Há quem diga que ser avó é “ser mãe com açúcar”.
Amar sem ter a obrigação de cuidar e educar o tempo todo. Ser colo e aconchego e, de quebra, ainda ter a melhor comida do mundo. Sem falar da permissão para pequenas transgressões… Afinal, em casa de vó pode tudo - ou quase tudo. Está permitido comer a sobremesa antes do jantar. Ou pular no sofá. Ou ficar acordado até bem depois do jantar...
Em O jardim da minha baba (Pequena Zahar, 2024) o retrato sensível da avó polonesa nos pequenos rituais compartilhados com o neto
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É por essas e outras que avós e avôs costumam estar presentes nas mais ternas memórias de infância, deixando um pouco de si (e muitas histórias) para sempre em seus netos. E a literatura infantil tem muitas obras que se inspiram nesse vínculo único. Veja livros que retratam com sensibilidade a beleza dessa relação entre gerações que perpetua tradições familiares e mostra que o amor não passa só de pai para filho - mas principalmente de avós para netos:
Bento, vento, tempo (Companhia das Letrinhas, 2024), de Stênio Gardel com ilustrações de Nelson Cruz
A passagem do tempo é implacável - até para o vovô Cacá. O neto tem notado as mudanças: ele está mais calado, retraído e cada vez mais esquecido... Até que avô e neto partem para um passeio de bicicleta com destino à feira, que se transforma em uma visita ao passado. Uma jornada contada em cordel que fala do poder das imagens e da preservação das lembranças para ajudar a "desesquecer" . E da persistência de um neto que quer que o avô se lembre de si mesmo.
O jardim da minha baba (Pequena Zahar, 2024), de Jordan Scott e Sydney Smith
Um relato emocionante e cheio de ternura sobre a relação construída entre uma avó e seu neto. Ela, imigrante polonesa. Morava em uma pequena casa que já fora um galinheiro e mal falava a língua do menino. Mas eles conseguiam se entender por gestos, toques e rituais compartilhados - como a caça às minhocas que acontecia depois de cair a chuva. Com ilustrações que parecem fotografias tiradas pela memória, a narrativa nos coloca como testemunhas da cumplicidade entre a avó e o neto, mostrando a beleza que há quando chega a hora de cuidar de quem já nos cuidou.
O anjo da guarda do vovô (Companhia das Letrinhas, 2024) de Jutta Bauer
Este clássico dos livros ilustrados mostra, em uma narrativa articulada entre texto e imagem, como as memórias do avô podem ser ressignificadas. Dos tempos de criança às aventuras da juventude, se apaixonando, depois se tornando pai, tudo ganha um novo significado com a atuação do anjo da guarda do vovô.
Colo de avó (Brinque-Book, 2016), de Roseana Murray
Em uma poética homenagem a todas as avós, este livro mostra as diferentes formas como a relação com os netos pode ser construída - assim como há variadas formas de ser vovó. Há avós de consideração, avós que moram perto, que moram muito distantes. Tem a avó da máquina de costura, a que se amarra no mastro para brincar de pirata com os netos, a que se encanta com passarinhos…
As fantásticas aventuras da vovó moderna (Companhia das Letrinhas, 2016), de Leo Cunha e Marta Lagarta com ilustrações de Laurent Cardon
O vovô Astolfo ficava tão parado que corria o risco de enferrujar. Ele vivia na sacada “o tempo todo sozinho enquanto o tempo passava.” Determinada a fazê-lo romper a inércia, a vovó moderna - que é uma dessas avós que passam longe de usar coque na nuca e óculos no nariz - faz tudo o que pode para fazê-lo voltar à ativa - tudo mesmo!
Vovô verde (Companhia das Letrinhas, 2013), de Lane Smith
Há muitas formas de cultivar lembranças e eternizar o que é importante. Este vovô escolheu um caminho bem particular: a jardinagem. É através do cuidado com as plantas que ele vai deixando registrados os principais capítulos de sua vida. Um livro sobre memória, envelhecimento e os relacionamentos que vamos construindo ao longo da vida.
Vovó veio do Japão (Companhia das Letrinhas, 2018), de Janaina Tokitaka, Mika Takahashi, Raquel Matsushita e Talita Nozomi
Uma obra que é fruto do trabalho coletivo entre grandes autoras e que celebra a importância - e o poder - das memórias que atravessam gerações. São quatro avós que, por meio de seus dotes na cozinha, transmitem às suas netas histórias e tradições do Japão que desembarcaram no Brasil com os imigrantes - e que continuam a fazer parte da herança e da cultura de tantas famílias por aqui.
Como ser babá do vovô (Companhia das Letrinhas, 2013), de Jean Reagan com ilustrações de Lee Wildish
Aqui os papéis se invertem: é o neto quem cuida do vovô. Quando o papai e a mamãe saem para trabalhar, é o pequeno quem diz: “Não fique assim, vovô. Daqui a pouco, eles voltam”. Também é o neto quem prepara o lanche do avô - com o cuidado de oferecer azeitonas sem caroço! - e dá dicas de como passear com o vovô, desenhar com o vovô, entreter o vovô…
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