Em seu quinto romance, Will Self escreve de forma totalmente inovadora ao imaginar o que aconteceria daqui a 500 anos, num futuro pós-apocalíptico. Ao contar duas histórias em paralelo, intercalando o presente a um futuro distante, o autor revela em O Livro de Dave a saga de um taxista alucinado pelas ruas de Londres e as aventuras de um menino em busca de seu verdadeiro pai. O romance, um dos mais originais da atualidade, narra a trajetória de Dave Rudman, um motorista de táxi londrino que passa a maior parte de seu tempo vagando pelas ruas em seu carro malcheiroso, enquanto discursa dissimuladamente para os seus passageiros. Depois de ser impedido pela ex-mulher de ver o filho, Dave escreve um livro em que glorifica um novo meio de vida: livre das esposas e dos males do mundo moderno, governado por uma nova ordem suprema - o Conhecimento dos taxistas. Num acesso de loucura, ele enterra o livro no jardim de uma casa londrina. Séculos mais tarde, porém, após uma catástrofe ambiental em que as cidades são submersas e a civilização, destruída, ele será descoberto pelos habitantes da remota ilha de Ham, que outrora fora parte de Londres. E o novo Conhecimento ditará as regras desse povo, devoto de Dave, criador do céu e da Terra. O livro se tornará a obra sagrada de um povo escolhido, para o qual a "roda" é o símbolo supremo e os sacerdotes são chamados de "motoristas". Will Self, ao criar a história de O Livro de Dave, imagina como seria se a Inglaterra não fosse mais uma sociedade judaico-cristã e seus habitantes seguissem a seita criada por Dave no século XXI, fazendo assim uma profunda meditação sobre a natureza das religiões e uma sátira corrosiva da vida nas grandes cidades. "Se houvesse uma inundação como essas, quem estaria em melhor posição para se lembrar de como essa grande cidade realmente foi? Com certeza não seria o prefeito, nem a rainha ou o primeiro-ministro. Eles, como todos nós, são apenas formigas no meio da confusão. Não, somente o taxista londrino (...) seria capaz de reconstruir a metrópole como ela foi um dia", diz o autor.