8 frases de autores ilustradores para pensar sobre o livro ilustrado

14/03/2025

Em um livro ilustrado, texto e imagem não apenas caminham juntos: eles dançam. Às vezes seguem os mesmos passos, reforçando os sentidos mutuamente. Às vezes, encenam coreografias independentes, criando narrativas paralelas - que podem até se contradizer. Nesse jogo de movimentos, a mágica acontece quando uma nova narrativa emerge do intervalo que se cria entre texto e imagem. Essa nova narrativa não está só em um nem só em outro, mas em uma dimensão paralela que só ganha corpo a partir do olhar do leitor. O projeto gráfico, o design pensado para o livro, nesse caso, então, é o palco onde tudo se dá.


Uma das pessoas no Brasil que mais nos fala sobre isso e um dos pioneiros neste estudo é o autor e pesquisador Odilon Moraes. Ele é quem apresenta o novo documentário Sem Palavras, que acaba de estrear no Canal Arte1, onde ele conversa com autores de imagens sobre processos criativos e particularidades de muitos livros publicados por aqui. Para aproveitar esse momento de inspiração, selecionamos frases de 8 autores que também são ilustradores nos convidando a pensar sobre o processo de elaboração do livro ilustrado e seus sentidos. Confira:

Odilon Moraes

Ilustração de Lá longe

O livro ilustrado não é mais uma novidade, mas ainda estamos vivendo os desdobramentos desse entendimento que passa não só pelo modo de compreender a escrita e a leitura de um livro, mas pelo modo de compreender a edição também. Antes, um escrevia e outro desenhava. Agora, você passa a ter um tipo de escrita que depende da interação entre ambos. Não é um ilustrador que está sendo contratado para ilustrar a obra de alguém. Ele está fazendo a obra junto. A obra tem dois autores.” 


Odilon Moraes é autor de Lá Longe (Pequena Zahar, 2023), Lulu e o urso (Pequena Zahar, 2018) e Lá e aqui (Pequena Zahar, 2015) com Carolina Moreya; de Os invisíveis (Companhia das Letrinhas, 2021) com Tino Freitas e de Direitos do pequeno leitor (Companhia das Letrinhas, 2017), com Patricia Auerbach.

 

Marilda Castanha 

Ilustração de 'A quatro mãos'


Eu não faço artesanato, mas preciso da artesania, daquilo que sai da ponta dos dedos; o cheiro, a cor, o ato de se sujar, o nosso trabalho é sensorial. (...) Eu escrevo também como quem ilustra. Faço montagens com as palavras, em camadas e sobreposições. Cada livro pede uma gramática visual específica.”


Marilda Castanha é autora de  do premiado A quatro mãos (Companhia das Letrinhas, 2017) e em 2025 lança Meu nome (Companhia das Letrinhas, 2025), sobre a infância na Palestina. Como ilustradora, produziu O gato e o escuro (Companhia das Letrinhas, 2008), de Mia Couto, Amigos da onça (Companhia das Letrinhas, 2006), de Ernani Ssó, Contos de morte morrida (Companhia das Letrinhas, 2007) e O delírio (Companhia das Letrinhas, 2010).

 

Marcelo Tolentino

Ilustração de Papai, ó

Sinto que fazer livros ilustrados também tem um quê de brincadeira, e como toda boa brincadeira, é coisa séria. Para os que se interessam pelo assunto e tem vontade de produzir fica esta sugestão: caminhe com os olhos atentos, um caderninho e uma caneta. Colecione todos os fragmentos que te chamarem atenção. Alguns vão grudar com mais força e quando você menos esperar tem uma história se construindo.”


Marcelo Tolentino é autor de Domingo (Companhia das Letrinhas, 2024), Papai, ó! (Pequena Zahar, 2024) e Nem Todo (Companhia das Letrinhas, 2024).

 

Renato Moriconi

Ilustração de Bárbaro


Gosto muito dessas surpresas, desse jogo de velar e revelar. Isso aparece muito nos meus livros. Há neles a ruptura de uma lógica interna, que eu mesmo criei, e me contradigo, gerando um espanto risonho no leitor.”


Renato Moriconi é autor de Bárbaro (Companhia das Letrinhas, 2013), Uma planta muito faminta (Companhia das Letrinhas, 2021), O dia da festa (Pequena Zahar, 2017) e Estátua! (Companhia das Letrinhas, 2024).


Joaquín Camp

Ilustração de O tesouro


A imagem e o texto para mim são processos completamente diferentes. Escrever para mim é como pescar: me custa encontrar as palavras exatas. Posso vir ao meu estúdio e desenhar todos os dias. Mas com o texto não acontece assim. Saio para dar um passeio.  Me distraio mais. É mais incontrolável.”


Joaquín Camp é autor de O tesouro (Companhia das Letrinhas, 2025) e A gangorra (Companhia das Letrinhas, 2024).

 

Carol Fernandes

Ilustração de Terra

Eu tenho me divertindo muito em tentar encontrar alternativas narrativas com as imagens, e de criar essa sequências para dominar esse território e essas linguagens do livro ilustrado. O fato de não dominá-las me faz sentir mais à vontade para percorrer todas as possibilidades. Eu gosto de falar que o livro ilustrado é uma máquina do tempo, e tentar dominar  esse tempo com a ilustração com a imagem ou com a palavra.

Carol Fernandes é autora de Terra (Companhia das Letrinhas, 2024), com Yuri de Franco.

 

Patrícia Auerbach

Ilustração de  A panela

Entrei no mundo da publicidade e me encantei. (...) a linguagem da propaganda é muito próxima da linguagem do livro ilustrado, na medida em que trabalha com imagens muito fortes e frases potentes e curtas. É uma relação entre imagem e palavra muito parecida. Quando decidi escrever, o trabalho com a imagem e com o texto veio quase naturalmente.”


Patrícia Auerbach é autora da Coleção Objetos brincantes:  A panela (Brinque-Book, 2023), O jornal (Brinque-Book, 2018), O lenço (Brinque-Book, 2022) e A garrafa (Brinque-Book, 2018), de Direitos do pequeno leitor (Companhia das Letrinhas, 2017) com Odilon Moraes, entre outros.


Isol

A costura

Um bom livro deixa escapar algo inesperado e mágico, uma fantasia, um fantasma. O que nos conecta com algo que pressentimos e que não podemos ver, ou sobre o que não falamos tanto. O livro toca essa dimensão sutil e potente quando deixa espaços de liberdade, sem controlar o que se deveria ler ali, como uma mensagem única, sem subestimar o leitor, porque isso é muito chato, não?”


Isol é autora de A costura (Pequena Zahar, 2023)

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