Literatura contra a desmemória política, por be rgb
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Foto: Priscila Prade
Marcelo Rubens Paiva tinha 23 anos quando lançou o romance que se tornou um clássico instantâneo da literatura brasileira: Feliz ano velho. No livro, ele narra as consequências de um acidente que sofreu aos vinte anos, ao subir em uma pedra e mergulhar numa lagoa imitando o Tio Patinhas. A lagoa é rasa, ele esmigalha uma vértebra e perde os movimentos do corpo. Escrito com sentido de urgência, o livro relata as mudanças irreversíveis na vida do garoto a partir do acidente. Trinta e cinco anos e vários livros depois, outro momento de sua vida é narrado com a mesma maestra: Ainda estou aqui, romance que estava entre os finalistas da categoria Romance e ganhou o voto popular de melhor livro do ano no Prêmio Jabuti 2016.
Em Ainda estou aqui, Marcelo Rubens Paiva concentra a narrativa na luta de sua mãe pela verdade. Eunice Paiva foi casada com o deputado Rubens Paiva, esteve ao seu lado quando foi cassado e exilado, em 1964. Mãe de cinco filhos, passou a criá-los sozinha quando, em 1971, o marido foi preso por agentes da ditadura, a seguir torturado e morto. Em meio à dor, ela se reinventou. Voltou a estudar, tornou-se advogada, defensora dos direitos indígenas. Ao falar de Eunice, e de sua última luta, desta vez contra o Alzheimer, Marcelo Rubens Paiva fala também da memória, da infância e do seu próprio filho filho. E mergulha num momento negro da história recente brasileira para contar — e tentar entender — o que de fato ocorreu com Rubens Paiva, seu pai, naquele janeiro de 1971.
Em entrevista para O Globo na época do lançamento do livro, o escritor conta que sentiu uma urgência de escrever sobre a ditadura, tema apenas citado rapidamente em Feliz ano velho. "Em 2013, nas manifestações de junho, aquele movimento que começou pela redução do preço da passagem e acabou eclodindo em pedidos de volta da ditadura, comecei a ficar muito assustado. Aí senti essa necessidade de escrever um livro dizendo o que foi a ditadura", ele conta. A memória do pai, a perda da memória da mãe e o nascimento de seu primeiro filho se uniram para formar este livro.
Neste vídeo gravado com Marcelo Rubens Paiva, o autor fala mais sobre a escrita do romance. Confira:
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