Na poesia brasileira do século XX, poucos manejaram tão bem a forma soneto como Vinicius. A leitura deste livro provoca dois tipos de prazer: o que vem da perfeição da forma, exercitada com elegância, e o que se produz na sua ultrapassagem, momento em que a forma é mero condutor para o enobrecimento da realidade.
Na poesia brasileira do século XX, poucos manejaram tão bem a forma soneto como Vinicius. A leitura deste livro provoca dois tipos de prazer: o que vem da perfeição da forma, exercitada com elegância, e o que se produz na sua ultrapassagem, momento em que a forma é mero condutor para o enobrecimento da realidade.
Os sonetos desse livro, publicado pela primeira vez em 1967, foram escritos ao longo de trinta anos, a partir do início da década de 30. Apesar do vasto espaço de tempo que os separa, eles guardam uma semelhança que vai muito além da submissão ao formato clássico: para Vinicius de Moraes, os sonetos eram uma via de acesso ao sublime, mesmo quando essa elevação se processava por meio da linguagem prosaica do cotidiano aparentemente banal.Este é um atributo que sempre acompanhou o poeta: o poder de vislumbrar transcendência nas pequenas coisas. Nas mãos de Vinicius, os sonetos tornam-se um instrumento exigente e delicado, manejado com firmeza para sensibilizar a crista de banalidade que envolve o mundo real. Tornam-se ainda um recurso sofisticado que permite ao poeta contactar, com mais eficácia, a alma de outros artistas que tinha em alta conta, como Katherine Mansfield, Otávio de Faria, Cândido Portinari e Sergei Eisenstein.Esta edição do Livro de sonetos reúne também nove sonetos inéditos, pescados no baú de raridades que Vinicius de Moraes deixou com a família e que hoje está sob a guarda competente do Museu de Literatura da Fundação Casa de Rui Barbosa, no Rio de Janeiro. Se o autor os relegou à sombra das gavetas, eles agora ajudam a compor, com mais nitidez, o pano de fundo, a trama secreta que animou o espírito do poeta.É justo falar em espírito, pois os sonetos de Vinicius de Moraes estão, em grande parte, imersos em dilemas metafísicos e impasses místicos. E naquele terreno pantanoso e fértil em que espírito e carne se confundem, conhecido por amor. Mesmo quando escreve a quatro mãos, com Paulo Mendes Campos, ou homenageia um amigo próximo como Rubem Braga, Vinicius não permite que seus sonetos percam de vista a face imutável do homem.A leitura deste livro provoca dois tipos de prazer: o que vem da perfeição da forma, exercitada com elegância, e o que se produz na sua ultrapassagem, momento em que a forma é mero condutor para o enobrecimento da realidade.