Como formar leitores em parceria com as famílias em 9 dicas

03/08/2020

Imagem: A princesa e o gigante, de Caryl Hart (texto) e Sarah Warburton (ilustrações)

 

Ouvir histórias desde pequeno e ter contato com os livros ajuda na aquisição da fala e na ampliação do vocabulário. Também facilita a alfabetização e o pensamento complexo, que vai ser essencial na escola. E, além disso tudo, é um direito e um presente, como diz a mediadora de leitura e livreira espanhola Lara Meana: ler por prazer é uma das coisas mais afetuosas e generosas que podemos fazer pelos pequenos. Mostrar a eles como entrar nesse lugar tão especial, que nos dá ferramentas para silenciar, viajar, compreender a nós e os outros, perguntar, é ou não é um ato de amor? Para a especialista Edi Fonseca, a leitura compartilhada fortalece os vínculos e é um "banho de afeto" ao bebê e às crianças pequenas, que adoram ouvir a voz dos pais com o ritmo das palavras.

Parceria família-escola

Mostrar esse universo incrível aos alunos com certeza ficará mais fácil com a parceria das famílias. Do exemplo de casa e dos momentos de afeto com os adultos -- momentos mediados por livros! -- é que nascem os leitores. Por isso, é muito importante:

  • manter um diálogo com os pais sobre esse assunto,
  • dar dicas de como levar os livros para o cotidiano em casa e
  • pensar em formas de a literatura estar sempre com as crianças.

Nesse sentido, o olhar da escola precisa estar afinado com o dos pais, dos avós, dos adultos referência, das crianças... Pensando nisso, adaptamos as dicas a seguir, originalmente pensadas para as famílias. Você pode aproveitá-las tanto para sua mediação leitora com sua turma quanto pode indicar algumas delas às famílias dos alunos quando achar que faz sentido.

Como formar leitores literários

1) Conte histórias

Não precisa ser um livro, não precisa ser real nem inventada, não precisa ser super elaborada. Apenas conte o que lhe vem à cabeça.

Sabe aquele "causo" de família, meio ficção, meio realidade? Compartilhe! Imagem: Colo de avó, de Roseana Murray (texto) e Elisabeth Teixeira (ilustrações)

Que tal uma experiência sua quando criança? Um "causo" que sua avó te contou? Uma narrativa oral dos seus antepassados? O enredo de um filme ou série que você amava? Compartilhe uma narrativa que mexa com você e permita que as crianças se conectem com esse sentimento tão verdadeiro que é o prazer de contar e ouvir.

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2) Leia com eles

Para os pais, vale pensarem no seguinte: Qual é o horário que funciona para aquela leitura compartilhada deliciosa? Se já têm o hábito de ler na hora de dormir, por exemplo, ótimo! Se for possível ampliar esse momento para outro horário do dia, tanto melhor. 

Que tal combinar horários diferentes ao longo do dia para a leitura mediada? Imagem: Bibioteca???, de Lorenz Pauli (texto) e Kathrin Schärer (ilustrações)

Por exemplo, livros mais "animados", a gente pode ler de manhã, deixando alguns "sossegados" para a hora de dormir. E, para os educadores, vale o mesmo raciocínio: em que momento tem sido mais potente trazer uma leitura? Dá para ampliar esse momento? Dá para sugerir que as crianças tragam suas leituras de casa e compartilhem com os colegas? Tanto em casa quanto na escola, vale deixar as crianças escolherem algumas obras. Que tal assim: adultos selecionam uma vez e, na próxima, são os pequenos? O importante é mediar o livro, estar presente e inteiro nessas horas, trocar, ouvir, ler, dar ritmo à história -- aquele ritmo seu, com suas voz, que as crianças tanto amam.

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3) Leia para você

Sim, por favor, reserve um tempinho, pequeno que seja, para você também ler por prazer. Nada melhor que o exemplo, não é mesmo?

Um tempo com você! Imagem: O livro de Lívio, de Hefrna Bragadottir

E leia o que de fato te faz bem: livro, revista, jornal, gibi... É preciso brilhar os olhos e aquecer o coração de verdade. Do mesmo modo que as crianças nos observam para aprender os valores, os hábitos e afetos que nos movem, também observam do que gostamos. Ao ler com prazer os nossos livros, a gente deixa uma mensagem poderosa para os pequenos: ler é uma delícia!

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4) Leia os livros dos seus filhos e alunos

Você gosta dos livros que lê com as crianças? Um bom exercício para se aproximar -- e se apaixonar -- pelas obras do acervo infantil é lendo. Ler e observar que emoções te causam, do que você gosta, quais momentos cômicos te fazem rir, que tipo de ilustração comunica melhor com você... Isso vai ajudar você a se entregar mais às obras na hora de ler e ainda vai orientando suas escolhas tanto na hora de selecionar o que vai levar para a leitura do dia a dia quanto para escolher livros nas livrarias ou mesmo indicar para as famílias -- se você for educador -- ou vice-versa. E, afinal, como diz a Lara Meana: não é possível apaixonar alguém por alguma coisa sem estar apaixonado também, não é? Uma dica para dar às famílias: manter as obras à mão, soltas pela casa...

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5) Seja um bom ouvido

Se você conta e lê história para as crianças, em algum momento elas vão querer trazer histórias para você também. Não é lindo, isso? Esteja preparado para ouvir, com atenção e afeto. Repare bem no que as crianças selecionam das histórias para contar ou no que elas inventam. Isso revela demais sobre elas, como se sentem, do que gostam.

O que seus pequenos querem compartilhar? Em que momento você entra no mundo deles? Imagem: Quando Estela era muito, muito pequena, de Marie-Louise Gay

E é um diálogo valioso, que vai além da formação leitora. Fique atento às histórias de que eles mais gostam. É importante respeitar esses gostos e abrir espaço para que seus filhos e alunos escolham os livros que vão ler ou que você vai contar.

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6) Crie um clube de leitura

Sabe o que é mais bacana em fazer parte de um clube? Leitura compartilhada. Aquela coisa gostosa de cada um poder contar para o outro do que mais gostou naquela história, como interpretou determinado fato... Com os mais crescidos, você pode propor um combinado parecido. Juntos, vocês escolhem um livro, que todos devem ler. É importante que o livro seja consensual -- todo mundo do clube pode ter poder de vetar um livro. Então, combinem horários para cada um ler e os momentos de troca e reunião do clube. Em uma turma de alunos, diversa por natureza, é muito rico e bacana esse encontro e essa troca. Vale criar um ritual de que todos gostem. Por exemplo, os encontros virtuais podem ser sempre com uma música. A turma pode criar uma playlist coletiva no Spotify ou assistir a uma contação de histórias junta se as crianças forem menores. Já em casa, esse ritual pode incluir um chocolate quente e uma fatia de bolo. 

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7) Mostre onde encontrar dicas

Assim como nós, as crianças leitoras gostam de saber do que os amigos estão lendo, quais são os livros mais bacanas do momento, porque esse ou aquele escritor é tão querido. Isso vale especialmente com os maiorzinhos, do 7 ou 8 em diante, quando começa a fazer mais sentido para eles conceitos tais como grupo e pertencimento. Onde encontrar resenhas de livros? Ajude seus filhos e alunos a descobrir. Há jornais -- como Folha de S. Paulo e Joca -- que resenham obras. A revista Quatro Cinco Um também resenha e seleciona livros para essa faixa etária; os jovens leitores muitas vezes são autores dessas resenhas. Dá pra assinar uma newsletter só para pequenos e jovens leitores. E há sempre os amigos, com que as crianças podem trocar ideias e indicações.

Compartilhar e receber indicações é parte de criar comunidade em torno do livro e tornar-se leitor. Imagem: O lobo sentimental, de Geoffroy de Pennart

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8) Ajude a compartilhar

Se os amigos indicam livros aos seus filhos e alunos, ajude-os a indicar também aos amigos. Como podem fazer? WhatsApp? Publicações em redes sociais para os maiorzinhos? E seja você também a pessoa com quem seu filho ou aluno vai querer falar de livros! Pergunte, mostre interesse no que ele estiver lendo, comente, conte sobre alguma leitura que você fez e que tem pontos de contato. Uma coisa bacana: sempre que seu filho ou seu aluno comentar de uma leitura, peça que ele leia um trecho para você ou para a turma; ajude-o a explicar por que gostou tanto daquela obra...

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9) Nada de obrigar

Essa talvez seja a dica mais importante: ler é direito, não obrigação. Prazer não pode ser obrigatório, certo? A forma mais fácil de criar não-leitores convictos é obrigando a ler. Então, crie a atmosfera, convide, leia para os pequenos. Mas deixe as crianças à vontade. Até porque, nesse momento, não precisamos de mais pressão e tensão, não é? Crie projetos literários em que cada um possa participar da leitura a seu tempo e seu modo, em os pequenos possam  contribuir, trazer seus próprios livros para a sala de aula. Procure inserir o livro no dia a dia das crianças na chave do prazer e não do fazer.

 

(Texto atualizado em 14/4/2023)

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