A vencedora do Prêmio Jabuti 2015 de melhor romance oferece uma narrativa comovente sobre passado e futuro.
A vencedora do Prêmio Jabuti 2015 de melhor romance oferece uma narrativa comovente sobre passado e futuro.
Maria cruza o sertão - e a noite - num ônibus que a levará a algum ponto isolado do Nordeste, e relembra sua primeira incursão naquela região agreste, quarenta anos antes, em condições mais precárias e perigosas, seguindo um anúncio num diário oficial que lista municípios onde se precisava de alfabetizadores para o Mobral. Ela foi "logo aceita, sem mais perguntas, porque, de Brasília, pressionavam os chefetes políticos da região, e ninguém mais, capaz de enfileirar uma letra atrás da outra, estava disposto a se exilar em Olho d'Água e ensinar a ler e escrever aos jovens e adultos". As lembranças do tempo passado em Olho d'Água se cruzam a outras, entre freiras educadoras na Argélia, ou como viajante no México, deparando-se com costumes distantes, e ao mesmo tempo com pessoas de coragem e pureza, que a ajudam a enfrentar as dificuldades do caminho. As mesmas lembranças desfiam a série de impossíveis amores, encontrados em seus anos de juventude, olhares promissores vistos apenas de relance, e dos quais ela guarda lembranças escondidas numa "caixinha dos patuás posta em sossego lá no fundo do baú". Com sutileza e domínio da narrativa, Maria Valéria Rezende vai compondo um retrato emocionante dessa mulher determinada, que sacrifica a própria vida em troca de algo maior.