Shirley Marlone mergulha na escuridão de uma praia deserta. Às suas costas, deixa um hotel cinco estrelas e os programas com turistas ricos. À sua frente, só existe a necessidade de inventar um novo dia. Não é a primeira vez. Não será a última.
Shirley Marlone mergulha na escuridão de uma praia deserta. Às suas costas, deixa um hotel cinco estrelas e os programas com turistas ricos. À sua frente, só existe a necessidade de inventar um novo dia. Não é a primeira vez. Não será a última.
Uma morte, que todos sabem ter sido criminosa e todos dizem ter sido acidental, não muda a vida de quem matou ou apenas assistiu, nem a de quem adivinha o que houve mas prefere fingir que nada sabe. O que muda, na verdade, é uma noção estabelecida sobre narrativas ficcionais e sobre o papel de narradores, leitores e escritores. Como receber as informações de alguém que avisa que mente, sobre fatos cujo desfecho é preciso intuir? Não existe fronteira clara entre coisa inventada e a concretude de dados. Ou entre narrativa e descrição do ato de narrar: o narrador conta uma história em tempo real, enquanto, no computador, a escreve.
O leitor já não se enquadra na definição de receptor passivo de uma linguagem, é também participante ativo de um evento, ao decidir em quem ou em que deve acreditar. O cenário é a subida do Vidigal. Das ruas e locais da favela, citados no romance, aos trajetos e preços da Kombi comunitária; do nome das professoras que davam aulas na escola Almirante Tamandaré na época da infância da personagem Meire à história do morro narrada para os turistas, é tudo verdade. Há outras verdades, a serem descobertas pelo leitor.