"’Ande em frente e não olhe para trás.’ Fiquei com medo, fui andando, e pensei que eles iriam atirar. Acordei algumas noites ouvindo gritos de pessoas sendo torturadas."
Na madrugada do dia 27 de dezembro de 1968, duas semanas após o decreto do AI-5, Caetano Veloso e Gilberto Gil foram retirados dos apartamentos onde moravam, no centro de São Paulo, e levados em uma caminhonete ao Rio de Janeiro. Conduzidos por policiais à paisana, eles foram presos sem qualquer justificativa.
Os 54 dias vividos no cárcere — e suas dimensões políticas, psicológicas e artísticas — foram reconstituídos por Caetano em Narciso em férias, capítulo homônimo da autobiografia Verdade Tropical. Sua edição avulsa, que acaba de chegar às estantes do país, traz, além do surpreendente relato, registros do processo aberto pela ditadura militar contra o cantor e compositor — documentos que foram revelados ao artista somente em 2018. O episódio marcante foi adaptado para as telas pelos jornalistas Renato Terra e Ricardo Calil com o documenta?rio Narciso em fe?rias, fruto de uma entrevista de seis horas com Caetano. O longa, idealizado por Paula Lavigne, foi lançado simultaneamente em setembro no Festival de Veneza e no Globo Play e tem conquistado público e crítica.
No episódio #120 da Rádio Companhia, conversamos com o diretor Renato Terra e o historiador Lucas Pedretti, que localizou o dossiê contra Caetano no acervo digital do Arquivo Nacional (no site Memórias Reveladas, onde páginas e páginas de documentos do período estão disponíveis). Eles comentam sobre os bastidores da obra, as escolhas do documentário, as fontes documentais e a repercussão do artista e do episódio hoje, em 2020.
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Apresentação, edição e roteiro: Paulo Júnior
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