e discursos de ódio. A educação pública brasileira é muito maior do que todos eles. Vamos sem medo!"

* Caíque Azael, mestrando em Psicologia na UFRJ e participante do Movimento RUA - Juventude Anticapitalista

 

Assembleia na UFRJ; Foto retirada da página RUA 

 

"A profissão de professor, já tão desvalorizada no país, hoje se vê ameaçada por piora generalizada de condições. A reforma trabalhista já havia tirado dos professores garantias de direitos previstos em convenções coletivas. Além disso, a proposta de reforma da previdência ora em análise não considera as especificidades de nosso trabalho. Tudo isso, somado a campanhas de desmoralização de professores e instituições de ensino, compromete muito a qualidade da educação no país."

* Felipe Leal, professor de Redação e Filosofia e autor do curso Anglo

 

"Os cortes são uma das frentes de desmonte da educação. Há outras que, além dessa, precisam ser combatidas por todos que amam o conhecimento e desejam viver em uma sociedade justa. Destaco a campanha de desmoralização, quase criminalização, da profissão de professor (e agora também de cientista), que tem tudo a ver com essa espécie de 'cruzada' contra o pensamento crítico. Nesse cenário em que a situação é tão preocupante, precisamos garantir o nosso direito de produzir conhecimento e de ter acesso a ele, para sermos cada vez mais inteligentes, livres e capazes de viver juntos e em paz."     

* Marisa de Oliveira, professora de Redação no Ensino Médio

 

"Além dos cortes (que retoricamente o ministro da Educação insiste em chamar de 'contingenciamento') nos investimentos na educação, bem como a reforma da Previdência, o que tem, ao que parece, motivado as pessoas a saírem às ruas é o conjunto das ações do governo ao atacar as minorias e os trabalhadores, fazendo com que estes sejam eleitos os responsáveis pela crise. Mas, apesar da insistência, já fica claro que não é cortando direitos que será possível garantir a recuperação da economia. O melhor exemplo é a reforma trabalhista, lei que entrou em vigor em novembro de 2017 e foi apoiada pelo então deputado Jair Bolsonaro (hoje presidente da República), que prometia 4 milhões de empregos, mas que hoje amarga 13 milhões de desempregos. Além disso, também já fica claro que não é a flexibilização da posse de armas que garantirá segurança às pessoas, pois os índices de criminalidade continuam crescentes em todo o país. Some-se a isso a carestia, a precariedade na educação e na saúde, o que gera um clima crescente de insatisfação nas pessoas, mesmo nas menos esclarecidas."

* Chico de Paula, bibliotecário da UFRJ e advogado

 

"Essa é uma manifestação contra as medidas assumidas pela presidência, como o corte de verbas para universidades e educação básica, a suspensão das bolsas de pesquisa acadêmica, a imposição de um único viés ideológico para o ensino, a tentativa de desqualificar as humanidades por levar ao pensamento crítico, o descrédito ao trabalho do professor. A educação do Brasil está por um fio, e acredito que todos os professores e alunos devem se mobilizar, independentemente do espectro partidário. Para qualquer país se desenvolver, é necessário investimentos maciços em pesquisa e educação".

* Bruna Correia, estudante de Ciências Sociais e integrante do DCE Livre da USP

 

Assembleia no campus de São Carlos da USP; Foto retirada da página DCE Livre da USP

 

"A educação é a maior ferramenta de emancipação numa sociedade. Apresenta-se como fator importantíssimo na ascensão econômica da população e como ferramenta excepcional no combate a crises econômicas e políticas. No Brasil de Jair Bolsonaro, aparenta ser inimiga de suas estratégias, se elas existem, para alavancar o momento econômico, social e político que o país vive hoje. Mais do que nunca a hora de lutar é essa. Esses cortes representam a tentativa de sucatear a educação de nosso país, que é sem dúvidas uma das bases mais importantes de uma sociedade. A luta hoje não é só dos estudantes e professores, mas de todos os cidadãos que querem construir uma sociedade e um país mais justo, seguro, com direitos, igualdade e que possa crescer e se desenvolver sem que os grupos mais vulneráveis sejam mais prejudicados ainda. Sem a educação, essas intenções ficam cada vez mais inalcançáveis. A educação é transformadora, é nossa maior arma. E não deixaremos o presidente Jair Bolsonaro destruí-la." 

* Centro Acadêmico dos Estudantes de Psicologia do Mackenzie - CAEPSI

 

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