Junho é o mês do Orgulho LGBT, e nunca antes tivemos tanta representatividade na música, TV, cinema e, claro, na literatura. Mas ainda temos muito a fazer pela comunidade gay, lésbica, bissexual e transexual. Pensando nisso, selecionamos vinte livros clássicos, contemporâneos, estrangeiros e nacionais com personagens ou autores LGBT. Confira!
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1. Fera, de Brie Spangler
Fera é o primeiro livro protagonizado por uma personagem transexual lançado pela Editora Seguinte. Dylan é um garoto de quinze anos que sempre sofreu por conta de sua aparência: ele é mais alto e tem mais pelos do que qualquer outro menino da sua idade. Quando conhece Jamie, uma menina linda e inteligente, se apaixona quase instantaneamente. Os dois se aproximam cada vez mais, porém Dylan não sabe de início que Jamie é uma garota trans. Agora Dylan vai ter que decidir entre esconder seus sentimentos por medo do que os outros podem pensar, ou enfrentar seus preconceitos e seguir seu coração.
2. O pacifista, de John Boyne
O pacifista, de John Boyne, é uma história de amor e de guerra. Inglaterra, setembro de 1919: Tristan Sadler, vinte e um anos, toma o trem de Londres a Norwich para entregar algumas cartas à irmã mais velha de William Bancroft, soldado com quem combateu na Grande Guerra. As cartas, porém, não são o verdadeiro motivo da viagem de Tristan. Ele já não suporta o peso de um segredo que carrega no fundo de sua alma, e está desesperado para se livrar desse fardo, revelando tudo a Marian Bancroft. Enquanto reconta os detalhes sombrios de uma guerra que para ele perdeu o sentido, Tristan fala também de sua amizade com Will, desde o campo de treinamento em Aldershot, onde se encontraram pela primeira vez, até o período que passaram juntos nas trincheiras do norte da França. O leitor testemunha o relato de uma relação intensa e complicada, que proporcionou alegrias e descobertas, mas também foi motivo de muita dor e desespero.
3. Middlesex, de Jeffrey Eugenides
Calíope Stephanides nasceu duas vezes: em 1960 como uma bebezinha, e em 1974 como um menino adolescente, numa sala de emergências. Morando em Berlin, Calíope começa a relembrar sua própria história, marcada pelo desvio e pela busca de unidade, em uma narrativa que percorre então três gerações da família greco-americana Stephanides. Para entender o que a tornou tão diferente das outras meninas, Calíope precisa investigar segredos de família e a espantosa história de uma mutação genética que atravessa as décadas e a transformará em Cal, um dos mais audaciosos narradores da ficção contemporânea. Sofisticado, recheado de referências literárias, e ao mesmo tempo envolvente, Middlesex é uma reinvenção do épico americano, que alia as tradicionais sagas familiares à mais virtuosa narrativa pós-moderna. Um romance intergeracional e intersexual, vencedor do Pulitzer em 2003.
4. Todos nós adorávamos caubóis, de Carol Bensimon
Em Todos nós adorávamos caubóis, Carol Bensimon narra uma road trip de duas amigas e amantes dos tempos de faculdade, que se encontram depois de anos para realizar uma viagem sonhada durante a adolescência. Nas colônias italianas da serra, na paisagem desolada do pampa, em uma cidade-fantasma no coração do Rio Grande do Sul, o convívio das duas garotas vai se enredando a seu passado em comum e seus conflitos particulares: enquanto Cora precisa lidar com o fato de que seu pai, casado com uma mulher muito mais jovem, vai ter um segundo filho, Julia anda às voltas com um ex-namorado americano e um trauma de infância.
5. Aristóteles e Dante descobrem os segredos do universo, Benjamin Alire Sáenz
Em um verão tedioso, os jovens Aristóteles e Dante são unidos pelo acaso e, embora sejam completamente diferentes um do outro, iniciam uma amizade especial, do tipo que muda a vida das pessoas e dura para sempre. E é através dessa amizade que Ari e Dante vão descobrir mais sobre si mesmos - e sobre o tipo de pessoa que querem ser.
6. Você é minha mãe?, Alison Bechdel
Em Fun Home, a graphic-novel que alçou Alison Bechdel ao estrelato nos quadrinhos, a autora falava da relação conturbada com o pai, um professor de literatura e gay enrustido que cuidava ainda de uma agência funerária situada na casa da família. A essa história, Bechdel intercalava a narrativa de suas descobertas intelectuais e sexuais - aos dezenove anos, a autora contou à família que era gay -, numa reflexão sobre gênero, família e morte. Você é minha mãe? é uma continuação de Fun Home, e Bechdel segue na trilha de seu passado, investigando agora a relação com a mãe, uma atriz amante de música e literatura presa a um casamento infeliz. Num relato emocionante e divertido, a autora se debruça sobre o abismo que a separa de sua mãe - que parou de tocar ou beijar a filha antes de dormir, “para sempre”, quando ela tinha sete anos - em busca de respostas e de novas perspectivas para o futuro de ambas.
7. Queer, de William S. Burroughs
Um dos grandes nomes da geração beat, William S. Burroughs retrata em Queer a crise de abstinência das drogas e a paixão obsessiva homossexual do seu alter ego William Lee. Embora tenha sido escrito em 1952, Queer só veio a público mais de três décadas depois por causa de sua explícita temática homossexual. A atmosfera frenética e o ritmo alucinado marcam a narrativa e os monólogos do protagonista, antecipando o estilo visceral que estaria presente em toda a produção literária de Burroughs. Este volume ainda conta com a introdução do autor à primeira edição do livro, de 1985.
8. Minha querida Sputnik, de Haruki Murakami
Em Minha Querida Sputnik, Haruki Murakami nos apresenta um Japão de restaurantes sofisticados e cores vibrantes, e nos leva ao centro de um triângulo amoroso arrebatador e, ao mesmo tempo, incomum. K. é um jovem professor que vive em Tóquio e é apaixonado por Sumire, sua melhor amiga, uma garota que largou os estudos para se tornar escritora. Mas a chegada de Miu, empresária bem-sucedida e casada, muda o destino de todos. Sumire é tomada por uma paixão avassaladora e, seguindo Miu aonde ela for, acaba criando para si uma armadilha aparentemente sem saída. E K., fascinado por Sumire e nunca correspondido, fará o impossível para salvá-la.
9. Orlando, de Virginia Woolf
Nascido no seio de uma família de boa posição em plena Inglaterra elisabetana, Orlando acorda com um corpo feminino durante uma viagem à Turquia. Como é dotado de imortalidade, sua trajetória então atravessa mais de três séculos, ultrapassando as fronteiras físicas e emocionais entre os gêneros masculino e feminino. Suas ambiguidades, temores, esperanças, reflexões - tudo é observado com inteligência e sensibilidade nesta narrativa de Virginia Woolf que, publicada originalmente em 1928, permanece como uma das mais fecundas discussões sobre a sexualidade humana. Esta edição da Penguin-Companhia inclui introdução e notas de Sandra Gilbert, especialista em estudos de gênero e literatura inglesa, e uma brilhante crônica-ensaio de Paulo Mendes Campos, um dos grandes leitores brasileiros da obra de Virginia Woolf.
10. Mil rosas roubadas, de Silviano Santiago
No ano de 1952, dois rapazes se encontram em Belo Horizonte à espera do mesmo bonde. O acaso os transforma em amigos íntimos. Passam-se sessenta anos. Numa tarde de 2010, Zeca, então produtor cultural de renome, agoniza no leito do hospital. Ao observá-lo, o professor aposentado de História do Brasil entende que não perde apenas o companheiro de vida, mas seu possível biógrafo. Compete-lhe inverter os papéis e escrever a trajetória do amigo inseparável. Escrito na tradição literária mineira, Mil rosas roubadas se informa na poesia memorialista de Carlos Drummond, na prosa de Ciro dos Anjos e de Fernando Sabino. Corajoso, Silviano Santiago reúne fragmentos de um discurso amoroso para tematizar mais uma vez a homoafetividade. Se Zeca é seu personagem principal, são muitos os coadjuvantes do mundo pop e erudito, como Vladimir Nabokov, Dorothy Parker, Paulo Autran e Keith Richards. Além de pôr em xeque os limites entre ficção e memória, biografia e autobiografia, este romance à clef oferece ainda o rico testemunho de uma época e de uma amizade excepcional.
11. Fabián e o caos, de Pedro Juan Gutiérrez
Os maiores inimigos de Pedro Juan são a família, o governo e a religião: três poderes que reprimem seu impulso interno de querer experimentar tudo, conhecer tudo, quebrar todas as regras. Pedro Juan - personagem que carrega traços biográficos e o nome do autor - tem prazer em levar uma vida vertiginosa e intensa. Fabián é exatamente o oposto. Frágil, míope, silencioso e homossexual, parece se esforçar para ser invisível. A única coisa que realmente lhe interessa é a música, e ele passa os dias se dedicando aos estudos de piano. O que esses jovens tão diferentes têm em comum é o fato de serem considerados pessoas com graves desvios ideológicos pelo governo cubano. Quando ambos são levados a uma fábrica onde trabalham os párias da revolução, uma amizade improvável surge entre eles, mas a forma como cada um irá encarar essa situação hostil fará com que suas vidas tomem rumos opostos. Nesta história de contrastes, de vitalidade e desespero, dois jovens buscam liberdade diante das ameaças de um regime opressor.
12. O amor dos homens avulsos, de Victor Heringer
No calor de um subúrbio carioca, um garoto cresce em meio a partidas de futebol, conversas sobre terreiros e o passado de seu pai, um médico na década de 1970. Na adolescência, ele recebe em casa um menino apadrinhado de seu pai, que morre tempos depois num episódio de agressão. O garoto cresce e esse passado o assombra diariamente, ditando os rumos de sua vida. Essa história, aparentemente banal, e desenvolvida com maestria ficcional e grandeza quase machadiana por Victor Heringer. Dono de uma prosa fluente e maleável, além de uma visão derrisória da vida, o autor demonstra pleno domínio na construção de cenas e personagens. E emociona o leitor com sua delicada percepção da realidade.
13. Olívia tem dois papais, de Márcia Leite
Filha adotiva de Raul e Luís, Olívia é uma menina curiosa e alegre, que adora usar palavras complicadas e desfiar grandes raciocínios quando conversa com seus dois pais. "Intrigante" é uma das palavras de que Olívia gosta muito, isso porque todas as coisas do mundo são muito intrigantes para ela. Olívia quer saber, por exemplo, como seu papai Raul sabe brincar de boneca e seu papai Luís cozinha tão bem. Quer saber também como vai aprender a usar maquiagem e sapatos de salto alto, se na casa dela não mora nenhuma mulher. A família da Olívia é um pouco diferente, e totalmente "encantadora", outra palavra que ela adora usar.
14. Sergio Y. vai à América, de Alexandre Vidal Porto
Narrado por um experiente e sofisticado psiquiatra, Sergio Y. vai à América coloca diante do leitor duas questões fortes do nosso tempo: o poder do testemunho (e o que ele pode esconder em sua aparente carga de veracidade) e o deslocamento. No caso, sexual. O jovem Sergio Y., bem-nascido e aparentemente sem grandes dramas na sua ainda curta existência - embora se considere infeliz -, é um “paciente interessante”, como diz o narrador. Frequenta o consultório regularmente, rememora aspectos da sua formação familiar, mas um dia desaparece para sempre, abandonando o tratamento. A esse mistério se acrescenta outro, acachapante, que tira a aparente serenidade do psiquiatra e o faz incursionar em uma busca que tem tanto de detetivesca quanto de psicanalítica. Com elegância e precisão, Alexandre Vidal Porto constrói um romance que é, a um só tempo, uma investigação sobre os caminhos da sexualidade e uma intensa reflexão sobre aquilo que falamos ou deixamos de falar.
15. Muchacha, de Laerte Coutinho
Laerte Coutinho é uma das maiores quadrinistas do país, e sua história já virou documentário, Laerte-se, onde discorre sobre questões de gênero, sexualidade, e como se transformou de "o" Laerte para "a" Laerte. Um de seus livros lançados pela Quadrinhos na Cia. é Muchacha, série publicada originalmente na Folha de S.Paulo que é, nas palavras da autora, o primeiro "graphic-folhetim" de sua carreira. Tendo como mote os bastidores de um programa de tevê, Laerte, ao mesmo tempo que cria uma elaborada - e divertida - revisão dos seriados de aventura da década de 1950, também faz uma espécie de resgate afetivo de suas memórias de infância.
16. Do fundo do poço se vê a lua, de Joca Reiners Terron
Do fundo do poço se vê a lua conta a história de Wilson e William, gêmeos nascidos em São Paulo nos anos finais da ditadura. Órfãos de mãe e criados pelo pai, ator, os meninos são treinados para atuarem juntos, mas as brincadeiras da infância, porém, revelam que a semelhança dos irmãos é apenas física. William é violento, taciturno e masculino, enquanto Wilson é feminino e dono de inteligência tão sagaz quanto compulsiva. A espinha dorsal do romance é a batalha de Wilson para livrar-se da imagem espelhada do irmão e se transformar numa figura feminina inspirada pelo objeto de sua obsessão, a rainha egípcia Cleópatra, sobretudo como encarnada no cinema por Elizabeth Taylor. Após uma tragédia que separa os gêmeos, uma trama surpreendente envolvendo trocas de sexo, assassinatos e perda de memória conduzirá a história até a enigmática cidade do Cairo. Incitado por um cartão-postal enviado pelo irmão desaparecido, William irá à sua procura e tentará resolver o mistério de seu paradeiro e de sua identidade.
17. O ministério da felicidade absoluta, de Arundhati Roy
Vinte anos depois de lançar seu primeiro romance, O Deus das pequenas coisas, vencedor do Man Booker Prize de 1997, Arundhati Roy volta à ficção com O ministério da felicidade absoluta, que será lançado no final de junho. Pela emocionante história do jovem Aftab, que mais tarde se torna a bela Anjum, descortina-se uma Índia repleta de conflitos e beleza. Dos bairros sinuosos e pobres aos shoppings reluzentes de Delhi, passando pelas montanhas nevadas da Kashmira, onde guerra e paz se mesclam em ciclos de vida e morte, a vida de Anjum transcorre e, com ela, a história de um país. A um só tempo história de amor e protesto, este romance tem como heróis pessoas que foram destruídas pelo mundo no qual vivem e em seguida resgatadas por atos de amor e esperança. Aos entrelaçar vidas complexas, este romance arrebatador e profundamente humano reinventa o que um romance pode ser e fazer. E demonstra a cada página o talento de Roy para contar histórias.
18. Fedro, de Platão
Fedro é universalmente reconhecido como um dos textos mais profundos e belos de Platão, considerado um dos pais da filosofia. Tomando a forma de um diálogo entre Sócrates e Fedro, seu assunto principal é o amor (especialmente o homoerótico). Em seguida, porém, a conversa muda de direção e volta-se para uma discussão acerca da retórica, que deve ser baseada na busca apaixonada pela verdade, aliando-se assim à filosofia. Esta nova edição de Fedro, com tradução direta do grego, apresentação e notas de Maria Cecília Gomes do Reis, inclui um ensaio sobre retórica inédito no Brasil de autoria do americano James H. Nichols Jr., um dos maiores especialistas mundiais na obra de Platão.
19. Guadalupe, de Angélica Freitas e Odyr
Guadalupe, quadrinho de Angélica Freitas e Odyr, não é uma história exatamente sobre relações amorosas. Mas uma de suas personagens, o tio travesti da protagonista, rouba a cena. Às vésperas de completar trinta anos, tudo o que Guadalupe quer é esquecer seu trabalho no sebo de Minerva, seu tio travesti. É ela quem pilota um furgão velho pela Cidade do México, apanhando coleções de livros que Minerva arremata por poucos pesos de famílias enlutadas. Em seu aniversário, Guadalupe só quer sair para beber e dançar com amigos. Mas um telefonema muda seus planos. No meio do pior engarrafamento do ano - ela aproveita engarrafamentos para ler os clássicos -, fica sabendo que a avó, Elvira, uma velhinha intrépida, morreu ao chocar sua scooter com uma banca de tacos sobre duas rodas. Como Guadalupe tem o furgão, ela é a única que pode cumprir o último desejo da avó: um enterro com banda de música em Oaxaca, onde nasceu. Guadalupe embarca com Minerva e sua inseparável poodle, mais o caixão, rumo à cidade. No caminho, contrariando a opinião de Guadalupe, Minerva dá carona a um exótico rapaz, que se diz guatemalteco, e os problemas começam. Uma aventura inusitada ao coração do México, onde um embate contra as forças do mal é tudo menos o que parece ser.
20. Tash e Tolstói, de Kathryn Orsmbee
Tash e seus melhores amigos produzem uma websérie no YouTube chamada Famílias Infelizes, uma adaptação moderna de Anna Kariênina, de Tolstói. Do dia para a noite, a série viraliza e acaba sendo indicada a um prestigiado prêmio. Agora, Tash terá a chance de encontrar Thom, um garoto de quem é a fim há muito tempo — porém, ela vai ter que descobrir como contar para ele que é assexual.
21. Supernormal, de Pedro Neschling
Beto leva uma vida normal, dividida entre um emprego no escritório de advocacia da mãe, almoços com os colegas de trabalho e os discos das suas bandas de rock preferidas. Até que seu mundo vira de cabeça para baixo quando depara com Helena, pessoa de quem foi melhor amigo na adolescência e que hoje é uma mulher trans. Se em um primeiro momento Beto fica obcecado em compreender a transição que ela enfrentou, logo passa a questionar outra realidade: a sua própria. Revendo privilégios e preconceitos, ele descobre que precisa escolher um lado. O preço disso, porém, pode ser mais alto do que imagina.
Acompanhe no blog da Companhia das Letras a programação especial que faremos para a semana! Em breve, teremos mais indicações de livros com temática LGBT.