Um pouco escritor, um pouco professor, um pouco palhaço. Claudio Thebas respira arte e cultura. Para ele, literatura infantil é coisa séria. Autor de O comilão, que trata poeticamente o processo emocional do crescer e a relação entre pais e filhos, e de O menino que chovia, que é sobre um menino que não conseguia ouvir ‘não’, ele tem um jeito leve, divertido e muito bonito de falar com as crianças, por meio das palavras.
Literatura para criança merece tanto respeito quanto a literatura para adultos.
(Claudio Thebas, escritor)
Aqui, ele conta que aprendeu com Eva Furnari, uma de suas maiores referências em literatura infantil, que dá trabalho chegar a um texto espontâneo. “A gente supõe que a espontaneidade é o primeiro jorro, mas é fruto de um grande trabalho para o pensamento encontrar a melhor palavra”, explica. No bate-papo, o escritor também conta quais são seus livros prediletos e fala sobre como a Companhia das Letrinhas impactou a publicação de literatura infantil no Brasil.
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*Para comemorar os 30 anos da Companhia das Letrinhas (em 2022) e o Mês das Crianças, durante outubro você confere uma série de entrevistas exclusivas com grandes autores e ilustradores brasileiros que fazem parte dessa história, sejam nossos primeiros parceiros, sejam aqueles que ganharam os maiores prêmios de literatura infantil. Acompanhe tudo no Blog da Letrinhas, no site criado especialmente para essa festa e nas nossas redes sociais.
Como começou a sua relação com a Companhia das Letrinhas? Como foi fazer o primeiro livro para a editora e o que mais te marcou nesse processo?
Começou antes de eu escrever pela Letrinhas, como leitor, como quem admirava os livros, os textos, as ilustrações, os cuidados. Eu tinha um sonho de um dia lançar um livro pela Letrinhas. Mandei um original, assim, despretensiosamente. Então, passou um tempo, o texto já estava em negociação com uma outra editora e recebi um telefonema, falando: ‘Claudio, tem um livro seu aqui. Gostamos muito e queremos editar’. Eu não acreditei! Interrompi as negociações com a outra editora, que estavam bem no início, e fui. Fiquei muito feliz.
A Companhia das Letrinhas está completando 30 anos em 2022. Nessas três décadas, qual foi a transformação mais importante na literatura infantil, tanto em termos de texto como ilustração e produção gráfica, na sua avaliação, e por quê?
O que me chama a atenção é como, cada vez mais, os livros procuram tocar em temas sensíveis, como a morte, a inclusão, as questões da comunidade LGBTQIA +, as questões de racismo. Então, me parece que os livros têm trazido essa oportunidade de humanizar nossa vida, trazendo essas discussões para o dia a dia de leitura da criança.
Poderia citar três livros infantis que foram mais importantes ou marcantes para você nesses últimos 30 anos? Dos publicados pela Letrinhas, qual você citaria?
São tantos livros que amo... Preciso fazer uma referência afetiva, não a livros, mas a duas autoras que me fizeram, um dia, querer escrever literatura infantil: Lygia Bojunga e Eva Furnari. São paixões profundas que tenho. De tantos livros incríveis da Companhia das Letrinhas, tem aquele incrível, Uma letra puxa a outra, do José Paulo Paes, que eu amo. Tem também o livro com a história de Alice no país das maravilhas, contada pelo Ruy Castro e ilustrado pela Laurabeatriz, que é um livro clássico da editora. E o meu predileto de todos é A verdadeira história dos três porquinhos. Acho um livro muito atual, agora que está na moda falar de narrativas, de pós-verdade, que estamos nesse Brasil de um lobo mau terrível, querendo mudar a história do país. Acho esse livro precioso e muito bem-humorado.
Qual acontecimento relacionado ao processo de criação e produção dos livros ou ao feedback e interação com os leitores ficou na sua memória ao longo desse tempo? Poderia contar um pouco qual história mais te marcou?
O que me ocorre dizer foi uma dica que recebi da Eva Furnari. Nos tornamos amigos. Eu estava começando a querer escrever e ela foi muito generosa comigo, lendo e relendo textos. Eu levava originais para exercitar a escrita e, um dia, ela me falou uma frase que ficou marcada sobre esse processo de escrever e reescrever: ‘Claudio, as pessoas não têm ideia do trabalho que dá para um texto ficar espontâneo’. Achei genial. A gente supõe que a espontaneidade é o primeiro jorro, mas a espontaneidade é fruto de um grande trabalho para o pensamento encontrar a melhor palavra. É como a gente no closet, escolhendo a melhor roupa, tira e põe, tira e põe. Achei essa dica da Eva preciosa.
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Como você vê/avalia a participação da Companhia das Letrinhas no mercado editorial e na própria história da produção literária para a criança?
Acho que a Companhia das Letrinhas é um marco da produção de literatura infantil porque ela chega dizendo que literatura para crianças é literatura. Literatura para crianças não é livrinho. Literatura para criança é arte; não é livro para ensinar, nem dar lição de moral. Literatura para criança merece tanto respeito quanto a literatura para adultos.
Além dos livros, as crianças têm várias fontes de entretenimento, como telas, vídeos, streamings, games. Como acha que a literatura infantil será nos próximos 30 anos? Qual o grande desafio que autores e leitores terão?
Eu não tenho a resposta pronta. Daqui a pouco, talvez, eu pense em outra coisa. Mas a imagem que me vem é a comparação com o rádio. Quando surgiu a televisão, disseram que o rádio ia acabar; depois, quando veio a internet, disseram que o rádio ia acabar, antes disso, veio o cinema, e disseram: o rádio vai acabar. E o rádio está aí, vivíssimo, se adaptando, incorporando outras linguagens, interagindo com essas outras plataformas. Acho que a literatura infantil, assim como a literatura em geral, vai se tornar cada vez mais viva, sabendo se adaptar ao mundo em que vivemos, incorporando essas novas formas de se comunicar. Então, assim como o rádio não é substituído pela TV, o livro não vai ser substituído pelo celular. Acho que as coisas se somam. Sou um otimista nesse sentido. Acho que nada substitui a conversa que você tem com o texto. E quanto mais esse texto se adaptar aos tempos, incorporando outras formas de comunicação, mais a gente amplia e não reduz a vida dos livros.
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