Por Ana Cristina Zahar
Nem sei por onde começar falando do Luiz Alfredo... Ele e meu pai tiveram uma amizade de beleza ímpar,que nasceu nos livros e se projetou nas nossas vidas, nos envolvendo a todos, Lívia, minha mãe e todas asgerações.
Lembro bem quando Garcia-Roza trouxe seu primeiro livro na editora. Era o final da Zahar Editores, e Freud e o inconsciente foi dos últimos títulos que lançamos ali, até dezembro de 1984. A seguir fundaríamos a Jorge Zahar Editor, e assim que essa primeira edição se esgotou, GR trouxe o livro de volta para nossa nova casa editorial. Além desse best-seller (é reimpresso continuamente até hoje!), escreveu muitos outros livros emtorno do saber psicanalítico, como o poético Palavra e verdade e o originalíssimo O mal radical em Freud,culminando com os três volumes de uma Introdução à metapsicologia freudiana, publicados entre 1991-95.Tive a sorte de ter editado todos esses livros, marcados por seu rigor teórico e sua prosa elegante e envolvente.
Toda semana Luiz Alfredo vinha à editora na rua México, e almoçávamos todos juntos. A uma certa alturacontratamos uma cozinheira e começamos um refeitório no último andar do prédio, que ele adorava e a quebatizou de Maxim’s. Cada original novo que ele trazia era comemorado com um super almoço no nosso Maxim’s! Mas o quarto e último volume da Metapsicologia... nunca viria; em sua escrita Spinoza fora superado pelo Espinoza. E esse foi um capítulo especialmente bonito na relação entre Luiz Alfredo e Jorge, que fez o contato de seu autor com o Luiz, na Companhia das Letras, onde sua nova criação, o detetive de Copacabana, pôde conhecer o imenso sucesso merecido.
Ainda haveria tanta coisa a dizer desse homem magnífico, grande amigo, grande professor e pensador, e também de como fiquei tocada pelo amor de Livia cuidando de Luiz Alfredo diariamente nesse ano de CTI, de quanta falta ele nos faz com sua visão lúcida, sempre tão humana, cheia de bondade. Perdemos hoje um grande Homem, dos maiores.