Em O lugar escuro, Heloisa Seixas narra uma história real, a sua própria, entrelaçada com um pesadelo familiar. Todas as fases da lenta degradação de uma mente comprometida são descritas de forma minuciosa e assustadora neste livro que, de tão fantástico, às vezes parece ficção, ou "uma espiral assombrada", como define a escritora. Mas quem já conviveu com pessoas afetadas pelo mal de Alzheimer sabe que a realidade é assim - uma sucessão de memórias perdidas, um vazio que vai tomando tudo, uma realidade fugidia, em que o doente se transforma no avesso de si mesmo. Como quem procura pistas para sair de um labirinto, Heloisa Seixas reproduz essa trajetória, que nos assusta e atrai, com sua dose diária de estranhamento e loucura. Das raízes familiares, num casarão da Bahia, à vida no Rio dos anos dourados, Heloisa faz uma viagem ao passado de sua mãe, esquadrinhando a mente que aos poucos se estilhaça. O lugar escuro é um relato corajoso - narrativa catártica que tem o poder de emocionar, e também de aproximar o leitor desse cotidiano que massacra um número cada vez maior de pessoas e que é a principal causa de demência entre idosos no Brasil e no mundo. Segundo dados da Academia Brasileira de Neurologia, com o crescimento da população com mais de 60 anos no país - que deve chegar a 24 milhões de pessoas daqui a dez anos - o mal de Alzheimer deve se tornar um problema de saúde pública. Hoje, no mundo, já se contabilizam mais de 20 milhões de casos da doença.