A literatura é capaz de despertar sentimentos que muitas vezes nem sabíamos que estavam ali. E esse poder não tem restrição de idade. Alguns livros infantis e infantojuvenis, em especial, podem fazer muita gente grande chorar com narrativas aparentemente singelas que são capazes de tocar em temas profundos. Morte, separação, solidão, doenças, envelhecimento, pobreza, preconceitos.
Fizemos uma seleção de livros infantis e infantojuvenis que mostram como a literatura é capaz de tocar em feridas e alegrias profundas de todo ser humano - independente da idade. É como se os sentimentos que boas histórias são capazes de despertar nos unissem em uma espécie de tecido invisível, em que histórias se entrelaçam conectando lembranças, afetos, angústias, saudades. Uma rede de narrativas que se cruzam, se enlaçam e se encontram, unindo os sentimentos comuns a todos nós.
Encontre um cantinho confortável e prepare o lencinho para conhecer os livros que vem aí...
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Livros de criança para fazer até gente grande chorar
O jardim da minha Baba (Pequena Zahar, 2024), de Jordan Scott e Sydney Smith
As palavras são dispensáveis quando uma avó e um neto se entendem apenas por gestos e pelo olhar. Baseado nas lembranças do autor sobre sua avó polonesa, que não falava inglês como ele, esta narrativa comovente faz brotar a saudade da infância nas pequenas lembranças. Os cantos da casa, o passeio pelo jardim caçando minhocas depois da chuva… Um livro que fala sobre passado, sobre perdas e sobre a beleza - e a tristeza - de testemunhar o envelhecimento de alguém querido.
Um mar de amor (Companhia das Letrinhas, 2024), de Pieter Gaudesaboos
Um urso e um pinguim eram amigos. Muito amigos. Mas o pinguim guardava um grande segredo - algo que poderia até colocar em risco a ligação entre os dois. Cheio de coragem, ele pega seu barquinho e vai até a casa do urso, decidido a revelar tudo. Mas como será que o urso vai reagir? Um livro para falar do amor em sua forma mais genuína e alimentar a coragem de expressar aquilo que sentimos.
O pato, a morte e a tulipa (Companhia das Letrinhas, 2023), de Wolf Erlbruch
Um dia, o pato se deparou com a morte. É verdade que ele já sentia que algo não ia bem há um tempo… mas não esperava topar com aquela figura encapuzada ali, bem na sua frente. Passado o susto, o pato vai, aos poucos, ressignificando a aproximação da morte - que, na verdade, sempre esteve rondando. Um clássico que trata a despedida da vida de forma delicada e quase terna.
A árvore generosa (Companhia das Letrinhas, 2017), de Shel Silverstein
Era uma vez uma árvore que amava um menino. E ele a amava de volta. Profundamente. Mas o tempo foi passando… E se antes eles se divertiam juntos, agora a árvore raramente o via. E cada vez parecia ter menos para lhe oferecer. O aperto no peito é inevitável, mas no final o afeto entre menino e árvore resiste.
O anjo da guarda do vovô (Companhia das Letrinhas, 2024), de Jutta Bauer
Um avô compartilha com o neto as aventuras de uma vida inteira. As travessuras na infância, os perigos da juventude, os medos e dores, as alegrias e descobertas. Mas ele não estava só. É verdade que o avô era cheio de coragem, mas por todo o caminho podia contar com uma ajuda especial: o anjo da guarda dele, que estava sempre presente.
O astronauta (Pequena Zahar, 2024), de Carol Fedatto e Amma
O avançar dos anos vai apagando do pai suas lembranças. Tudo começa a ficar meio confuso… e ele parece estar cada vez mais fora de órbita. Com a delicadeza das metáforas bem moldadas, este livro trata de um tema que tem ganhado cada vez mais relevância: envelhecimento e saúde mental.
Lá e aqui (Pequena Zahar, 2015), de Odilon Moraes e Carolina Moreyra
Um menino vivia em uma casa com um jardim cheio de flores e um lago cheio de sapos. Mas um dia, uma forte chuva vem levando embora tudo o que ele conhecia. E ele vê sua casa virar duas - uma do pai e outra, da mãe. Com sensibilidade, vemos como uma família pode resistir à tempestade, mesmo após a separação de um casal.
Pode chorar, coração, mas fique inteiro (Companhia das Letrinhas, 2020), de Glenn Ringtved com ilustrações de Charlotte Pardi
A morte da avó se aproxima. E as crianças, seus netos, se preparam para a despedida. Mas, neste livro, Dona Morte dá as caras como uma figura concreta - encapuzada, mas nada assustadora. Uma obra comovente que aborda com simplicidade as muitas camadas envolvidas na elaboração do luto de alguém que se ama.
Eu falo como um rio (Pequena Zahar, 2021), Jordan Scott com ilustrações de Sydney Smith
O menino ouvia atentamente aos sons do mundo, mas não conseguia repeti-los. Seu pai, então, passa a ser o canal para que ele consiga soltar a voz. Inspirado na própria experiência do premiado autor canadense, que sofria de dificuldades com a fala durante a infância.
Guilherme Augusto Araújo Fernandes (Brinque-Book, 2022), de Mem Fox com ilustrações de Julie Vivas
O menino que dá nome ao livro morava ao lado de um asilo de idosos. E era amigo de todos eles. Mas a Dona Antônia era sua preferida, sem dúvidas. Para ajudar sua amiga a recuperar as lembranças que lhe escapavam, Guilherme monta uma cesta com conchas, marionete, bola de futebol… cada elemento traz a ela uma memória. Uma reflexão sobre o passado que acaba ficando esmaecido e sobre o que jamais será esquecido.
Laila e Jasmim (Escarlate, 2024), de Guilherme Semionato
Duas meninas separadas por muitos quilômetros, mas unidas por uma amizade comovente. Juntas, elas compartilham as descobertas e angústias que fazem parte do crescimento, fortalecendo os laços que as unem.
Rio, o cão preto (Companhia das Letrinhas, 2021), de Suzy Lee
Um cachorro procurava uma família. E ele encontra: a família da consagrada autora Suzy Lee, que conta em frases curtas e ilustrações delicadas como o cão Rio passou a fazer parte da vida dela e de seus filhos, em uma narrativa comovente.
Pequenino na cidade (Pequena Zahar, 2022), de Sydney Smith
Pelos olhos de uma criança, desbravamos as asperezas de uma cidade grande. O menino avança pelas ruas cheias de neve e de carros, onde tanta coisa acontece ao mesmo tempo. Mas dentro dele, há angústia: seu gatinho está desaparecido. Entre a incerteza e o medo, o pequeno insiste na busca por seu amigo.
Apesar de tudo (Companhia das Letrinhas, 2018), de Dipacho
Manter um relacionamento não é fácil. Mas os obstáculos podem fortalecer os laços de afeto quando a vontade de ficar junto se faz maior que as dificuldades. Com ilustrações poéticas, a jornada dos pinguins mostra como o amor não é algo dado - mas, sim, que precisa ser cuidado e protegido. E como mesmo relacionamentos felizes atravessam momentos de distanciamento e tristeza - mas o outro está sempre esperando do lado de lá.
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