Se você olhasse atentamente para uma berinjela, roxa e carnuda, mas olhasse mesmo, como quem a visse pela primeira vez, talvez descobrisse formas e texturas insuspeitadas. Ou quem sabe aquelas pernas, as da tia Corália, mesmo existindo na sala apenas na sua imaginação ou na capa de um livro, provocassem súbitas e inexplicáveis sensações. O inusitado, o revelador, o olhar original: é o que Antonio Prata persegue em As pernas de Tia Corália, que reúne 17 contos escritos com a leveza e a ousadia de quem recém-completou 25 anos. Bem, ele escreve desde criancinha, nasceu numa família de jornalistas, dramaturgos e escritores. Douglas e outras histórias, seu livro de estreia, reuniu textos que já revelavam este humor bem temperado, brasileiro, sem pudor. Nos contos selecionados aqui, Antonio associa o culto ao deboche com uma peculiar aptidão para olhar tudo, incluindo aí pernas e berinjelas, sem pressa ou juízo de valor. E a cada página somos surpreendidos por uma interpretação atenta e única do cotidiano que muitas vezes nos passa despercebido e banal. Em Ascensão, o autor narra, com a mestria dos grandes humoristas, a história de João Arlindo, o primeiro cineasta brasileiro a ganhar o Oscar. Quando é chamado por Woopy Goldberg para receber o prêmio, ele é surpreendido por uma constrangedora ereção e se recusa a se levantar da cadeira para não dar um vexame diante de 234 milhões, 187 mil e 27 telespectadores do mundo inteiro. Já em O fim explora com fina ironia o desespero de um agnóstico, que ao morrer engasgado com um caroço de ameixa, se descobre no céu.Em Receita, faz uma saborosa reflexão sobre o ato de escrever, traçando um paralelo entre a elaboração de um texto e a feitura de uma sopa. Um editor cultiva seus prazeres na vida, e um deles é este: apresentar um novo autor. Pois aqui está Antonio Prata, para ser desfrutado com o prazer de quem lê um escritor, jovem e talentoso, pela primeira vez.