Além do ponto final

17/08/2018

por Iris Figueiredo

Eu sempre quis escrever histórias, mas nunca cheguei a considerar que seria possível fazer isso ainda jovem. Para o meu eu de treze anos, todos os escritores tinham no mínimo sessenta anos ou já estavam mortos. Foi na minha primeira Bienal do Livro que acabei com essa ideia sacralizada do escritor: lá conheci autores, conversei com eles e senti a literatura muito mais próxima da minha realidade.

Quando ainda estava na escola, a Bienal era um evento muito aguardado. Mesmo aqueles que não gostavam de ler se animavam com a possibilidade de encontrar celebridades ou simplesmente ter um dia livre de aulas. Guardo memórias muito fortes dessa época, tanto das bienais em que pude ir, quanto daquelas em que não fui.

Anos depois, voltei à Bienal como autora, com Céu sem estrelas como o livro mais vendido do estande do Grupo Companhia das Letras, mas acho que isso não seria possível sem conversar com os leitores. Foi um impulso que tive na minha primeira Bienal como autora — depois de ver meus livros em um estande, me perguntei como podia fazer para que aquelas pessoas escolhessem minha história entre tantas. Resolvi conversar com elas e vendi os vinte exemplares que tinha em menos de uma hora.

Essa foi a quarta vez que apresentei meus livros em uma Bienal, mas guardei um ensinamento daquelas vezes em que frequentei o evento apenas como leitora: escrever para adolescentes é estar presente depois do ponto final. Escrever é a parte principal do meu trabalho, mas escrevo para leitores que ainda estão se formando e se entendendo. Muitas vezes sou a primeira escritora que conhecem pessoalmente, meu livro pode ser um dos primeiros que leem por iniciativa própria, sem intermédio dos pais ou da escola, e há uma responsabilidade enorme nisso. Gosto de tornar a imagem do escritor real e próxima, o que transforma a Bienal em um momento perfeito para me comunicar com aqueles que vão ler meus livros.

Escrevo para mim, mas publico porque quero ser lida. Por isso tiro férias durante a Bienal, passo os dez dias de feira em pé, conversando com leitores por horas, assinando livros e contando um pouco sobre aquilo que escrevi. Faz parte do processo de mostrar que a leitura é acessível e pode contar uma realidade bem próxima àquela de quem me lê e vem conversar comigo — e quando essa pessoa abre o livro, já tem uma relação íntima com aquela história.

É incrível e um pouco inacreditável ser autora do livro mais vendido de uma editora do porte da Companhia das Letras em um evento tão grande quanto a Bienal. Não existe fórmula mágica para vender muitos livros, não é algo que veio de repente. É resultado de anos de trabalho tentando me aproximar dos leitores e, mais especificamente, desses dez dias em que me dediquei a mostrar às pessoas uma história que acredito.

Céu sem estrelas me trouxe muitos desafios. Passei anos tentando escrever esse livro da melhor forma possível, acompanhada de personagens que me ensinaram muito sobre quem sou como pessoa e escritora. Ir à Bienal e dividir essa história foi só um desejo natural de querer que esse livro atingisse o maior número possível de leitores, e acho que consegui alcançá-lo. Agora a história da Cecília e do Bernardo está por aí e todos os dias recebo novas mensagens de alguém que resolveu dar uma chance ao livro e dividir sua experiência de leitura comigo.

Escrever é compartilhar e estou feliz por estar dividindo minha história com tantas pessoas que acreditam nela.

***

Iris Figueiredo nasceu em 1992, na região metropolitana do Rio de Janeiro. É formada em produção editorial pela UFRJ e pós-graduada em transmídia. Já atuou em diversas áreas do mercado editorial e manteve por muitos anos o blog Literalmente Falando. É autora da duologia Confissões On-line: Bastidores da minha vida virtual (Generale, 2013) e Entre o real e o virtual (2015). Em 2018, publicou Céu sem estrelas pela Editora Seguinte.

 

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