Tayó, a princesa que coroa a si mesma, agora em quadrinhos

07/12/2021

Tayó, nome que vem do iorubá e significa “da alegria”, é uma garota muito esperta, cheia de vida e de encanto, dona de uma beleza rara. Seus olhos negros brilham como as estrelas, seu nariz é como uma larga pepita de ouro e sua cabeça é coroada por um lindo black power, onde ela leva suas histórias e o mundo.

Quadrinhos de Tayó falam sobre racismo, empoderamento e ancestralidade

 

Ela é a heroína e a princesa que coroa a si mesma criada por Kiusam de Oliveira, autora do livro Tayó em quadrinhos, recém-lançado pela Companhia das Letrinhas e ilustrado pela artista carioca Amora Moreira.

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A origem sagrada de Tayó

Tayó em quedrinhos aborda racismo, empoderamento e ancestralidade em conversas de crianças

A personagem apareceu pela primeira vez em O mundo no black power de Tayó (Editora Peirópolis, 2013), que também foi escrito por Kiusam. A escritora de “Literatura Negro-Brasileira do Encantamento Infantil e Juvenil”, educadora e doutora em Educação conta que Tayó surgiu para ela num momento difícil de sua vida, quando sua mãe se recuperava de uma complexa e bem-sucedida cirurgia na cabeça. Acompanhando a matriarca num sítio da família durante a recuperação, ela acordou uma noite e, olhando pela janela, viu se abrir um campo de energia na escuridão.

“Apareceu naquela campo energético uma menina pretinha linda, que disse ‘Oi, eu sou Tayó, e você vai escrever a história mais linda que puder sobre mim’. E sumiu. Eu sentei na hora e comecei a escrever. Escrevi a história inteira em 15, 20 minutos. A personagem e a história surgiram dessa Tayó, que existiu de verdade em algum século desse Brasil”, conta a autora.

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O caminho concreto

Em 2018, Tayó apareceu novamente para ela, dessa vez em sonho, pedindo para trilhar seu caminho sozinha. Pela internet, Kiusam lançou um concurso para que ilustradoras negras contassem com ela histórias curtinhas da Tayó em tirinhas. A ganhadora foi Amora Moreira, e os quadrinhos apareceram pela vez no Instagram de Kiusam.

Todas elas baseadas em vivências da própria Kiusam com crianças, as tirinhas trazem diálogos entre Tayó e seu grande amigo Kayodê. De maneira muito direta e explícita, a dupla aparece em situações cotidianas, na escola, na praia, no parquinho, e conversa sobre racismo, colorismo, machismo, autoestima, cabelos, beleza, autoestima e ancestralidade a partir de seu ponto vista.

Tayó e Kayodê conversam sobre racismo em quadrinhos

“São experiências reais, falas e trocas reais entre crianças. Eu me empenho para fazer essa literatura que fortaleça a identidade das crianças negras, e a Tayó já é um ícone e uma unanimidade entre as crianças”, explica a autora. Para ela, trazer as situações de racismo cotidiano com franqueza e explicitude, por meio do encanto da Tayó e de sua amizade com Kayodê, é uma maneira de “desaprender preconceitos já aprendidos e, em seguida, aprender um caminho que certamente levará as crianças ao encontro da humanidade tão almejada”.  

 

Empoderamento e resgate da autoestima

Tayó em quadrinhos expressa, de forma sintética, vivências de racismo e preconceito que são extremamente opressivas e dolorosas para as crianças e que, apesar de muito comuns, ainda são bem pouco faladas. Kiusam diz que a objetividade da obra se deve, em parte, por trazer falas de crianças que aconteceram mesmo, além do gênero dos quadrinhos também contribuir para isso.

Quadrinhos de Tayó falam sobre sobre racismo e empoderamento para as crianças

Tudo isso faz com que as soluções de empoderamento e resgate da autoestima, trazidos por Tayó e Kayodê, cheguem às crianças de maneira clara e potente. A autora argumenta que é preciso falar abertamente para as crianças sobre esses assuntos dolorosos, “que ainda são tabus nas escolas e na sociedade em geral”, para que elas entendam e possam construir suas identidades por meio de imagens e conceitos positivos.

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