O Pum e a literatura feita "apenas" para rir

31/01/2020

Por Blandina Franco

Em 2020 o nosso Pum fez dez anos. Parece indiscrição e até um pouco de cara de pau nossa assumir assim, publicamente, que faz mais de dez anos que eu e o Lollo deixamos nosso Pum espalhado por livrarias, escolas e bibliotecas do Brasil inteiro – e nem é um Pum só. Até 2019 foram cinco Puns diferentes, algumas vezes só o Pum, outras vezes o Pum chegava com Chulé, com Piriri, com Meleca e até com Arroto (em 2020, foi lançado o sexto, o livro de banho Soltei o Pum na banheira).

(Ilustração de Lollo)

Mas isso, ao contrário do que muita gente pode pensar, não é motivo de vergonha pra gente. Nós amamos o Pum, em grande parte nossa carreira como autores de literatura infantil é, pode-se dizer, um estouro (modéstia à parte). Com o Pum, conquistamos espaço para falar de outros assuntos menos bombásticos, mas igualmente importantes, como a história do Ernesto de quem todo mundo vive falando alguma coisa, ou da Raiva, que conquistou outros países e pode ser encontrada na Turquia, na China e em Portugal.

Há mais de dez anos, quando pensamos em contar a história do Pum, a gente não achou que ele seria o sucesso que é. Nem sabíamos se alguma editora toparia fazer um Pum com a gente e tivemos a sorte de o pessoal da Companhia das Letrinhas entrar na brincadeira.

 

Acreditamos que diversão é uma ótima porta de entrada para a leitura. Rir não é só o um bom remédio para muitas coisas na vida, é também um ótimo caminho para aprender a gostar de coisas sem nem perceber que está aprendendo.

 

É uma história simples, despretensiosa, feita de trocadilhos para as crianças brincarem. Até o traço é sem compromisso, e talvez seja essa simplicidade que torna o livro tão querido pelas crianças. O Pum foi feito com a gente se divertindo e para divertir as crianças. Acreditamos que diversão é uma ótima porta de entrada para a leitura. Rir não é só o um bom remédio para muitas coisas na vida, é também um ótimo caminho para aprender a gostar de coisas sem nem perceber que está aprendendo. Rir é brincar, e quem não gosta de brincar?

Ilustração de Lollo para a comemoração de 10 anos do Pum, em 2020

Não adianta a gente tentar convencer uma criança de que um livro é tão legal quanto, ou melhor ou igual a um brinquedo se ela não se divertir lendo. A gente sabe que a leitura leva as pessoas para um monte de lugares diferentes e resolve um monte de coisas internamente, mas convencer uma criança de que isso acontece, fazer ela acreditar e sentir vontade de investir o seu tempo na leitura é um pouco mais complicado do que simplesmente dizer isso ou ler uma história para ela. E aqui, falar com as crianças na língua delas, dizer besteiras, escrever um livro divertido sem a pretensão de passar algum tipo de moral ou lição é um bom truque, uma roubada no jogo que as aproxima dos livros e do mundo da leitura.

Cresci ouvindo do meu pai que eu podia ler tudo o que quisesse e me desse prazer e essa é uma lição que não esqueço. Fiz a mesma coisa com meus filhos mais velhos, e eu e Lollo fazemos com nosso filho José. Parece que está dando certo, aqui, todo mundo adora ler. Se o nosso Pum fizer isso com outras crianças, eu e Lollo ficaremos muito felizes.

(Texto atualizado em 8/1/2023)

***

Blandina Franco é escritora de livros infantis e José Carlos Lollo é ilustrador. A dupla tem mais de 40 livros publicados, foi vencedora do prêmio Jabuti em 2014 e 1015 e finalista em 2011, 2013 e 2015. Recebeu menção honrosa no prêmio Bologna Ragazzi Digital Award em 2012 pelo livro "Quem soltou o Pum?" e outra menção honrosa do Prêmio João de Barro de 2014. Quatro de seus livros foram selecionados para o Catálogo de Bolonha da FNLIJ. A dupla recebeu ainda o prêmio 30 Melhores Livros infantis do Ano, da revista Crescer, em 2014, 2015, 2017 e 2019 e o prêmio Selo Cátedra 10 - Seleção 2018 da Unesco. O trabalho completo deles está no site Circo Blandollo.

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