Para comemorar o centenário do nascimento de Manoel de Barros, a Alfaguara dá início ao projeto de reedição de toda sua obra poética.
Para comemorar o centenário do nascimento de Manoel de Barros, a Alfaguara dá início ao projeto de reedição de toda sua obra poética.
Em Arranjos para assobio, Manoel de Barros demarca com clareza seu terreno no mundo poético ao criar uma singular e incontornável geopolítica da língua. É o assobio, e não a música ou a canção, que sua poesia deseja sonoramente alcançar. Pois se há canto neste poeta, ele "reboja", e sua voz se quer "úmida como restos de comida". São muitas as ramificações do poético neste breve - porém incessante e inesgotável - volume, em que as frases (ou aforismos) se sucedem, "formando riachos, mais tarde rios", no belo dizer de Luiz Ruffato. Manoel de Barros radicaliza o desejo de uma poética do baixo, da matéria, do abjeto: será do entulho do mundo e do miasma do pântano que brotará a palavra poética como aproximação corporal de um sentido telúrico. É neste livro que encontramos a célebre definição de Manoel de Barros da poesia como "inutensílio". O território de sua criação se contrapõe a tudo que é útil, funcional ou calculado. Aqui, o discurso poético se revela alheio à lucidez da razão, pois é no "desfazimento" metódico do entendimento que a palavra poética cumpre seu papel.