Já pensou se houvesse um catálogo coletivo de editoras diversas construído em torno de obras de temáticas étnico-raciais? E se esse catálogo trouxesse também ideias e práticas para promover o antirracismo nas escolas brasileiras?
Num esforço urgente para integrar antirracismo, educação e literatura, esse catálogo virou realidade por meio de um coletivo formado pelas editoras Aziza, Boitempo, Oralituras, Perspectiva, Autêntica, Companhia das Letras, Malê, Mazza, Nandyala, Pallas e Quilombhoje.
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A ideia foi lançada pelo Departamento de Educação da Companhia e teve início no final de 2019. O resultado é o projeto Escola antirracista: construindo comunidades afirmativas, lançado nos dias 4 e 5 de dezembro de 2020 e composto por um material formativo gratuito para escolas e educadores, além de vários encontros e eventos on-line para discutir e refletir sobre o tema.
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As autoras do material são Elly Bayó (educadora das infâncias na perspectiva das pretagogias e da educação decolonial), Fernanda Miranda (doutora em letras pela USP com dissertação sobre romances de autoras negras brasileiras) e Fernanda Sousa (doutoranda em letras pela USP, com pesquisa sobre as relações possíveis entre literatura e música, diário e rap, narrativa e experiência e escravidão e liberdade). Elly explica que, durante a elaboração do material, a ideia que orientou o trabalho foi a de “chegar na criança antes do racismo. Como o Emicida fala, é preciso fazer a negritude chegar nas crianças enquanto potência e não enquanto tragédia”.
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O documento oferece a professores de todos os segmentos escolares das redes pública e privada estratégias aliadas à leitura literária para reverter a apresentação de uma história única de opressão e promover uma educação antirracista. Um dos principais eixos do projeto é o catálogo integrado de obras desse coletivo de editoras, que abordam, direta ou indiretamente, as relações étnico-raciais nos universos negro e indígena.
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Os critérios para a seleção das obras foram a apresentação de personagens e personalidades negras, da diversidade de culturas africanas e afro-diaspóricas e que apresentassem narrativas de resistência e luta. Foram levados em conta ainda a diversidade de gêneros textuais, autores nacionais e estrangeiros negros, indígenas e brancos, cujas obras atendessem ao objetivo de ampliar a perspectiva de mundo e decolonizar o imaginário do leitor.
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Rafaela Deiab, coordenadora do Departamento de Educação da Companhia, diz que ficou claro, para todos que se envolveram no projeto desde o início, que o objetivo era muito maior do que o catálogo de qualquer editora. “Nós queríamos apresentar para as escolas a enorme diversidade que existe dentro do mercado editorial para tratar dessa temática. Tem muitas obras de autores bons publicados em diferentes lugares, e eles mereciam estar juntos em um projeto que trouxesse um pouco dessa bibliodiversidade para dentro das escolas”, completa.
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Elly Bayó reitera que “o antirracismo já é uma preocupação das editoras negras, cuja existência é um processo histórico. Então, a gente entendeu a importância de convidá-las para fazer essa parceria, para que o processo fosse mais legítimo e não desconsiderasse uma construção histórica do movimento negro. Foi um trabalho bem coletivo, longo e intenso”.
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O material antirracista
O trabalho se centrou em obras que realmente trouxessem para dentro das escolas cosmovisões e culturas que não estão presentes ali cotidianamente. “Nós entendemos que muitas escolas têm um acervo bom nesse contexto do antirracismo, porém, esses livros não têm uma vida, não são ativos dentro do acervo e da escola. A ideia, então, foi pensar em como tocar as pessoas a partir desse acervo, e ativar e fazer transitar essas cosmovisões e culturas, de modo que sejam parte ativa do cotidiano das escolas”, relata Elly.
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A primeira parte do material explica os pressupostos de uma educação antirracista e como as narrativas podem ser aliadas na sensibilização étnico-racial dentro da escola. Há uma introdução sobre os marcos legais e o racismo no que tange a educação e, em seguida, sugestões de ações dentro da escola, sempre com foco na literatura como estratégia para a construção de uma comunidade antirracista.
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Algumas dessas ações incluem a realização de censos para mapear a presença negra e indígena na comunidade e seus lugares e cargos ali dentro. Na sequência, há orientações para uma formação continuada e consciente de professores e para a criação de clubes de leitura antirracistas. Por fim, a curadoria literária elenca as obras do grupo de editoras envolvidas no projeto por segmento escolar, com sugestões de abordagem e planos para apreciação e discussão.
Várias ações relacionadas ao projeto serão desenvolvidas de dezembro de 2020 a dezembro de 2021 e, a partir de julho de 2021, a segunda etapa terá a participação de outras editoras interessadas.
(Reportagem atualizada em 26/4/2021)
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